terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O PATINETE VERMELHO

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O PATINETE VERMELHO


 

Dia 25 de dezembro de 1952, com sete anos de idade saí, como todas as crianças da vizinhança, para exibir o presente de Natal. Ganhávamos um presente só, eram tempos de crise política e econômica no País e a oferta de brinquedos muito limitada.

Na verdade queria uma bicicleta. Era bem mais cara que o Patinete Vermelho com que fui presenteado, mesmo sendo um fator limitante, não creio que tenha sido o preço que motivou a preferência pelo referido presente. O Patinete oferecia menos risco de acidentes. Explico:

Dona Déa, minha mãe nunca teve experiência em criar filhos, sua mãe morrera quando tinha sete anos e, além da falta de contato com recém-nascidos, não tinha a quem recorrer, já que do lado de meu pai, minha avó morava na Fazenda da família em São João Novo, próximo a São Roque, e além de se idosa e não era muito afetuosa com minha progenitora. Minhas tias paternas moravam também no Sitio e, também não se davam bem com minha mãe. Meu pai caçula e temporão, supermimado e de família de posse, casara com filha de imigrantes pobres. Causando certo afastamento e pouco contato.

Da parte materna, a família vivia em Araraquara, também de difícil convívio devido a distancia, as viagens eram de trem e demoradas.

Quem acudiu quando nasci foi minha Madrinha Maria, vizinha de meus pais, que já criara o Silvinho e sua filha Maria Ângela nasceu no mesmo ano. Creio que sobrevivi devido a ela.

Quando mudamos para Alameda Lorena, o contato com a madrinha ficou mais difícil e fiquei sujeito a meu pai e minha mãe. Dois pensamentos diferentes. Ele leitor de Platão, acreditava que a criança já nascia com conhecimento de outra vida e, deveria desenvolvê-lo aos poucos, seguiu da própria cabeça a seguinte orientação: Ele aprende tudo por si e por sua experiência, devo fornecer o mínimo de orientação, já que ele já sabe. Fez minha mãe ler a República durante minha gestação, o que duvido que tenha obedecido, e evitava falar de seus gostos; como estava aprendendo a ler, me oferecia os livros que encontrava, para que eu os lesse e aprendesse sem erros por eles.

Isto fez minha mãe insegura. O medo que me machucasse e fosse responsabilizada era grande, lembro-me que: alguns meses antes; fomos passar um final de semana em Atibaia. Havia uma árvore que todas as crianças que estavam na Estancia Lince subiam e desciam, o primeiro galho era quase rente ao solo e permitia que o vegetal fosse escalado.  Fui proibido por segurança e, o pequeno homenzinho de calças-curtas ficou só a olhar.

A bicicleta deve ter provocado calorosas discussões, até que apelaram para o Patinete, o qual estreava no dia 25.

Dia seguinte, como parte de minhas obrigações, creio que também retiradas da leitura de Platão e, rigorosamente cobradas, fui buscar o pão. A padaria localizava-se a cerca de quinhentos metros, peguei meu veiculo e fui buscar o filão. O pão era chamado na época de filão, era uma baguete atual, com mais miolo e mais larga, o suficiente para uma família de três pessoas.

O pão era embrulhado em papel de padaria, que mal o acomodava, não forneciam saquinhos de papel para aquele tipo de mercadoria. Sabia que não podia colocar o pão no sovaco que era anti-higiênico, apesar dos franceses assim o fazerem, mas já havia sido repreendido por isso. Não dava para leva-lo segurando o patinete com uma mão, o pão mal acomodado com outra e dando impulso com os pés. A solução foi voltar segurando responsavelmente o pão com uma das mãos, o patinete com a outra e andando, torcendo para que ninguém me visse e fizesse gozação.

Não lembro que fim levou o Patinete Vermelho, mas até hoje não sei andar de bicicletas ou subir em árvores.

 

Tony-poeta

25/12/12

 

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