segunda-feira, 22 de abril de 2013

AMBIVALÊNCIA E AMOR



 

AMBIVALÊNCIA E AMOR


Um ex-preso politico, em um artigo que lia no final de semana, demonstrava não ter raiva de seus torturadores; os torturadores, por sua vez, demonstravam afeição pelos torturados. Hanna Arendt considera Eichmann um cidadão pacato e pai de família. Estas declarações causam espanto e tratados sociológicos e filosóficos foram escritos tentando analisa-los.
 Não li os tratados. Procurei no Vocabulário de Psicanalise o que tinha a me oferecer: Em resumo deixava claro, a coexistência de amor e ódio na mesma pessoa, como mecanismo de formação de neuroses. Alertava que Freud no final da vida deu um valor maior à ambivalência, sem escrever um artigo justificando suas observações.  
Não me pareceu em nenhum dos artigos citados, se tratarem a pessoas submetidas a franca neurose, ao contrário, as ponderações faziam acreditar em pessoas compatíveis com a vida que julgamos padrão, sem distorções.
Imaginei então ao contrario: como seria uma pessoa não ambivalente diante de uma perda?
A conclusão foi a seguinte:
Caso só houvesse ódio, [reparem que não reconhecer como igual não é ódio, o ódio só existe onde pode haver uma identificação.] a tendência seria a destruição completa da pessoa, cortando-a aos pedaços e dilacerando-a. {o canibalismo implica em admiração associada e, não existiria}. Portanto o ódio exclusivo provocaria destruição total do oponente, incluindo seu corpo. [Vemos este episódio em algumas guerras, por exemplo, Kadaffi na Líbia].
Em se tratando só de amor, sem nenhum ódio; a separação do ente amado, por qualquer motivo, sendo definitiva, levaria a pessoa a uma melancolia irreversível. O excesso de amor sem contraponto geraria uma perda irreparável [narcísica], sem resolução para o sujeito levando-o a morte por inanição. [o suicídio tem que ter um pouco de culpa, senão não seria realizado] A melancolia, conforme Freud tem seu modelo no luto e a pessoa fica como não vivente no mundo, dedicando-se totalmente ao ente perdido, tentando exclui-lo em sua vida mental.
Portanto, o amor sem uma dose de ódio seria também doentio e incompatível com a vida.
Concluindo: Somos obrigatoriamente ambivalentes. Se esta situação vai evoluir ou não para uma neurose depende apenas ao peso de amor e ódio que damos a determinada pessoa. Na vida normal, obrigatoriamente amamos e odiamos.
Vamos aproveitar o amor.
Tony-poeta.

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