A COLHEITA
Zeca das Pedras tinha
uma propriedade e oito filhos. Caboclo bonachão gostava mais de contar causos,
olhar as mocinhas e pitar na varanda de seu casebre. Afinal, a comida e a
cachaça estavam garantidas na pedreira que possuía no fundo da propriedade.
Uma vez por mês a Cia
Construtora para lá se dirigia, fazia uns estouros nas pedras, colhia o
cascalho do mês, pagava bem e ia embora com os caminhões lotados. Ele
continuava na boa vida.
Os filhos resolveram
estudar na cidade, menos o caçula, o Zezinho, muito apegado ao pai.
Com a morte do Zeca os
irmãos se reuniram. Zezinho cuidaria da pedreira em troca do resto das terras.
O jovem não deu importância ao fato da terra ser ruim, a ponto de até mato não
vingar. Ficaria com ela e olharia o trabalho da pedreira transferindo o lucro a
seus outros irmãos.
Mario e Maria, os dois
irmãos que eram advogados, fizeram o papel e passaram a escritura. Nem ligaram
para a desproporção da troca e a futura penúria do irmão, que herdou nesta
divisão um pedaço de terra seca.
Zezinho começou a
pensar como trabalhar a terra seca. Notou que em uma depressão o mato era
verde. Era pouco mato, é verdade! Mas viçoso. Resolveu abrir um poço.
Com picareta e enxada
começou a cavar no lugar. Apesar de ser a primeira vez que executava tal tarefa;
tinha se informado adequadamente e acreditava que não teria problemas.
Há poucos metros achou
um abundante lençol de água. O suficiente para irrigar toda a propriedade, que
não era pequena. Financiou o material e começou o trabalho.
Três anos depois,
todas as dividas estavam pagas, a casa reformada, comprou um trator e até um
carro. Estava ainda com saldo no banco. A pedreira continuava lá, dando a
exploração tímida de uma vez ao mês entregue religiosamente aos irmãos.
Os irmãos, todos com
curso superior, se revoltaram e disseram que foram enganados. Mesmo nunca tendo olhado para a terra com
atenção, julgaram uma afronta o caçula tirar sustento daquela terra seca.
- Fomos enganados!
Falavam em coro e xingavam o irmão.
Por fim entraram na
justiça, por se sentirem enganados na partilha pelo irmão aproveitador e que
estava roubando a valiosa propriedade com artimanhas ilegais. Acusação: Roubo.
Obs. Na política acontece
a mesma coisa, não acham?
18/03/14
Tony-poeta
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