segunda-feira, 17 de junho de 2013

OM MENDIGO E O CÃO SARNENTO



 
imagem google

O MENDIGO E O CÃO SARNENTO


Caminhava entre os carros que aguardavam a balsa. Era um novo habitante do pedaço. Após oito anos pegando a embarcação todos se conhecem, os funcionários, os vendedores e os mendigos, e também os cachorros que sempre os acompanham.
Aquele cão era sem raça definida, um animal médio lembrando vagamente um Fox de cor marrom, tinha uma lesão de sarna de aproximadamente vinte centímetros no pescoço, tratada de modo caseiro com azul de metileno e querosene. O animal se apresentava com feição boa, esperto, observador. Parece que a alquimia estava dando resultados, acompanhava o novo frequentador.
Este tinha discreta marcha ceifante à direita, difícil de diferenciar a distancia se proveniente de bebidas alcoólicas ou de antiga lesão cerebral. Seguido de seu animal se dirigiu a meu carro, o que eu já esperava. Os viajantes ocasionais tem justificadamente receio, só eu me encontrava com vidro aberto observando as fragatas tentarem roubar os peixes das garças dançando o balé voador de aves brancas e negras.
- Doutor, me dá uma moeda, quero comer. Não tinha hálito alcoólico, o referencial doutor é usado para todos que lá estacionam. O cachorro ficou há três metros de distância.
Recolhi umas moedinhas do porta-luvas, já reservadas para estas ocasiões e estendi ao senhor, que aparentava cerca de quarenta anos de idade.
Ao receber o trocado, se aproximando do carro reparou que eu usava branco.
- O senhor é doutor mesmo? Perguntou emocionado.
Cerca de dez moradores de rua moram em volta do Hospital, onde passam a noite com segurança, já que o movimento os protege e ninguém os incomoda. Quando sentem alguma coisa, são sempre consultados. De dia vão à praia ou a balsa procurar um troco. O médico para eles representa segurança.
Conforme conversava comigo o cachorro se aproximou, ele passou a mão na sua cabeça e a seguir se aproximou.
- Uma vez só que dei ração, fez uma pausa e corrigiu... dei comida e ele ficou meu amigo, sabe doutor eu sou bom, encostando a mão em meu braço.
- Sou bom, reafirmou.
- Sim, todos são bons reforcei.
O vigia da balsa se aproximava, sabendo que ia ter de sair deu um sorriso e falou:
- Obrigado.  Dirigiu-se a calçada ao lado.
O cão sacudiu o tronco, com alguma dificuldade pelo ferimento, porem demonstrando estar bem.  Acompanhou o homem de marcha discretamente dificultosa.
Os dois amigos ficaram lado a lado numa atitude tranquila, até a fila dos carros entrar em movimento.

17/06/13
Tony-poeta

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