 |
imagem google |
O VENTO
Deitado estava, era uma tarde de calor, melhor dizendo, um
final de tarde de um dia muito quente. Estava cansado, tentava descansar.
Levantei as pernas e tirei os pés da terra.
Reparei que nunca coloco os pés ao ar. Ele sempre é o
contato terra vida. A vida da terra se sente a meu pisar. Mesmo as aves, estas
voltam a terra e a água, ninguém desliga do planeta, estamos nele grudados como
metais presos a um imã potente. Realmente a Terra nos liga, vibra em nós, por
mais que nos achemos independentes, lá está o solo a transmitir esta condição aprisionante,
estamos presos ao solo.
Começou a madorna que antecede ao sono. O ventilador ligado
solta sua brisa que refresca o corpo cansado e os pés ao ar. Foi por ele, na
hora que o vento tocou a sola dos pés acostumados de terra, que me tornei
vento. Este entrou pelo solado e me libertou da prisão terrestre, podia voar
solto sobre ela. Era o vento. Não mais terra.
Não era espirito, espirito de certo modo é preso na terra.
Muito além da condição de alma eu corria o planeta. Subi lá no alto, peguei a
corrente, mais rápida e fria para me refrescar, dei volta na terra, vi todas as
paisagens dos continentes, esparramei as sementes para decorar. O Vento é
pintor que espalha na terra as suas cores e, faz os arranjos de folhas e flores
para agradar, que bate no oceano, agita as aguas e de modo matreiro rouba
conchas das sereias e espelha-as na areia, para as moças enfeitar.
Gostei da pintura, desci das alturas para perto brincar,
agitando as ervinhas, tirando os gametas, para fertilizar, brincava contente,
brincava cantando, a terra enfeitando, estava a pintar.
Olhei: Isabela! É ela! Estava a andar, com cabelos soltos, a
saia rodada para refrescar, andava graciosa na terra que prende, tentando voar
para poder sonhar. Resolvi brincar com ela. Despenteei seus cabelos, fi-los
voar. Com as mãos graciosas, ela os começou arrumar. Cada arranjo que fazia,
sorrindo eu ia de novo a despentear.
Ficou chateada, fez beicinho, já ia xingar. Achei tão
bonito, gosto quando fica irritada, com seu rosto zangado, só atrai o amar.
Levantei sua saia. Rápido ela abaixou; - dei risada porque só a terra ia olhar:
sozinha ela estava, que eu era o vento, ela não sabia. A terra por debaixo já estava a olhar. Fiquei
brincando, cabelos despenteando, a saia levantando e vendo-a se chatear. Ah, se
não fosse vento, iria à boca vermelha, de um jeito gostoso, beijar.
Estava tão entretido, quando a terra enciumada veio me
chamar. Minhas pernas caíram da almofada, caindo na cama, perderam o voar.
Sumiu Isabela. Resolvi levantar.
10/12/2012
Tony-poeta