sábado, 30 de março de 2013

JANGO 64



 

JANGO 64. A VISÃO DE UM GRUPO NOS JARDINS.



“-Meu pai recebeu um telefonema da casa dos Mesquita, hoje à meia noite Jango cai”. Esta frase ficou em minha cabeça até hoje. Os interlocutores; já não recordo os nomes, aliás, sempre fui ruim de memorização de nomes. Mas frases não esqueço. Foi esta realmente.
Nesta noite estávamos em São Paulo na Alameda Lorena com a Rua Pamplona. Era um ponto de encontro de um time de futebol, o Bandeirantes do Jardim Paulista. Seus jogadores era a vizinhança, um sobrinho de General, um filho de alto grau da Maçonaria, um sobrinho de um ex Governador que periodicamente doava as camisas do time, filhos de comerciantes, advogados e eu. O papo era sempre futebol e pouco se discutia de política.
Esta noticia, jogada por um destes elementos, foi apenas uma transmissão do que se falava em sua casa, tanto que a conversa foi breve e voltou ao jogo a ser realizado. A idade do grupo variava ao redor dos dezoito anos.
A orientação politica era a mesma: Todos contra o Jango. O motivo era; desde que o mesmo era comunista e a Rússia era um regime de opressão, onde sufocava as famílias e invadia suas moradias, até motivos mais sutis e elaborados que era o que tinham me passado em casa.
Meu pai, de origem mais aristocrata tinha o PRP como base, a seguir passou a admirar o Plinio Salgado, e era eleitor do Adhemar, que segundo ele não roubava, quem roubava eram seus assessores, pois é muito difícil escolher gente honesta para ajudar. A ideia que fazia do Jango era a seguinte, e a que me foi passada.
Para ele Jango era uma pessoa sem personalidade, apesar de ter um excelente Ministério, o País não andava direito, isto na visão dele, pela falta de pulso do presidente. Isto demonstrava da seguinte forma:
- Veja filho, falava ele. Vê que o Jango não olha nos olhos do interlocutor. Uma pessoa que não encara o outro na conversa, não tem personalidade, ou está com más intenções. Fazia isto mostrando os jornais. O olhar olho a olho tinha muito valor na época.
Realmente, os jornais não mostravam o Presidente de frente, as fotos ora o focavam olhando para o chão, a maioria; ou para algum lado.  Em casa eram comprados todos os jornais, todos. Meu pai, como publicitário acompanhava por força da profissão, as propagandas veiculadas. O jornal preferido foi o Correio Paulistano, que fechou um ano antes em 1963. O Estado passou a ocupar o primeiro lugar na leitura. A Folha do Frias e Caldeiras Seu Carlos não achava confiável; aliás as noticias Internacionais, segundo ela chegavam para o jornal dos Mesquitas e de lá era distribuída para os outros.
Realmente não me lembro de nenhuma foto de frente de Jango em todo este tempo, o que fazia reforçar a minha opinião e de todos os “atletas do Bandeirantes” que também assinavam tal jornal, que o Presidente nada sabia. O comunismo e a T.F.P. pouco nos importava, uma vez que o primeiro era desconhecido, apenas sabíamos que “não respeitava a família” e o segundo com suas bandeiras era visto com certa desconfiança. Ninguém foi na fatídica passeata “Com Deus Para a Liberdade”. Boa parte acreditava mais no Espiritismo e a Igreja era apenas função social.
A frase que anunciava o fim do mandato foi vista como normal e até com apoio, dado o nível de informação e a classe social dos elementos.
A conscientização veio a posterior: alguns começaram a se informar de política; vendo o absurdo, já que o vice-presidente era eleito na época e tomando ciência que era um golpe de estado. Outros continuaram seguindo a tradição da família e apoiando os golpistas.
O grupo que começou a repudiar o golpe engrossou a Esquerda Festiva, que se reunia discutindo contra o regime imposto em bares, tomando cerveja.
A direita, com a censura do Estadão [dizem que foi parcial], a queda do Adhemar em São Paulo e perda de privilégios ficou órfã, apenas assistindo o desenrolar dos fatos.
Os que obtiveram Benefícios, foram poucos, continuaram fieis ao golpe.
Em tempo, notei a agressão poucos dias depois, com um amigo filho de russos, não convertido ao capitalismo, o Paulo, que fazia química Industrial na mesma classe; informou-me por cima o que era comunismo e a falta de democracia do golpe. Procurei livros e achei Josué de Castro, aliás, um dos poucos autores permitidos pela ditadura, que foi meu livro de referencia por um bom tempo.
O time de futebol durou mais um ou dois anos, no mesmo lugar, ganhando poucas taças, os jogos sempre eram de taça no Bairro do Itaim, mas muitas vezes levando lavadas.
A Marx só tive acesso já no final da faculdade e considero um livro muito difícil, não o conheço bem. Boa parte dos que foram contra nunca o leram, bem como Adam Smith, que a direita também não conhece.
A imprensa ajudou sim a montar o golpe.



sexta-feira, 29 de março de 2013

PEC DAS DOMESTICAS, PORQUE INCOMODA



 

PEC DAS DOMÉSTICAS, PORQUE INCOMODA?


Duas manifestações pessimistas chamaram minha atenção no facebook. Duas senhoras de classe social privilegiada [ricas] se manifestaram preocupadas com o PEC das domésticas e, manifestaram sua apreensão de forma não muito clara, o que era esperado para quem não é habituado a falar desta classe pobre da população.
Mas, o que incomoda?
Se olharmos com vagar, veremos que o propalado desemprego não será tão importante. Esta população tem seus meios de, em outras fontes conseguir a miséria que ora recebem. A maioria das domesticas tem condições de se empregar como diaristas ou fazer pequenos bicos no mercado informal e, dada a baixa remuneração atual, não haverá grandes alterações de ganho na ultima categoria a ser libertada da Casa Grande.
As empregadas da classe mais rica, com raras exceções, recebem bem acima do salário estipulado, portanto sem fatores de preocupação.
Quem na verdade receberá toda a pressão é o Governo, em seus três níveis [federal, estadual e Municipal], independentes de cor partidária. Pelo seguinte:
Boa parte de quem emprega uma pessoa como domestica [creio que a maioria; não possuo esta estatística] são trabalhadores da classe média, onde colocando uma pessoa em casa podem ter seu ganho e manter um determinado padrão de vida, razoável, sem luxo.
Portando, se as domésticas libertadas do ultimo resquício da escravidão do País levarão algum tempo para se adequarem a nova situação, elas o farão por conta própria, quem vai necessitar de auxilio é outra parte da classe laborativa [professores, secretárias, pequenos liberais, pequenos comerciantes] que ficarão dependentes do apoio do Estado para trabalharem e se manterem.
Esta demanda se dará principalmente em Nível Educacional, ou seja: creches, maternal, escolas para primeiro e segundo graus. Se a estrutura atual já é precária, esta nova demanda formada por pessoas exigentes: [lembre-se que se retirou o filho de dentro de casa para colocar numa Instituição], trará uma demanda realmente custosa.
Inicialmente estas escolas não poderão ter férias e serão obrigatoriamente de tempo integral. O número de estabelecimentos tem que aumentar significativamente, demandando novas construções. A exigência quanto à especialização dos profissionais que irão cuidar de seus filhos será constante, isto significa mais profissionais com salário adequado [o que não se vê hoje] O método pedagógico será cobrado, o que levará a estudos contínuos com pedagogos, psicólogos e outras áreas a fins, também custoso. Teremos uma verdadeira revolução de ensino, com significativa melhoria. Bom, mas Caro.
O Idoso também demandará atenção, ou com o Sistema Hospital Dia ou com Home CARE, uma vez que muitas das pessoas que trabalhavam como doméstica cuidavam de idosos. Forçosamente teremos a contratação de pessoal da área médica e também construção de espaços para acomodação dos mesmos. Neste caso também afetará os planos de saúde, que terão de oferecer este serviço a seus benificiários.
Como sabemos a Classe Dominante composta por Indústria, Comercio e Imprensa detesta que o Governo gaste. Vimos na Bolsa Família um protesto geral deste seguimento, contrário a pequena despesa do beneficio. [pequena mesmo, em porcentagem do orçamento], alegando ser contraria a dar e sim ensinar a pescar, certamente após o treinamento para a pesca venderiam a vara. [Pode ser que não o fizeram anteriormente no Poder pelo fato dos futuros pescadores não terem dinheiro para os ditos caniços]. Vimos também no Julgamento Televisivo do Chamado Mensalão, o número impressionante de pessoas de Classe alta que procuram o Gabinete do Ministro da Casa Civil, equivalente a Primeiro Ministro em outros Países.
Esta ojeriza por gastos do Governo tem sua explicação: Grande parte da Produção e dos Negócios deste País tem como destinatário o Governo. O Governo compra; paga em dia, não pechincha e se o artigo tiver algum problema será ele o culpado, com o produtor escudado atrás do Poder Central. Como se diz na Linguagem Popular:” Todos querem mamar nas tetas do Governo”
Quanto mais caixa tem o governo, melhores negócios. Esta é a ojeriza. Pouco dinheiro, pouco lucro.
Felizmente a escravidão acabou de ser abolida, agora começou a Guerra de como suprir a tarefa destes funcionários tão desprezados e absolutamente necessários.

30/03/13
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LOURDES E O SININHO



 

LOURDES E O SININHO


Estávamos de doméstica nova, a Lourdes. Uma moça mineira, de razoável apresentação.  Era costume na época buscar nas Gerais moças pobres e transformá-las em semiescravas com nome de Doméstica.
Não sei como foi indicada nem contratada, mas já estava há bom tempo na Capital. Veio trabalhar em casa e, como hábito dormir no emprego, no minúsculo quarto de empregada na área de serviço.
No mesmo dia que Lourdes começou, minha mãe havia comprado um sininho de Prata, destes de colocar na mesa para chamar o mordomo. Como não havia tal serviçal o referido sino estreou junto com Lourdes.
Era o tempo todo:- Lourdes me faz um suco, após dar as badaladas.
                                  - Me traz a água, e tocava o sininho.
O entusiasmo com o barulhento sininho enchia o saco de todos nós, moradores, mas empolgada não admitia recriminações. Assim foi por quinze dias.
No decimo quinto dia Lourdes acordou com febre, a seguir vomitou sangue. Meu pai ficou preocupado com a moça, sempre foi muito responsável com quem estava sob seu teto. Buscou um Médico que tinha consultório nas proximidades.
O mesmo examinou, deu uma receita e pediu um RX de tórax.
Comprado os remédios e feita a chapa, o Doutor retornou;
- É tuberculose, foi o diagnóstico.
Foi aí que se descobriu que Lourdes não tinha ninguém na Capital. A família toda morava em um Sitio em Minas e, a Patroa anterior não havia pagado o combinado; a mesma estava sem dinheiro. Queria voltar para sua cidade, já que o tratamento levava meses.
Sr. Carlos, mau pai, mais uma vez colocou a mão no bolso, pagou a passagem e levou a moça a Rodoviária.
À tarde minha mãe procurou o sininho. Nada! Lourdes o havia levado.
Minha progenitora esbravejou: - Depois de tudo que fizemos, ela levou o sino. E saiu batendo a porta, toda raivosa.
Até que gostamos da má atitude da moça, o sino realmente estava incomodando.
Quinze minutos depois, eis que a Da. Deia, minha progenitora, volta da rua toda entusiasmada:
- Achei outro sininho igual na loja. E começou a badalar entusiasmada.
29/03/13
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quinta-feira, 28 de março de 2013

ESTRUPICIA, A DOMESTICA



 

ESTRUPICIA, A DOMÉSTICA.



Certa vez minha mãe ganhou de presente uma empregada. Dona Deia sempre foi especialista em arrumar pessoas estranhas para trabalhar, mas esta era dada. Coisa inédita, e não tinha ninguém no mundo.
Era uma moça jovem, o seu nome não me lembro, só o apelido a que nos referíamos a ela: Estrupicia. Não tinha nem um metro e meio de altura, necessitava de uma bancada para arrumar a louça e acessar os armários; fazia todo o serviço atrapalhado, daí o apelido, e pouco falava.
Posteriormente com a reportagem dos Gabirus achei que ela se enquadraria, mas ela foi dada muito antes.
Morávamos na Av. Brigadeiro Luiz Antônio defronte a Rua Batatais, no primeiro andar. Logo descobrimos que a moça não andava de elevador. Até aí tudo bem, poderia usar a escada. Mas também tinha medo de escuro. A iluminação dos pisos era simultânea, de modo que um andar acendendo a luz da área de circulação acendia todas as luzes de todos. O interruptor ficava junto à porta. Ali ela não chegava, era escuro.
A pobre moça ficava junto à janela que iluminava a escada esperando acender a área de circulação, uma vez iluminada entrava correndo no apartamento antes que apagasse novamente.
Não sei o salário que minha progenitora pagava, creio que não era muito; a moça só saia de casa para ir à feira próxima. Comprava vestidos. Toda semana ia até a barraca de roupas, arrumava um vestido, isto após pedir um adiantamento, o que deixava Dona Deia enfezada, voltava, fazia todo o ritual da luz, entrava e só saia na semana seguinte. E, não aprendia o serviço do apartamento de cento e vinte metros quadrados; portanto um tanto grande e com muita coisa a fazer. Todos nós trabalhávamos fora e realmente necessitávamos do serviço.
Certo dia a Estrupicia sumiu, foi doada. Sim, minha mãe doou. Dona Deia costumava ir às sextas feiras tomar banho de defesa com Pai Ismael perto do zoológico; com muita lábia, que lhe era própria, fez o Pai de Santo aceitar a moça para morar no terreiro. Resolveu o problema já que a coitada por não ter família não tinha para onde ir. Assim minha progenitora repassou a doação.
Não sei quanto tempo ela ficou por lá, mas alguns meses depois Da. Deia falou que não a viu quando tomava seu banho espiritual. Nunca mais ouvimos falar da pobre moça.

29/03/13

Tony-poeta


quarta-feira, 27 de março de 2013

FACEBOOK E PENSAMENTO



 

FACEBOOK E PENSAMENTO


Quando tenho um pensamento
Ele bate no firmamento
Chega logo a você.
É tanta velocidade
Que acho: Que na verdade
Estou junto com você.

Quando te chega o pensamento
Não precisas nem “curtir”
Ele rebate em teus sentimentos
Volta logo para o firmamento
E me chega logo falando de ti.

Nesta tal internet
A velocidade compete
Para poder conversar
Prefiro o pensamento
Que mesmo sem velocidade
Consigo contigo falar
E... beijar.

27/03/13
Tony-poeta