domingo, 19 de maio de 2013

GIVANILDO E O FACEBOOK



 

GIVANILDO E O FACEBOOK



Sábado à noite. Givanildo passava seu primeiro final de semana na quitinete no Bairro da Liberdade em São Paulo. Tinha se mudado de Alvinlândia, alugara por meio de um amigo, que já estava na capital há anos, aquele cantinho e começara a trabalhar num escritório.
O ganho não era lá estas coisas, mas estava empregado. Melhor do que ficar trabalhando com seu pai. Ali poderia completar seus estudos, fazer uma pós e arrumar a vida. No interior não tinha mais nada a fazer.
O apartamento estava a ser mobiliado. Tinha olhado alguma coisa, porém precisava que viesse alguém da família para realizar a compra. Não tinha cartão de crédito, nunca comprara a prestação e o registro da carteira era daquela semana; de modo que a moradia tinha apenas uma cama, uma cadeira e uma mesa, o que havia conseguido comprar com o dinheiro que possuía. As roupas ainda estavam na mala e em cima da mesa apenas um laptop, que trouxera do Interior.
Não conhecia ninguém e a cidade o assustava. Desceu, achou o ambiente estranho e mal encarado, comeu um lanche rapidamente na padaria ao lado do apartamento e voltou para seu aposento.
- Ah! Se tivesse em casa estava no bar do Biro tomando minha cerveja, jogando conversa fora. Tá certo que o papo é furado: falar mal dos outros e criticar as meninas, mas é melhor do que ficar aqui sem conhecer ninguém.
Pegou o livro de Administração Financeira, a única coisa que trouxe para ler, leu um capitulo, não prestou atenção em nenhuma palavra.
- Será que fiz bem, pensou ele. Acho que sim. Não vou passar a vida inteira no barzinho de meu pai, mal dá para um. Sem condições. Com este negocio de viajar toda a noite para fazer faculdade roubaram minha namorada. Maldita Beatriz! Mas não servia mesmo. Muito fútil e pobre; mais pobre que eu. Não tenho o que fazer lá. Logo acho meu pessoal aqui. Resolveu ir dormir.
Duas horas depois, após se virar na cama sem parar levantou de novo, já xingando. Maldito lugar:- sem carro, indo e voltando a pé para o trabalho e comendo no quilo ao lado, vai ser duro fazer amizade. Porra de cidade! Dá trabalho até atravessar a rua, parece que vou ser atropelado cada vez que saio. Mas vou ficar nesta porra! Olhou o computador e automaticamente o ligou.
Givanildo não era habituado a usar o computador, a não ser para trabalhos escolares e controle da contabilidade do estabelecimento da família. Tinha um facebook com alguns amigos da faculdade, com os quais nunca tinha se comunicado, alguns amigos da sua cidade que também pouco aparecia e alguns amigos novos do serviço. Destes tinha o seu chefe imediato que passava teclando o dia todo, enquanto ele roía o osso; mandava bastantes mensagens de piadinhas de sacanagem e mulheres peladas, ele achava de um grande mau gosto, mas por falta de que fazer entrou na sua pagina. Ninguém disponível no momento.
Correu a linha do tempo, com poucos amigos tinha muito pouca coisa para se ver.  Correu todas as postagens, nada de interessante, alguns recadinhos entre os amigos, as mulheres peladas e piadinhas do novo chefe e mais nada.
Não tinha sono, pensou: - Se curtir tudo que está aqui, talvez alguém oculto se manifeste e posso trocar um papo. Voltou para o início e foi curtindo um por um. Após teclar nos últimos dez dias sem resultado foi até a torneira, pegou o copinho descartável de agua mineral, que já havia acabado, encheu na torneira. Não tinha filtro; tomou vagorosamente esperando alguém se manifestar.
Não deu resultado. Não apareceu ninguém. Desligou e voltou para a cama.
Uma hora depois, sem conseguir dormir voltou ao computador. –Se descurtir todos, alguém pode notar e aparecer, este negócio de passar o final de semana sem falar com ninguém é um saco, coisa de louco! Voltou à página, desfez a curtição uma por uma, tomou outro copo de agua da torneira e nada. Mandou tudo à merda, deligou o laptop e voltou para cama.
Mais uma hora e levantou decidido, ainda sem dormir. Ligou novamente o aparelho, certificou-se que não tinha nenhum contato no momento, conferiu e não havia postagens novas, ninguém percebeu que ele apagou as curtidas. Resoluto foi até seu perfil e se excluiu em definitivo do facebook xingando: - Este troço não serve para nada!
19/05/13
Tony-poeta



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