sábado, 8 de fevereiro de 2014

PARA BAIXO DO TAPETE.

PARA BAIXO DO TAPETE.


Um rapaz de dezenove anos furtou três livros em uma Grande livraria na cidade de Salvador. Fato por si só inusitado. Foi preso e virou noticia com direito a televisionamento ao vivo e comentários de um repórter criminal ávido por manchetes negativas. A cobertura sensacionalista durou até que o camburão partisse rumo ao Presídio. O jovem escondeu o rosto e não falou durante todo tempo.
O mesmo não foi acompanhado pelo nosso jornalista criminal até a cadeia para demonstrar a reação de criminosos com crimes mais graves. Certamente o rapaz seria motivo de chacota ao falar que roubou três livros. Por fim informaram que foi paga fiança e o mesmo foi liberado.
Este fato inédito lembra um romance: ”a menina que roubava livros” que se tornou Best Seller, demonstra que o nosso lidar com transgressões só apresenta uma opção: Cadeia.
Não creio que um ladrão de livros venha a ser um elemento de alta periculosidade a ponto de ser preso, nem para se tornar noticia policial; quanto muito, se não houver nada mais importante, uma citação curiosa pelo ineditismo do fato.
O exemplo acima é uma Discriminação Negativa, já condenada como inadequada no primeiro mundo desde os anos sessenta, onde para não se agravar um problema de possível origem social, nosso modo de agir não deve ser pelo castigo puro e simples e sim pela orientação adequada a cada caso.
A cadeia é exatamente um depósito onde, não sabendo como agir frente aos problemas de uma sociedade, o escondemos sem dar solução e, esperamos que o tempo passando desse uma solução: ou recupera ou novamente excluímos. É cômodo para nós, evita que pensemos e enfrentemos realmente o fato.
No rapaz acima muito poderia ser tentado:
Primeiro, a Grande livraria tem pessoal que conhece e inclusive leu as principais obras sobre o assunto, no nosso caso a Discriminação Positiva, ou seja, agir de modo que o infrator se reintegre rapidamente na sociedade. Este tipo atuação está registrado em vários livros inclusive no de Robert Castel: “A discriminação Negativa” que recentemente deu palestras em Porto Alegre. [não assisti]. Pelo que podemos concluir com a leitura, após uma avaliação psicológica do rapaz e verificando que não há problema de ordem psiquiátrica, poderia ser indicada uma biblioteca Pública ou aberto um espaço para que o mesmo lesse na loja. Este tipo de Livraria tem espaços para leitura.
A passagem pela delegacia teria neste e em outros casos de menor gravidade deve ser atendida e acompanhada por pessoal devidamente treinado. Não podemos exigir que um delegado que enfrenta o crime organizado diariamente, subitamente mude sua postura para uma atitude mais compreensiva e com carga moderada de cobrança como estes tipos de situações exigem.
Na mesma delegacia, o psicólogo e o Assistente Social deveriam estar presentes e verificarem onde podem colaborar para que o delito em questão não se repita e o jovem possa exercer sua cidadania plena.
A única certeza é que quem rouba livros não é recuperado em cadeias. O que foi feito é, como falei, jogar o problema para debaixo do tapete, fazer que nada aconteceu, e deixar o repórter fazer sensacionalismo, mostrando que o camburão esta pronto para defender a sociedade, o que é uma grande mentira.

09/02/14

Tony-poeta

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