O
RAMO DE ARRUDA
Estava
um senhor parado com seu carro na Avenida do Estado, com um ramo de arruda na
orelha. Olhava indagativo ao motor do veiculo, até meio agitado.
O
trânsito estava lento; na época havia poucos veículos e não chegava a dar
congestionamento. Ele olhava preocupado, vez ou outra colocava a mão no
galhinho ancorado na orelha, como se este fosse resolver o problema.
O hábito
da arruda vinha das benzedeiras, muito comuns na época, um misto de cultura
africana com a católica; onde o “passe” era feito borrifando agua com a planta,
liquido que era obtido a embebendo em um copo e rezando simultaneamente o Pai
Nosso. Nos anos sessenta era difícil achar quem nunca tivesse visitado uma
dessas senhoras.
Já o
fato de sair com a arruda no carro, mostrava a angústia do motorista. Por certo
sabia que o velho veiculo estava sem condições, alguma coisa importante fez com
que saísse assim mesmo, e levou o vegetal mágico como proteção.
Hoje teria
certamente o carro guinchado, depositado num pátio, com uma pesada cobrança
monetária, por dirigir um veiculo sem manutenção, acabaria ficaria sem o carro,
dado o tamanho da multa; naquele tempo a história deve ter corrido diferente.
Alguém se apiedou, sabendo mecânica ajudou a colocar a velharia em movimento e,
depois de não muito tempo, nosso crédulo deve ter continuado a tarefa proposta;
coisa que o preocupado homem atribuiu à proteção do galho de arruda.
A solidariedade
é inversamente proporcional ao tamanho da população. Hoje não vejo mais ninguém
com arruda na orelha.
31/12/12
Tony-poeta
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