sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A HISTÓRIA E O MÉDICO

A HISTÓRIA E O MÉDICO


Cada doente tem sua história. Temos de escutá-la. É sempre uma recordação de amor e como este, alegre e triste.
A bactéria não atinge o corpo se a alma é plena, a genética não se manifesta a não ser que aja hesitação, O corpo se defende, mas quando a alma sente-se sozinha a doença aparece. Corpo e alma conversam e se protegem, quando a comunicação falha a doença aparece.
O médico é um escutador antes de tudo, escuta o corpo e ouve a alma. O linguajar que vacila é o momento da intervenção e da técnica.
Antes da ciência temos que ouvir a alma, porque a bactéria entrou no organismo? Que louca paixão deixou cego o paciente a ponto de permitir que ela entrasse? Que amor impossível criou uma fenda na barreira da vida e a doença apareceu, ora como diarréia, ora como uma falta de ar que não cede à medicação? Que louca paixão proporcionou o angor no peito onde o coração claudica em seus batimentos? Qual o peso da paixão que faz as ultima vértebras se achatarem e a dor irradiada pelas pernas impede o amante se movimentar? Que paixão é esta que atinge o corpo e debilita o sujeito em dores e choros quebrando a harmonia do viver?
O médico escuta a poesia de amor e paixão antes de agir. Vê onde o amor se transformou em peso e abandono causando dano na matéria que sente a pressão da alma.
Só ouvindo a história tem-se a chance do cuidar, o médico é um cuidador e como tal, tem que saber onde está a interrupção do fluxo da fantasia para restabelecê-lo. Se assim não o fizer a paixão continua intocada a espetar a alma que sente a dor e reflete no corpo e, nova história e novas dores surgirão pela mesma narrativa não resolvida. A medicação interrompe uma narrativa permitindo que outra cante a mesma melodia, só a escuta restaurando o diálogo alma corpo permite que a paixão cá embora e o doente sare.
O médico tem que antes de tudo escutar o poema de dor do doente que sofre.

18/10/2013
Tony - poeta.


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