quinta-feira, 23 de maio de 2013

RITUAL



 
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RITUAL.


Nos anos cinquenta todas as pessoas se tratavam por senhor e senhora. Compadres também assim se tratavam. Ora quando se dá uma criança em batismo, segundo a tradição, estamos fazendo um acordo com os padrinhos que, em caso de morte dos progenitores estes assumam os cuidados e educação do afilhado. Normalmente o escolhido para apadrinhar uma criança era uma pessoa próxima e com amizade com o pai da mesma. Mesmo assim, o tratamento respeitoso era mantido. As pessoas frequentavam as casas, saiam juntas e sempre senhor e senhora.
Nas grandes cidades, São Paulo, onde cresci ainda se mantinha esta formalidade, indo para o interior, região de São Roque, São João Novo e Araçariguama este comportamento era mais acentuado e, não se passava por outra pessoa sem o cumprimento de Bom Dia ou Boa tarde, geralmente se retirando o chapéu, que os homens usavam na época.
Ao conversar com alguém graduado, um padre, um professor, um médico a formalidade se acentuava, com toda a deferência e respeito pelo cargo ou titulo que o interlocutor era portador.
A tecnologia, chamada de progresso era incipiente; estava começando a venda de geladeiras e televisões, onerosas e de difícil acesso as classes mais pobres.
A criminalidade era mínima e os crimes da época eram de batedores de carteira e estelionatos. Crimes mais graves, além de raros era motivo de comentários acalorados na comunidade.
A sociedade tinha sua estruturação muito bem definida nesta época, mesmo com as pessoas já vivendo um regime que permitia a mobilidade social, onde os mais aptos conseguiam destaque e melhor posicionamento. Todo este funcionamento era ritualístico. Cada um sendo respeitado pelo que é junto ao restante da sociedade e, honrando em atitudes o status a que estava inserido.
A palavra ritual foi com o tempo, relegada a um segundo plano e atualmente fica reservada a cerimonias publicas e religiosas. Falar de ritual social atualmente toma ares pejorativos.
A violência e a marginalidade aumentou nas mesmas proporções que o ritual de convívio social foi enfraquecendo.  Hoje chamamos uma pessoa por você ou pelo seu primeiro nome, não damos atenção, na maioria das vezes a importância e necessidade social da posição que o interlocutor ocupa, diríamos falta-se ao respeito.
O ritual não se refere a submissão, muito ao contrario, ele preserva a função de cada elemento na sociedade; um governante é respeitado pelo cargo de governar, mas ao mesmo tempo esta posição exige uma contrapartida, as vezes desgastante, de governar bem, tomar mediadas para a coletividade correta e ter uma postura condigna com a posição que ocupa. O ritual é o que orienta o comportamento de toda a sociedade, unindo o mais desprotegido ao mais poderoso numa cadeia, onde os elos se entrelaçam e a quebra de um dele afetará todo a corrente.
Ritual se refere ao respeito que temos de ter a cada um, tanto a quem está mais bem situado, como a quem está em posição não tão privilegiada.
O ritual inclui o tratamento, ao tratar a pessoa ao lado de uma forma cortes, por exemplo, senhor ou senhora estamos fazendo um posicionamento, ou seja, estamos mantendo  a cadeia em harmonia.
Há 2.600 anos Confúcio já pregava o ritual como condição básica de manter a harmonia social.
Pensem nisto.
23/05/13
Tony-poeta





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