quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORTE VIOLENTA NA SOCIEDADE



CONSIDERAÇÕES SOBRE A MORTE VIOLENTA NA SOCIEDADE.







Escrevi estes dias sobre o suicídio, em linhas gerais. Não dei atenção à reação da sociedade, como pessoa, para o evento. Buscava o aclaramento de meu pensar sobre o assunto, quando me deparei da agressão do Estado contra o assentamento de Pinheirinho. Achei preocupante e lastimável como qualquer cidadão consciente, uma atitude de força própria de regimes totalitários.  No meio aos pensamentos de revolta que me acometeu tal ato, reparei um detalhe: O governo, nega que houve mortes, os ex-moradores a afirmam e a imprensa e mesmo políticos de oposição, não tem meios de confirmar ou não a existência de vítimas. Realmente era o que faltava a meu raciocínio.

Saindo do inaceitável ocorrido, o que notamos é que a sociedade não aceita a morte violenta de seus membros, mesmo que estes estejam marginalizados. A morte em guerras, confronto de marginais armados contra aos agentes de segurança, a pretexto de manter a ordem é não só aceita, mas desperta grande atenção, aja visto a enorme quantidade de filmes, jogos eletrônicos, jogos em computador e celulares que não só a mostram, mas convidam o cidadão a participar. Rara é a novela no horário nobre que não mostra um assassinato e uma legião de suspeitos.

O assunto empolga tanto, que o criminoso será escolhido por pesquisa de mercado, com custo elevado, por instituto especializado. Posteriormente se roda três finais diferentes, com assassinos diferentes. Com recorde de audiência o ultimo capitulo conta quem e principalmente como matou.

Voltando ao suicídio e acrescentado agora a comunidade do Pinheirinho, temos um mesmo movimento. A morte violenta.

A sociedade se divide em estratos maiores do que os apontados pelas estatísticas. Temos uma classe dominante, media, baixa e a excluída. Todas com subdivisões entre si. Na distribuição de riqueza, terras, alimentos e moradias esta divisão é inconscientemente seguida por toda população, com raras exceções. Mas o fator morte significa uma agressão violenta e total a tal tecido. Se aceita que um elemento passe frio ou fome, que viva invisível na semi ou total indigência, Que morra por doença. Não se pergunta se esta é causada pela fome ou más condições de moradia. Mas morrer de frio ou assassinado por algum louco que lhe ateia fogo, a sociedade no todo repudia. O abandono social não pode chegar à morte. Isto é absoluto.

Meu filho há algum tempo assistia um documentário na televisão sobre as hienas. Como já estava em andamento, infelizmente não consegui anotar o endereço de acesso. Nele um pesquisador, muito corajoso, aproximou-se de uma família de hienas e conseguiu ser adotado pelas mesmas. Como o elemento mais baixo do grupo. Seria um sem teto na nossa civilização.

 As hienas, como eu vim aprender naquele momento, tem um regime matriarcal, sendo a matriarca o topo, o macho que ela escolhe para acasalar o segundo na hierarquia e se segue em camadas sociais a acomodação dos demais elementos. Este grupo ocupa um território que é disputado por outros grupamentos da mesma espécie e pelos leões, que as mesmas expulsam constantemente (tudo filmado). Em dado momento do estudo, houve uma disputa pelo poder, a matriarca que era ditatorial para nossos padrões enfrentou uma fêmea que resolveu desafiá-la e ganhou o poder. A ex-matriarca não foi morta. Foi rebaixada abaixo da posição que estava o pesquisador, mas continuou na sociedade das hienas. Ou seja: Não se matam elementos do próprio grupo; a não ser que a mesma tivesse morrido na disputa pelo poder, o que seria considerado normal.

 Mas os grupos de hienas se matam entre si na disputa de territórios. (isto não foi mostrado, mas a filologia explica).

Voltando aos humanos, que negam sua origem ou persistência de instinto, não sei o motivo. O comportamento no caso do Pinheirinho se assemelha. A classe mais baixa:

Pode ser desalojada, mas não eliminada. Como no caso das hienas, elas guerreavam com os leões e outros grupos de hienas, todo membro era indispensável.  Nos humanos, que antes viviam de guerra territorial, onde o elemento humano era quem manejava a arma, seria mais um guerreiro que tinha de ser preservado. Atualmente creio que ainda não acharam uma nova função. Talvez um dos motivos da massa humana gigantesca em campos de refugiados.

O fator morte no caso Pinheirinho, se comprovado é uma agressão total a estrutura social, repetindo: Pode-se excluir, mas não matar.

No caso do suicídio, apesar da diferença, a agressão social é semelhante. Nota-se que todos intelectuais e artistas de destaque, que tem suicídio presente em sua família, este automaticamente é anexado em sua biografia, não importa quantas gerações ascendentes ou descendentes tenha ocorrido o evento.

Isto se dá devido a uma morte violenta, e o suicídio é a mais violenta delas, não importando o modo do ocorrido, foge a proteção social devida. É uma forma muito eloqüente de demonstrar grave falha social como um todo. A sociedade se contrai. Contorce-se e entra em penitência pela sua grave falha. Quando se coloca o suicídio no currículo de uma celebridade, está se falando o seguinte: Apesar de ter seu ancestral abandonado pela sociedade, ele se recuperou, perdoou e nos deu tal presente.

A sociedade em suma aceita humilhar, excluir e denegrir seus membros, de acordo com seu relacionamento com o poder. Mas sempre os vigiando. Eles não podem morrer de forma violenta, nem pelo estado, nem por eles próprios.

Nas ditaduras as pessoas assassinadas são vistas como estrangeiro. Aí se pode matar sem grandes conseqüências: como aconteceu nas ditaduras latino-americanas, onde os mortos eram inimigos comunistas. Portanto não pertencia a malha social imaginada pelos ditadores.





25/01/2012

tony-poeta pensamentos

Nenhum comentário:

Postar um comentário