segunda-feira, 4 de novembro de 2013

CHURRASQUINHO DO BEZERRA - conto

Churrasquinho do Bezerra



Cinco horas da tarde e lá estava o Bezerra com um pedaço de ferro batendo no poste metálico para espantar urubus.
Bezerra, um senhor de quase setenta anos possuía um quiosque numa praia bastante frequentada.  Há quarenta anos tocava seu negócio sem nunca faltar e cuidava da família com todo rigor da honestidade, conforme a religião. Como o trabalho não permitia que fosse a missa, Marieta sua esposa cumpria a função enquanto ele trabalhava.
Os três filhos homens estudaram e trabalhavam na Capital com bons empregos e família bem formada, telefonavam quase diariamente, porém pouco o visitava devido ao trabalho exaustivo. Já a única filha mulher, não deu sorte no casamento, com o marido desaparecendo no mundo. Ela e o filho Jose ficaram com ele, até que ela veio a falecer após longa doença. O neto, tratado que nem filho era a única companhia do casal, um rapaz sério e que estudava sem apresentar problemas.
Estava na cidade há cinqüenta anos, começou como servente de pedreiro e nas férias foi à casa dos primos em São Paulo. O Parque do Ibirapuera a pouco tinha sedo inaugurado. Com os parentes foi visitar a estatua e comeu o churrasquinho de gato, como os paulistas chamavam. Percebeu que formava fila ao anoitecer de tanta gente comendo aquele espetinho com carne.
Voltou várias vezes ao local, ficou olhando como faziam, até que um conterrâneo explicou os detalhes. Voltou com planos na cabeça:
- O pessoal que come lá, é o mesmo que vem aqui nas férias e final de semana. Vou vender na praia.
Um ano de economia, comprou um carrinho, improvisou para colocar a churrasqueira e começou o negócio. Deu certo.
Comprou um terreno retirado em pouco tempo, um terreno grande, não gostava de lote pequeno. Na época o preço era muito baixo, fez uma casinha de três cômodos de madeira e buscou Marieta.
Certo domingo ficou preocupado. Logo ao entardecer uma criança pediu o churrasquinho ao pai e este falou:
- Não vê que tem até urubu no poste. Realmente, os novos postes de iluminação, perto do mar atraiam aves que sentavam no topo; à maioria eram garças e gaivotas, mas também vinham os urubus que dividiam espaço.  Ficou chateado e não deu maior importância.
Algum tempo depois, Severino seu amigo e conterrâneo o alertou, o José está namorando a Miriam, cuidado, esta menina é perigosa. Ficou desconfiado, mesmo sabendo que o filho neto era um rapaz direito.
A noite falou com Marieta e, esta acreditando que o marido tinha trabalhado o bastante na vida, que tinham sete casinhas de aluguel no fundo do terreno que foram construindo durante a vida, mais a aposentadoria e a poupança, achava que este não precisava mais trabalhar.
- Está me chamando de velho, o povo compra batatinha, refrigerante e água. O churrasco é o que chama o pessoal, só eu faço e gosto de fazer. Vou trabalhar até morrer. E foi deitar.
Dia seguinte cada urubu que pousava ia lá espantar, logo descobriu que o abridor de garrafas, metálico, batendo no poste fazia vibrar e com o barulho espantava a ave.
O namoro do neto ficava cada dia mais sério e ele desconfiado. Josefa, mesmo com o ciúme normal da vó, começou a gostar da menina e a colocava para dentro de casa.
Cada vez mais nervoso, descarregava nos urubus. Espantava o tempo todo do poste ao lado, até que descobriu que eles iam a um poste vinte metros adiante.
Não deu outra, servia os fregueses, corria aos dois postes e retornava ao quiosque, até que os urubus fossem dormir.
José engravidou a moça. Ele mesmo contou para o vô na praia.
- Ela deu o golpe da barriga, bem que o Severino me falou, falou ele ao neto.
- Eu gosto dela e vou casar. Retrucou o rapaz.
- Como? Você não trabalha. Vai morar e comer aonde?
- Já arrumei uma barraca no fim da praia, vou fazer a mesma coisa que o Senhor e se me alugar a casa que está vazia vou lá morar.
Severino saiu de perto enfurecido. À noite Marieta concordou com o garoto.
- Vai morar sim! E vamos ajudar.
Bezerra não dormiu. Pela manhã começou a perseguir os urubus antes de os mesmo pousarem, mal deu atenção a barraca.
Os amigos o levaram ao psiquiatra e o neto ficou tomando conta do negócio.
O bisneto nasceu. José continuou com a barraca do Bezerra e este, a conselho da psiquiatra foi fazer seu churrasquinho na barraca retirada que o neto comprara, já que lá não havia postes com urubus.

04/11/13
Tony-poeta



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