terça-feira, 18 de março de 2014

A COLHEITA

A COLHEITA


Zeca das Pedras tinha uma propriedade e oito filhos. Caboclo bonachão gostava mais de contar causos, olhar as mocinhas e pitar na varanda de seu casebre. Afinal, a comida e a cachaça estavam garantidas na pedreira que possuía no fundo da propriedade.
Uma vez por mês a Cia Construtora para lá se dirigia, fazia uns estouros nas pedras, colhia o cascalho do mês, pagava bem e ia embora com os caminhões lotados. Ele continuava na boa vida.
Os filhos resolveram estudar na cidade, menos o caçula, o Zezinho, muito apegado ao pai.
Com a morte do Zeca os irmãos se reuniram. Zezinho cuidaria da pedreira em troca do resto das terras. O jovem não deu importância ao fato da terra ser ruim, a ponto de até mato não vingar. Ficaria com ela e olharia o trabalho da pedreira transferindo o lucro a seus outros irmãos.
Mario e Maria, os dois irmãos que eram advogados, fizeram o papel e passaram a escritura. Nem ligaram para a desproporção da troca e a futura penúria do irmão, que herdou nesta divisão um pedaço de terra seca.
Zezinho começou a pensar como trabalhar a terra seca. Notou que em uma depressão o mato era verde. Era pouco mato, é verdade! Mas viçoso. Resolveu abrir um poço.
Com picareta e enxada começou a cavar no lugar. Apesar de ser a primeira vez que executava tal tarefa; tinha se informado adequadamente e acreditava que não teria problemas.
Há poucos metros achou um abundante lençol de água. O suficiente para irrigar toda a propriedade, que não era pequena. Financiou o material e começou o trabalho.
Três anos depois, todas as dividas estavam pagas, a casa reformada, comprou um trator e até um carro. Estava ainda com saldo no banco. A pedreira continuava lá, dando a exploração tímida de uma vez ao mês entregue religiosamente aos irmãos.
Os irmãos, todos com curso superior, se revoltaram e disseram que foram enganados.  Mesmo nunca tendo olhado para a terra com atenção, julgaram uma afronta o caçula tirar sustento daquela terra seca.
- Fomos enganados! Falavam em coro e xingavam o irmão.
Por fim entraram na justiça, por se sentirem enganados na partilha pelo irmão aproveitador e que estava roubando a valiosa propriedade com artimanhas ilegais. Acusação: Roubo.
Obs. Na política acontece a mesma coisa, não acham?

18/03/14
Tony-poeta




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