segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Guarujá,carnaval e chuva.- crônica -


GUARUJÁ, CARNAVAL E CHUVA.


Em minha adolescência ficava vidrado nos filmes americanos que mostravam os balneários, era um festival de pessoas bonitas. As cidades superlotadas, os mais duros arrumando empregos temporários nas lojas de discos e lanchonetes, mulheres bonitas desfilando com seus cabelos loiros soltos aos ombros, com gestos sedutores e os carrões andando numa paquera que terminava com as mulheres tomando vento nos conversíveis de capotas abaixadas, Era um sonho de consumo e uma fantasia de realizações.
Décadas depois eis-me no Guarujá, um balneário lindo com a Mata Atlântica ao fundo, um lugar paradisíaco, a cidade lotada: é carnaval.
Acontece que passo a semana em Bertioga; a trabalho. Tão agitada como a cidade que moro, bem menor em tamanho e com destaque da natureza. Nestes dias que antecederam os feriados fiquei sem internet. O Moldem não completava o sinal. Telefonei a meu filho no Interior e este informou que era a antena e o aparelho tinha pelo menos cinco anos, era necessária a troca.
Acordei em um dia chuvoso, chuva no litoral dura vários dias, tinha que consertar meu instrumento de trabalho. Saí eu e a esposa para o posto autorizado na Pitangueiras, centro da cidade. O trânsito fica caótico, creio que era assim nos filmes. Após várias fechadas e muitos resmungos cheguei ao local, no pequeno Shopping. O estacionamento tinha sido fechado e possivelmente alugado para atrações de temporada. Continuava igual as filmagens. A chuva continuava a cair. A solução era voltar e tentar no dia seguinte.
Minha esposa lembrou que faltava uma mistura para o almoço e que era melhor comprar o pão também para não enfrentar filas. Fomos a padaria. A mistura estava disponível na prateleira, o pão tinha acabado. Teria que ficar para a noite. Continuava a chover.
Chegou a noite ainda sob água. Pizza já havia sido pedida no dia anterior. Nada sobrou do almoço para esquentar. O negócio era buscar o pão e enfrentar a fila.
Súbito, uma grande ideia: Buscar hambúrguer, o Mac fica há duas quadras. Continuava caindo muita água, peguei o carro e saí.
A fila era pequena, não saia do pátio da lanchonete. Uma moça de guarda chuvas veio anotar o pedido. São, como nos filmes de minha adolescência, jovens, muito jovens, fazendo colegial e no primeiro emprego. Perguntou o que eu queria.
- Dois hambúrguer com bacon e queijo e duas batatas pequenas, respondi.
O guarda-chuvas só protegia o palm da morena, [não temos loiras, temos lindas morenas e mulatas; aliás loira aqui não faz sucesso.]. Ela o carro e eu nos molhávamos.
- Qual o nome do lanche, falou irritada a menina que atendia.
- Sei lá! quem entende destes nomes são meus netos.
- Bem nos temos o .....[ não guardei o nome], tem tudo o que o senhor está pedindo.
- É este! falei sem nenhuma convicção.
- Trinta e nove reais. Sempre falam o preço para não terem que refazer a operação no aparelhinho.
- Pode fazer. Fechei o vidro, aumentei o som do sambinha e dei uma ligeira enxugada onde tinha molhado. Voltei para a fila. Cheguei ao caixa.
Não uso cartão de crédito ou débito em compras menores, retiro o dinheiro necessário, após duas clonagens e toda encheção de saco que acarreta. Dei uma nota de cinquenta reais.
Ouvi um resmungo, mais para palavrão, da mocinha do caixa.
- O senhor não tem trocado?
- Não!
Contou as moedinhas, que não conferi; caso fosse simpática as dispensaria e deu o troco uma nota de dez e as ditas moedas.
Saí para a rua. Um idiota, sob neblina e tudo escuro veio grudado atrás de meu carro, a rua estava vazia: - pensar que achava tão bonito dirigir com ousadia, agora xingava. Consegui entrar na garagem.
Amanhã providencio a troca do aparelho, espero ter mais sorte... Pensando bem: Um balneário cheio só serve para jovens paquerar, passei do tempo.

16/02/15
Tony-poeta
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