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alopecia areata imagem google |
PIOLA E A ALOPECIA AREATA
Após o trote da faculdade tive que raspar o cabelo, judiado
e com falhas devido à recepção. Sendo da
segunda turma e com poucos veteranos; feito o habitual corte do cabelo e a
comemoração alcoólica no barzinho da Prefeitura, nada mais de excepcional
ocorreu.
Indicaram-me o Piola
como barbeiro.
Era uma pequena barbearia, de uma só porta na Av. Sampaio
Vidal, ao lado do Bar Pinguim, era bem simples e, há muito não via reforma.
Piola ficava orgulhoso quando atendia os futuros médicos,
falava de boca cheia que era responsável pelos doadores de sangue; sabia o tipo
de sangue de cada um dos cadastrados, e que vez ou outra colaborava cortando
cabelo e fazendo barba para os necessitados da Santa Casa.
A principio achei exagero, mas com o correr do tempo vi que
realmente era importante sua colaboração. Não havia hematologista na cidade, as
transfusões eram assinadas por médicos clínicos, não especializados. Quem
tocava o serviço era uma Irmã que havia aprendido o serviço sem nenhum curso. O
numero de cirurgias já era considerável, os acidentes com boias-frias eram
constantes, com grande numero de vitimas devido ao transporte em caminhões sem
nenhuma proteção: iam como carga.
As indústrias remanescentes de óleo de amendoim, não
ofereciam segurança no trabalho, sendo comum, operários chegarem esmagados,
pela pilha de sacos que caia sobre suas cabeças. Realmente esta coordenação
voluntária pelo barbeiro, mesmo empírica, era de grande valia.
No terceiro ano, começou cair meu cabelo, formando placas de
couro cabeludo liso em vários locais, sem nenhuma raiz aparente; a lesão era
até brilhante, em formato de moeda, ou numulares como se diz em termos
técnicos.
A causa podia ser uma
infecção na face, rinite ou sinusite; ou uma infecção dentária ou piripaque, todas
plausíveis na minha pessoa. Tratamento, nenhum conhecido. Era esperar o cabelo
resolver crescer. Tinha que me conformar; não se conhecia remédio na época.
Pelo menos tinha um nome, já que não tinha solução, era denominada Alopecia
Areata.
Como o cabelo são estivesse comprido, fui cortá-lo. Piola
conhecia a doença e logo foi falando que sabia curar aquele mal. Bastava que eu
lhe levasse um vidrinho, pequeno, com querosene.
Sabia que querosene deixa uma mancha amarela de péssimo aspecto,
tinha umas oito lesões e, estas ficariam piores do que estavam. Hesitei, mas
como a falha incomodava muito resolvi acreditar no tratamento, o único
proposto. Levei o vidrinho cheio.
Piola misturou com algum capilar, na época se usava muito
Pantenne, não reparei direito se foi o próprio. Após preparar o liquido, com um
algodão aplicou-o em cada lesão, friccionando o preparado com vigor. Fez dois
ou três dias o mesmo procedimento. O aspecto ficou péssimo, mas o cabelo voltou
a nascer.
Não sei até hoje se o crescimento se deveu ao preparado ou
se iria nascer naturalmente. Os professores atribuíram a uma reação a irritação
que ele provocou com sua poção primitiva. A verdade é que rapidamente o
problema foi corrigido. Creio que nesta hora foi meu dermatologista com bom
resultado.
Com o tempo perdi contato com o Piola, nem sei seu nome,
apenas o apelido. Soube apenas que merecidamente o mesmo recebeu após alguns
anos de voluntariado o titulo de Cidadão Mariliense.
21/11/12
Tony-poeta