sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

LADRÃO DOS CORREIOS

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LADRÃO DOS CORREIOS


 

 

O carteiro estava sendo roubado. Fazia entregas com a moto amarela dos Correios e foi rendido por dois homens que dirigiam uma moto sem placa.

- Passa o bagulho que esta levando.

- Só tem este pacote.

- É ele mesmo.

Os meliantes pegaram o pacote e saíram rumo ao morro. Lindomar, nome do carona, reclamou:

- Eta pacote pesado!

- Deve valer muito. Ouvi o professor falar que era valioso. Falou Gentil, apelido do motorista.

- Pesa demais... Insistiu Lindomar.

- Deve ser coisa boa. Reforça Gentil. O professor quando perguntou pro porteiro se o pacote tinha chegado, estava preocupado com a muamba, eu ouvi.

Chegaram ao barraco do Morro do Gringo. Era uma favela, fruto de uma invasão comandada por um tal de Gringo, pois falava arrastado. Só morava trabalhador. O pessoal do crime ali morava e se escondia sem dar na vista. Claudinho, o gerente, não queria a Lei subindo, para tanto proibia roubos ou aprontos na vizinhança, nem que cheirasse ou fumasse em público, muito menos que se andasse mostrando armas.

- Tinha que ser discreto, assim ele dizia.

Ali ele recebia a droga, embalava, distribuía.

Lindomar e Gentil eram “mulas”, tinha mais gente fazendo este serviço. Levavam as drogas a outras comunidades, de moto ou a pé pela mata que rodeava. Com o dinheiro viviam no barraco, quase caído e pagavam o vicio. Quando não tinha serviço roubavam porcarias.

Entraram onde chamavam de sala, na verdade só tinha um sofá velho. Colocaram o pacote sobre ele e abriram com bastante ansiedade.

O papel amarelo cobria uma caixa, esta bem lacrada com fita adesiva grossa. Pegaram uma faca e romperam a fita. Depararam com oito livros encadernados de vermelho.

- Que bosta! Falou Gentil.

- Que fria, completou Lindomar. O que a vente faz com estas porcarias.

-São livros, retrucou o companheiro, deve servir para alguma coisa. Vamos ver.

- Tá escrito em estrangeiro, falou com desprezo Gentil. Não sei o que é.

- Vai se saber?

Passava Guto pela rua. Era um rapaz da comunidade que fazia vestibular. Ali imperava a lei do silencio, ninguém via nada e, nada acontecia. Claudinho era bravo. Ninguém mexia com ninguém.  Nada se falava. Seguindo alei era um lugar calmo e seguro.

- Guto, vem cá, falou Lindomar.

- O que é?

- Que livros são estes?

- Você roubou aonde?

- Eu achei.

- Livro de filosofia? Achar na rua? Conta outra.

- Tá, fecha o bico. É livro de filosofia?

- É, e é de coleção, está encadernado.

- Encadernado?

- Sim, são todos com a mesma capa. Tem um carimbo Dr. Gusmão. É da biblioteca deste homem.

- É por isso que são vermelhos? Indagou Lindomar.

- Sim.

- Vale alguma coisa, continuou o ladrãozinho intrigado.

- E lá eu que sei, te vira. E Guto foi embora.

- Que fria, falou Gentil. Vamos ver se o Cigano troca por algum barato.

- Vamos lá.

Cigano, o traficante da comunidade vizinha, recebia ordem do Claudinho e tinha sua freguesia. Os dois meliantes faziam entregas para ele e, compravam dele também.

- Cigano, olha este bagulho, falou Lindomar.

- Livros, pra que eu quero isto.

- São encadernados, reforçou.

- E daí?

- Deve valer uma nota.

- Não aqui, te manca. Vocês ainda têm credito, se quiserem levem esta farinha e tragam dinheiro. Este bagulho não interessa.

Pegaram o pó, voltaram para o barraco. Sentaram olhando para nada. O rádio tocava, quando deu a noticia:

- Roubo inédito nos Correios. Tem havido vários roubos nos Correios, este chama atenção pelo conteúdo. Foram roubados livros raros de filosofia. Eram da biblioteca de um conhecido filósofo Dr. Gusmão, já falecido. A policia acredita que seja um furto encomendado por algum colecionador, já que se trata de raridades.

- Não falei que valia muito? Flou Lindomar.

- Mas não vende, completou Gentil. Vamos jogar fora o bagulho.

- Aonde?

- No lixo.

- Tá louco? Dá bandeira.

- Vamos enterrar.

- É fria, vale dinheiro.

- Ninguém compra.

- A banca de jornal vende livros, será que não compra?

- Estes eu nunca vi.

Ficaram olhando para os livros. Quando Gentil falou:

- Sujou. Claudinho tá vindo e com capangas.

- Vichi! Vamos esconder o negócio. Falou Lindomar já com medo.

- Aonde?

-Em baixo da cama.

Claudinho entrou chutando a porta e falando:

- Vocês tão dando bandeira.

Os dois tremiam e estavam pálidos, desfigurados, não conseguiam falar.

- Aonde estão os livros.

- Ali, apontou Gentil para debaixo da cama.

- Pega logo, falou Claudinho.

Olhou para os livros e continuou:

- Agora pé de chinelo rouba livros. E ainda na boca da comunidade. Querem que a Lei suba o morro?

- Não, falaram os dois juntos, se desculpando.

- Vocês não prestam pra nada. Desta vez passa, mas da outra, fez sinal de cortar o pescoço.

Os dois continuavam tremendo.

- Vão fazer uma entrega no Buraco da Onça pra pagar a cagada, entrega direito e vê se voltam vivos; seus tranqueiras.

Falaram sim, tremendo e foram correndo pegar a encomenda para entregar.

- Tição, põe os livros no meu carro, falou para o segurança.

Chegou na hora da janta na casa. A casa do Gerente fica no ponto mais alto do morro. É uma casa boa e com visão de estratégica para fugir sob o perigo de qualquer ameaça. Desceu carregando os livros.

- Como pesa!

Foi até a estante da sala, arrumou direitinho numa prateleira. Deu dois passos para trás, olhou e sorriu. Falou consigo mesmo:

- Ficou bonito, vai ficar de enfeite, a lei não sobe aqui mesmo. Meus amigos vão achar que sou estudado. Gritou:

- Moooooo! Vem cá!

- Que foi, falou Jeniffer, sua companheira.

- Olha, aí...

- Tô olhando, desde quando você lê?

- Mas não tá bonito?

- Tá, deixa aí completou a esposa.

- Porque você não lê? Cutucou Claudinho.

- Tu tá viajando? Vai passear...

Ambos foram jantar.

 

07/12/2012

 

 

 

 

 

 

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