GUARUJÁ, CARNAVAL E CHUVA.
Em minha
adolescência ficava vidrado nos filmes americanos que mostravam os balneários,
era um festival de pessoas bonitas. As cidades superlotadas, os mais duros
arrumando empregos temporários nas lojas de discos e lanchonetes, mulheres
bonitas desfilando com seus cabelos loiros soltos aos ombros, com gestos
sedutores e os carrões andando numa paquera que terminava com as mulheres
tomando vento nos conversíveis de capotas abaixadas, Era um sonho de consumo e
uma fantasia de realizações.
Décadas
depois eis-me no Guarujá, um balneário lindo com a Mata Atlântica ao fundo, um
lugar paradisíaco, a cidade lotada: é carnaval.
Acontece
que passo a semana em Bertioga; a trabalho. Tão agitada como a cidade que moro,
bem menor em tamanho e com destaque da natureza. Nestes dias que antecederam os
feriados fiquei sem internet. O Moldem não completava o sinal. Telefonei a meu
filho no Interior e este informou que era a antena e o aparelho tinha pelo
menos cinco anos, era necessária a troca.
Acordei
em um dia chuvoso, chuva no litoral dura vários dias, tinha que consertar meu
instrumento de trabalho. Saí eu e a esposa para o posto autorizado na
Pitangueiras, centro da cidade. O trânsito fica caótico, creio que era assim
nos filmes. Após várias fechadas e muitos resmungos cheguei ao local, no
pequeno Shopping. O estacionamento tinha sido fechado e possivelmente alugado
para atrações de temporada. Continuava igual as filmagens. A chuva continuava a
cair. A solução era voltar e tentar no dia seguinte.
Minha
esposa lembrou que faltava uma mistura para o almoço e que era melhor comprar o
pão também para não enfrentar filas. Fomos a padaria. A mistura estava
disponível na prateleira, o pão tinha acabado. Teria que ficar para a noite.
Continuava a chover.
Chegou a
noite ainda sob água. Pizza já havia sido pedida no dia anterior. Nada sobrou
do almoço para esquentar. O negócio era buscar o pão e enfrentar a fila.
Súbito,
uma grande ideia: Buscar hambúrguer, o Mac fica há duas quadras. Continuava
caindo muita água, peguei o carro e saí.
A fila
era pequena, não saia do pátio da lanchonete. Uma moça de guarda chuvas veio
anotar o pedido. São, como nos filmes de minha adolescência, jovens, muito
jovens, fazendo colegial e no primeiro emprego. Perguntou o que eu queria.
- Dois
hambúrguer com bacon e queijo e duas batatas pequenas, respondi.
O
guarda-chuvas só protegia o palm da morena, [não temos loiras, temos lindas
morenas e mulatas; aliás loira aqui não faz sucesso.]. Ela o carro e eu nos molhávamos.
- Qual o
nome do lanche, falou irritada a menina que atendia.
- Sei lá!
quem entende destes nomes são meus netos.
- Bem nos
temos o .....[ não guardei o nome], tem tudo o que o senhor está pedindo.
- É este!
falei sem nenhuma convicção.
- Trinta
e nove reais. Sempre falam o preço para não terem que refazer a operação no
aparelhinho.
- Pode
fazer. Fechei o vidro, aumentei o som do sambinha e dei uma ligeira enxugada
onde tinha molhado. Voltei para a fila. Cheguei ao caixa.
Não uso
cartão de crédito ou débito em compras menores, retiro o dinheiro necessário,
após duas clonagens e toda encheção de saco que acarreta. Dei uma nota de cinquenta
reais.
Ouvi um
resmungo, mais para palavrão, da mocinha do caixa.
- O
senhor não tem trocado?
- Não!
Contou as
moedinhas, que não conferi; caso fosse simpática as dispensaria e deu o troco
uma nota de dez e as ditas moedas.
Saí para
a rua. Um idiota, sob neblina e tudo escuro veio grudado atrás de meu carro, a
rua estava vazia: - pensar que achava tão bonito dirigir com ousadia, agora
xingava. Consegui entrar na garagem.
Amanhã
providencio a troca do aparelho, espero ter mais sorte... Pensando bem: Um
balneário cheio só serve para jovens paquerar, passei do tempo.
16/02/15
Tony-poeta
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