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LADRÃO
DOS CORREIOS
O
carteiro estava sendo roubado. Fazia entregas com a moto amarela dos Correios e
foi rendido por dois homens que dirigiam uma moto sem placa.
- Passa
o bagulho que esta levando.
- Só
tem este pacote.
- É ele
mesmo.
Os
meliantes pegaram o pacote e saíram rumo ao morro. Lindomar, nome do carona,
reclamou:
- Eta
pacote pesado!
- Deve
valer muito. Ouvi o professor falar que era valioso. Falou Gentil, apelido do
motorista.
- Pesa
demais... Insistiu Lindomar.
- Deve
ser coisa boa. Reforça Gentil. O professor quando perguntou pro porteiro se o
pacote tinha chegado, estava preocupado com a muamba, eu ouvi.
Chegaram
ao barraco do Morro do Gringo. Era uma favela, fruto de uma invasão comandada
por um tal de Gringo, pois falava arrastado. Só morava trabalhador. O pessoal
do crime ali morava e se escondia sem dar na vista. Claudinho, o gerente, não
queria a Lei subindo, para tanto proibia roubos ou aprontos na vizinhança, nem
que cheirasse ou fumasse em público, muito menos que se andasse mostrando
armas.
- Tinha
que ser discreto, assim ele dizia.
Ali ele
recebia a droga, embalava, distribuía.
Lindomar
e Gentil eram “mulas”, tinha mais gente fazendo este serviço. Levavam as drogas
a outras comunidades, de moto ou a pé pela mata que rodeava. Com o dinheiro
viviam no barraco, quase caído e pagavam o vicio. Quando não tinha serviço
roubavam porcarias.
Entraram
onde chamavam de sala, na verdade só tinha um sofá velho. Colocaram o pacote
sobre ele e abriram com bastante ansiedade.
O papel
amarelo cobria uma caixa, esta bem lacrada com fita adesiva grossa. Pegaram uma
faca e romperam a fita. Depararam com oito livros encadernados de vermelho.
- Que
bosta! Falou Gentil.
- Que
fria, completou Lindomar. O que a vente faz com estas porcarias.
-São
livros, retrucou o companheiro, deve servir para alguma coisa. Vamos ver.
- Tá escrito
em estrangeiro, falou com desprezo Gentil. Não sei o que é.
- Vai
se saber?
Passava
Guto pela rua. Era um rapaz da comunidade que fazia vestibular. Ali imperava a
lei do silencio, ninguém via nada e, nada acontecia. Claudinho era bravo.
Ninguém mexia com ninguém. Nada se
falava. Seguindo alei era um lugar calmo e seguro.
- Guto,
vem cá, falou Lindomar.
- O que
é?
- Que
livros são estes?
- Você
roubou aonde?
- Eu
achei.
- Livro
de filosofia? Achar na rua? Conta outra.
- Tá,
fecha o bico. É livro de filosofia?
- É, e
é de coleção, está encadernado.
-
Encadernado?
- Sim,
são todos com a mesma capa. Tem um carimbo Dr. Gusmão. É da biblioteca deste
homem.
- É por
isso que são vermelhos? Indagou Lindomar.
- Sim.
- Vale
alguma coisa, continuou o ladrãozinho intrigado.
- E lá
eu que sei, te vira. E Guto foi embora.
- Que
fria, falou Gentil. Vamos ver se o Cigano troca por algum barato.
- Vamos
lá.
Cigano,
o traficante da comunidade vizinha, recebia ordem do Claudinho e tinha sua
freguesia. Os dois meliantes faziam entregas para ele e, compravam dele também.
-
Cigano, olha este bagulho, falou Lindomar.
-
Livros, pra que eu quero isto.
- São
encadernados, reforçou.
- E
daí?
- Deve
valer uma nota.
- Não
aqui, te manca. Vocês ainda têm credito, se quiserem levem esta farinha e
tragam dinheiro. Este bagulho não interessa.
Pegaram
o pó, voltaram para o barraco. Sentaram olhando para nada. O rádio tocava,
quando deu a noticia:
- Roubo
inédito nos Correios. Tem havido vários roubos nos Correios, este chama atenção
pelo conteúdo. Foram roubados livros raros de filosofia. Eram da biblioteca de
um conhecido filósofo Dr. Gusmão, já falecido. A policia acredita que seja um
furto encomendado por algum colecionador, já que se trata de raridades.
- Não
falei que valia muito? Flou Lindomar.
- Mas
não vende, completou Gentil. Vamos jogar fora o bagulho.
-
Aonde?
- No
lixo.
- Tá
louco? Dá bandeira.
- Vamos
enterrar.
- É
fria, vale dinheiro.
-
Ninguém compra.
- A
banca de jornal vende livros, será que não compra?
- Estes
eu nunca vi.
Ficaram
olhando para os livros. Quando Gentil falou:
-
Sujou. Claudinho tá vindo e com capangas.
-
Vichi! Vamos esconder o negócio. Falou Lindomar já com medo.
-
Aonde?
-Em
baixo da cama.
Claudinho
entrou chutando a porta e falando:
- Vocês
tão dando bandeira.
Os dois
tremiam e estavam pálidos, desfigurados, não conseguiam falar.
- Aonde
estão os livros.
- Ali,
apontou Gentil para debaixo da cama.
- Pega
logo, falou Claudinho.
Olhou
para os livros e continuou:
- Agora
pé de chinelo rouba livros. E ainda na boca da comunidade. Querem que a Lei
suba o morro?
- Não,
falaram os dois juntos, se desculpando.
- Vocês
não prestam pra nada. Desta vez passa, mas da outra, fez sinal de cortar o
pescoço.
Os dois
continuavam tremendo.
- Vão
fazer uma entrega no Buraco da Onça pra pagar a cagada, entrega direito e vê se
voltam vivos; seus tranqueiras.
Falaram
sim, tremendo e foram correndo pegar a encomenda para entregar.
-
Tição, põe os livros no meu carro, falou para o segurança.
Chegou
na hora da janta na casa. A casa do Gerente fica no ponto mais alto do morro. É
uma casa boa e com visão de estratégica para fugir sob o perigo de qualquer
ameaça. Desceu carregando os livros.
- Como
pesa!
Foi até
a estante da sala, arrumou direitinho numa prateleira. Deu dois passos para trás,
olhou e sorriu. Falou consigo mesmo:
- Ficou
bonito, vai ficar de enfeite, a lei não sobe aqui mesmo. Meus amigos vão achar
que sou estudado. Gritou:
-
Moooooo! Vem cá!
- Que
foi, falou Jeniffer, sua companheira.
- Olha,
aí...
- Tô
olhando, desde quando você lê?
- Mas
não tá bonito?
- Tá,
deixa aí completou a esposa.
-
Porque você não lê? Cutucou Claudinho.
- Tu tá
viajando? Vai passear...
Ambos
foram jantar.
07/12/2012