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O PATINETE VERMELHO
Dia 25
de dezembro de 1952, com sete anos de idade saí, como todas as crianças da
vizinhança, para exibir o presente de Natal. Ganhávamos um presente só, eram
tempos de crise política e econômica no País e a oferta de brinquedos muito
limitada.
Na verdade
queria uma bicicleta. Era bem mais cara que o Patinete Vermelho com que fui
presenteado, mesmo sendo um fator limitante, não creio que tenha sido o preço
que motivou a preferência pelo referido presente. O Patinete oferecia menos
risco de acidentes. Explico:
Dona
Déa, minha mãe nunca teve experiência em criar filhos, sua mãe morrera quando
tinha sete anos e, além da falta de contato com recém-nascidos, não tinha a
quem recorrer, já que do lado de meu pai, minha avó morava na Fazenda da família
em São João Novo, próximo a São Roque, e além de se idosa e não era muito
afetuosa com minha progenitora. Minhas tias paternas moravam também no Sitio e,
também não se davam bem com minha mãe. Meu pai caçula e temporão, supermimado e
de família de posse, casara com filha de imigrantes pobres. Causando certo
afastamento e pouco contato.
Da parte
materna, a família vivia em Araraquara, também de difícil convívio devido a
distancia, as viagens eram de trem e demoradas.
Quem acudiu
quando nasci foi minha Madrinha Maria, vizinha de meus pais, que já criara o
Silvinho e sua filha Maria Ângela nasceu no mesmo ano. Creio que sobrevivi
devido a ela.
Quando mudamos
para Alameda Lorena, o contato com a madrinha ficou mais difícil e fiquei
sujeito a meu pai e minha mãe. Dois pensamentos diferentes. Ele leitor de
Platão, acreditava que a criança já nascia com conhecimento de outra vida e, deveria
desenvolvê-lo aos poucos, seguiu da própria cabeça a seguinte orientação: Ele
aprende tudo por si e por sua experiência, devo fornecer o mínimo de
orientação, já que ele já sabe. Fez minha mãe ler a República durante minha gestação,
o que duvido que tenha obedecido, e evitava falar de seus gostos; como estava
aprendendo a ler, me oferecia os livros que encontrava, para que eu os lesse e
aprendesse sem erros por eles.
Isto fez
minha mãe insegura. O medo que me machucasse e fosse responsabilizada era
grande, lembro-me que: alguns meses antes; fomos passar um final de semana em
Atibaia. Havia uma árvore que todas as crianças que estavam na Estancia Lince
subiam e desciam, o primeiro galho era quase rente ao solo e permitia que o
vegetal fosse escalado. Fui proibido por
segurança e, o pequeno homenzinho de calças-curtas ficou só a olhar.
A bicicleta
deve ter provocado calorosas discussões, até que apelaram para o Patinete, o
qual estreava no dia 25.
Dia seguinte,
como parte de minhas obrigações, creio que também retiradas da leitura de
Platão e, rigorosamente cobradas, fui buscar o pão. A padaria localizava-se a
cerca de quinhentos metros, peguei meu veiculo e fui buscar o filão. O pão era
chamado na época de filão, era uma baguete atual, com mais miolo e mais larga,
o suficiente para uma família de três pessoas.
O pão
era embrulhado em papel de padaria, que mal o acomodava, não forneciam saquinhos
de papel para aquele tipo de mercadoria. Sabia que não podia colocar o pão no
sovaco que era anti-higiênico, apesar dos franceses assim o fazerem, mas já
havia sido repreendido por isso. Não dava para leva-lo segurando o patinete com
uma mão, o pão mal acomodado com outra e dando impulso com os pés. A solução
foi voltar segurando responsavelmente o pão com uma das mãos, o patinete com a
outra e andando, torcendo para que ninguém me visse e fizesse gozação.
Não lembro
que fim levou o Patinete Vermelho, mas até hoje não sei andar de bicicletas ou
subir em árvores.
Tony-poeta
25/12/12