domingo, 30 de dezembro de 2012

O RAMO DE ARRUDA


O RAMO DE ARRUDA


 

Estava um senhor parado com seu carro na Avenida do Estado, com um ramo de arruda na orelha. Olhava indagativo ao motor do veiculo, até meio agitado.

O trânsito estava lento; na época havia poucos veículos e não chegava a dar congestionamento. Ele olhava preocupado, vez ou outra colocava a mão no galhinho ancorado na orelha, como se este fosse resolver o problema.

O hábito da arruda vinha das benzedeiras, muito comuns na época, um misto de cultura africana com a católica; onde o “passe” era feito borrifando agua com a planta, liquido que era obtido a embebendo em um copo e rezando simultaneamente o Pai Nosso. Nos anos sessenta era difícil achar quem nunca tivesse visitado uma dessas senhoras.

Já o fato de sair com a arruda no carro, mostrava a angústia do motorista. Por certo sabia que o velho veiculo estava sem condições, alguma coisa importante fez com que saísse assim mesmo, e levou o vegetal mágico como proteção.

Hoje teria certamente o carro guinchado, depositado num pátio, com uma pesada cobrança monetária, por dirigir um veiculo sem manutenção, acabaria ficaria sem o carro, dado o tamanho da multa; naquele tempo a história deve ter corrido diferente. Alguém se apiedou, sabendo mecânica ajudou a colocar a velharia em movimento e, depois de não muito tempo, nosso crédulo deve ter continuado a tarefa proposta; coisa que o preocupado homem atribuiu à proteção do galho de arruda.

A solidariedade é inversamente proporcional ao tamanho da população. Hoje não vejo mais ninguém com arruda na orelha.

 

31/12/12

Tony-poeta

 

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