sexta-feira, 1 de novembro de 2013

CEMITÉRIO DE VILA FORMOSA


CEMITÉRIO DE VILA FORMOSA



Já é dia de finados. Busquei pela memória e pouco me recordo de visitas a cemitérios. Não adquiri este hábito, principalmente porque não havia óbitos na família. Felizmente meus familiares vieram a falecer em tempos mais recentes.  O único episódio, isolado foi com meu avô, o Sr José da Costa Navega.
O pai de minha mãe, um português fanático pela Portuguesa dos Esportos, careca e que usava um terno branco; já de idade avançada era de pouca prosa, não me lembro de ter trocado qualquer palavra com ele. Morava com minha tia Tila, a quem visitávamos freqüentemente, mas ele sempre calado e ausente nas visitas.
Eu já trabalhava naquele tempo, iniciava-se aos catorze anos, quando fui avisado de seu falecimento, já se encontrava doente. Fui ao velório e não lembro se ao enterro. O corpo foi levado ao recém inaugurado Cemitério de Vila Formosa.
Dia de finados seguinte fui conhecer o cemitério. Saímos meu pai, minha mãe, minha irmã e eu para fazer a função religiosa.
O cemitério era em uma área grande e já estava bem povoado, até demais. Como era recente poucos túmulos foram erguidos, ficando a maioria dos habitantes em covas a serem construídas, com apenas uma cruz à cabeceira e uma placa indicativa de seu habitante.
Pelo gênio de minha progenitora, logo tomou a frente; como havia ido ao enterro achou que ia achar o tumulo. Mera ilusão, andamos, andamos e nada de achar a plaquinha de endereço.
Voltamos à administração, bastante precária e incipiente. Foi dado o endereço.  Nestas alturas começava a se formar a chuva que cai todo o ano neste dia em São Paulo. As nuvens negras vinham calmamente em nossa direção. Apressamo-nos.
Como as ruas não tivessem nenhuma marcação, continuamos a andar a esmo tentando adivinhar a quadra e a cova. Por sorte encontramos Tio Nelson, irmão de minha mãe que tinha localizado o destino e nos levou até lá.
Foi colocar as flores e começar a tomar chuva. Choveu forte. Não havia nenhum abrigo dentro do cemitério recém inaugurado, apenas dois botecos de venda de cachaça em frente tanto do cemitério, como do ponto de ônibus que iríamos pegar. Meus pais estavam calados, minha irmã, ainda criança, oito anos mais nova, reclamava de cansaço e os bêbados faziam algazarra.
Tivemos que esperar três ônibus para poder voltar com certo conforto.  Lembro-me bem da observação de meu pai:
- Estes espertos, fizeram uma birosca na frente da casa, vendem pinga e ganham mais que a gente, se não tivesse que agüentar pessoas bêbadas, até que eu faria igual.
Depois disso, continuei não me interessando por cemitérios, é melhor homenagear em casa mesmo.

02/11/13

Tony-poeta

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