quinta-feira, 28 de março de 2013

ESTRUPICIA, A DOMESTICA



 

ESTRUPICIA, A DOMÉSTICA.



Certa vez minha mãe ganhou de presente uma empregada. Dona Deia sempre foi especialista em arrumar pessoas estranhas para trabalhar, mas esta era dada. Coisa inédita, e não tinha ninguém no mundo.
Era uma moça jovem, o seu nome não me lembro, só o apelido a que nos referíamos a ela: Estrupicia. Não tinha nem um metro e meio de altura, necessitava de uma bancada para arrumar a louça e acessar os armários; fazia todo o serviço atrapalhado, daí o apelido, e pouco falava.
Posteriormente com a reportagem dos Gabirus achei que ela se enquadraria, mas ela foi dada muito antes.
Morávamos na Av. Brigadeiro Luiz Antônio defronte a Rua Batatais, no primeiro andar. Logo descobrimos que a moça não andava de elevador. Até aí tudo bem, poderia usar a escada. Mas também tinha medo de escuro. A iluminação dos pisos era simultânea, de modo que um andar acendendo a luz da área de circulação acendia todas as luzes de todos. O interruptor ficava junto à porta. Ali ela não chegava, era escuro.
A pobre moça ficava junto à janela que iluminava a escada esperando acender a área de circulação, uma vez iluminada entrava correndo no apartamento antes que apagasse novamente.
Não sei o salário que minha progenitora pagava, creio que não era muito; a moça só saia de casa para ir à feira próxima. Comprava vestidos. Toda semana ia até a barraca de roupas, arrumava um vestido, isto após pedir um adiantamento, o que deixava Dona Deia enfezada, voltava, fazia todo o ritual da luz, entrava e só saia na semana seguinte. E, não aprendia o serviço do apartamento de cento e vinte metros quadrados; portanto um tanto grande e com muita coisa a fazer. Todos nós trabalhávamos fora e realmente necessitávamos do serviço.
Certo dia a Estrupicia sumiu, foi doada. Sim, minha mãe doou. Dona Deia costumava ir às sextas feiras tomar banho de defesa com Pai Ismael perto do zoológico; com muita lábia, que lhe era própria, fez o Pai de Santo aceitar a moça para morar no terreiro. Resolveu o problema já que a coitada por não ter família não tinha para onde ir. Assim minha progenitora repassou a doação.
Não sei quanto tempo ela ficou por lá, mas alguns meses depois Da. Deia falou que não a viu quando tomava seu banho espiritual. Nunca mais ouvimos falar da pobre moça.

29/03/13

Tony-poeta


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