LEONOR, A PATINADORA
GORDA.
Romualdo
foi conversar com o Gerente do Hipermercado do Sul, Leonor moradora do núcleo,
onde ele vereador tinha grande votação a ponto de manter sua reeleição, queria
a vaga de patinadora.
As
patinadoras eram a novidade daquele grande Mercado vindo do Sul, onde mocinhas
sobre patins orientavam os compradores, agilizavam os caixas, sempre deslizando
elegantemente com seu corpo de manequim e a camiseta escrita: Estou para
ajudar.
O
grande problema é que Leonor, uma pessoa adorável, comunicativa e alegre, cujo
sonho de infância foi ser patinadora artística, era gorda e alta. Nada parecido
com alguém que praticasse tal esporte; mesmo assim patinava com a mesma
desenvoltura que as magricelas que lá trabalhavam.
O político
foi conversar com Julio, o gerente. Era uma pessoa jovem de boa conversa que
tomava umas cervejas com as funcionárias após o expediente, como era costume
local e ainda era de confiança do proprietário, Sr. Hans.
Explicou a demanda de sua afilhada:
-Mas é
gorda, falou Julio, todas são magras.
-Mas,
anda de patins melhor que elas e é muito agradável e inteligente.
- Sei
não! Respondeu Júlio, não animado, se o Sr. Hans mandar eu coloco.
Para
instalar o Hipermercado na cidade, Hans representando um grupo de empresários
interessados na região, e sabendo da concorrência de Grandes Grupos da área,
fez acordos que não são imagináveis com o prefeito, o Gervásio. O vereador saiu
desconsolado.
Dia
seguinte, em uma coincidência que Romualdo não acreditou como tal, já que
conhecia o prefeito, foi chamado para uma conversa no Gabinete.
Entrou
na sala do prefeito, sentia-se estranho, raramente ia aquele covil de negócios
escusos, mas além dos votos que tinha que manter admirava muito Leonor e faria
o possível para ajudá-la.
- Que
bom que você veio, falou o Edil. Vou fazer uma proposta que interessa a nós
dois. Pode estar certo que é um bom negócio para a cidade, como por cinco
mandatos você faz questão de exigir.
- O que
me propõe? Falou o vereador.
- Quero
asfaltar a Avenida que vai para o Brejão, é este o nome do Bairro de Leonor, vou
colocar linha de ônibus para ajudar o pessoal e ela vai até a pracinha, onde
moram seus eleitores.
- Sim,
acenou Romualdo.
- Para
isto preciso da aprovação da Câmara, tem umas desapropriações que são obrigatórias,
senão não sai nada. Veja o projeto, e o Prefeito abriu um mapa, com os documentos
para liberar a verba do Estado. Tudo normal. Romualdo olhou e examinou papel
por papel.
-
Realmente é de grande valia, por fim falou.
- Você
vota? Indagou o prefeito.
-
Conforme esta demonstração, sim.
-
Ótimo. Falou a Prefeito com cara de triunfo.
- Sabe
Gervásio, ali mora Leonor, é gordinha e quero arrumar um emprego de patinadora
no Hipermercado, é uma moça excelente.
-
Patinadora? E o prefeito começou a rir...
- Sim,
ela patina desde criancinha, é uma das melhores.
- Par
demonstrar boa vontade, já que você demonstrou comigo, vou telefonar pro Hans. -
Nicinha liga pro Hans, falou para secretária.
Logo a
seguir...
- Hans,
tenho um pedido estranho. Quero que você contrate uma patinadora gorda.
-
Ótimo, à noite tomamos um wisque. Mandarei, sim! Pronto, dirigindo-se ao
Romualdo, mande a moça falar com o Julio amanhã cedo. Está contratada.
-
Mandarei, sim! Obrigado.
- O
que, que é isto, uma mão lava a outra.
O
vereador saiu desconfiado, mas... Tudo bem.
A
CONTRATAÇÃO
Leonor
após ser avisada que o emprego era seu. Dirigiu-se ao Supermercado. Foi direto
falar com o Júlio. Este já a esperava. Olhou-a de cima a baixo, coçou o queixo.
Falou:
-
Conforme o prometido, o emprego é seu. Vai até Dona Alzira fazer o uniforme.
Qual o número de patins que você calça?
-
Quarenta e cinco, respondeu a moça. Sabe sou muito grande e os pés acompanham.
- Onde
você comprou patins deste número?
-
Mandei fazer de encomenda em São Paulo, não existe pronto.
-
Demorou quanto tempo?
- Três
meses, mas valeu a pena, nem os sinto em meus pés.
- Dá
então o endereço para que eu mande fazer...
-
Demora muito, posso usar os meus?
- Tenho
que falar com Neuza do Recursos Humanos, me aguarde.
Meia
hora depois.
- A
Dona Neusa falou que é norma da Instituição não aceitar empréstimos. Temos que
mandar fazer.
- A
cidade está esburacada, retrucou Leonor, não estou conseguindo patinar. E se
fizer a doação dos patins em troca do emprego?
- Não
sei! Pegou no telefone:
- Neusa,
sou eu de novo, se a moça doar os patins.
-
Certo! Vamos ver se assim ajeita.
-
Leonor, se doar os patins, você começa a trabalhar assim que o uniforme ficar
pronto, mas os patins ficam da empresa.
- Não
faz mal, eu quero trabalhar com eles, não importa o dono.
- Então
está acertado, falou Júlio.
- Sim,
retrucou sorridente e feliz a moça.
O
TRABALHO
De
início aquela moça gorda e grande chamou muita atenção de clientes e
funcionários. Virou motivo de comentários
Leonor
porém era muito doce, gentil, atenciosa. Agradava todo mundo.
Com o
tempo todos cliente se dirigiam a exótica funcionária. Além de se destacar pelo
tamanho, não deixava de atender desde a mais simples demanda até o mais
complicado problema. Era um destaque,
Como
tudo que se destaca provoca inveja, esta começou aos poucos.
De
início as outras patinadoras que ironizavam apenas o tamanho da nossa
patinadora, começaram a procurar novos defeitos e criar inverdades para ver se
provocavam constrangimentos a mesma, tudo em vão.
A
central de boatos e maldades foi ampliada até o gerente que começou a ficar
incomodado com a boa penetração da moça na clientela;
- Logo
me mandam embora e o emprego fica com ela, falava,
Leonor
não se abalava, fazia seu serviço sem se importar com as fofocas. Estava sempre
feliz.
A
CAMARA.
Romualdo
chegou excitado no dia da votação da avenida. O prefeito o tinha enganado. O
partido conseguira o mapa real que fora enviado ao Governo do Estado e, ao
invés de beneficiar a comunidade, esta seria desapropriada, jogada na sarjeta,
como costuma acontecer nos acertos da política.
Mostrou
de um por um de seus colegas o absurdo e, justificava assim sua mudança de
posição.
A
sessão foi tumultuada, insultos, que normalmente ocorrem nessas ocasiões se
excederam. A sessão foi suspensa por três vezes para acalmar os ânimos.
Finalmente
e avenida foi rejeitada por um voto. O prefeito perdeu graças ao vereador da
oposição.
Ninguém
lembrou de Leonor.
O
DESFECHO
Gervásio
ficou furioso com a derrota, falou todos os tipos de palavrões que conhecia e até
inventou alguns novos. Este filho de uma puta de vereadorzinho me paga.
Alguém
lembrou de Leonor, que endossava o voto.
- É Rua!
falou o prefeito.
-
Coitada! Falou Mirtes, a secretária, não tem nada ligado a política, trabalha
com gosto e até Dona Maria, sua esposa gosta dela.
- É
verdade. Falou o prefeito, pobre moça na mão deste canalha, traidor. Mas
Política é política e trato é trato. Liga para o Hans.
- Sei
que é boa funcionária, seu Hans, falou o prefeito, mas Romualdo não cumpriu o
trato, tem que pagar.
- Certo
seu Hans, também sinto muito, assim é a vida.
No
outro dia Júlio, junto com as outras patinadoras e funcionários invejosos
comemoravam.
Leonor
foi embora sem seus patins, os olhos lacrimejavam.
19/09/14
Tony-poeta
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