Churrasquinho do
Bezerra
Cinco
horas da tarde e lá estava o Bezerra com um pedaço de ferro batendo no poste
metálico para espantar urubus.
Bezerra,
um senhor de quase setenta anos possuía um quiosque numa praia bastante frequentada. Há quarenta anos tocava seu
negócio sem nunca faltar e cuidava da família com todo rigor da honestidade,
conforme a religião. Como o trabalho não permitia que fosse a missa, Marieta
sua esposa cumpria a função enquanto ele trabalhava.
Os três
filhos homens estudaram e trabalhavam na Capital com bons empregos e família
bem formada, telefonavam quase diariamente, porém pouco o visitava devido ao
trabalho exaustivo. Já a única filha mulher, não deu sorte no casamento, com o
marido desaparecendo no mundo. Ela e o filho Jose ficaram com ele, até que ela
veio a falecer após longa doença. O neto, tratado que nem filho era a única
companhia do casal, um rapaz sério e que estudava sem apresentar problemas.
Estava na
cidade há cinqüenta anos, começou como servente de pedreiro e nas férias foi à
casa dos primos em São Paulo. O Parque do Ibirapuera a pouco tinha sedo
inaugurado. Com os parentes foi visitar a estatua e comeu o churrasquinho de
gato, como os paulistas chamavam. Percebeu que formava fila ao anoitecer de
tanta gente comendo aquele espetinho com carne.
Voltou várias
vezes ao local, ficou olhando como faziam, até que um conterrâneo explicou os
detalhes. Voltou com planos na cabeça:
- O
pessoal que come lá, é o mesmo que vem aqui nas férias e final de semana. Vou
vender na praia.
Um ano
de economia, comprou um carrinho, improvisou para colocar a churrasqueira e
começou o negócio. Deu certo.
Comprou
um terreno retirado em pouco tempo, um terreno grande, não gostava de lote
pequeno. Na época o preço era muito baixo, fez uma casinha de três cômodos de
madeira e buscou Marieta.
Certo
domingo ficou preocupado. Logo ao entardecer uma criança pediu o churrasquinho
ao pai e este falou:
- Não
vê que tem até urubu no poste. Realmente, os novos postes de iluminação, perto
do mar atraiam aves que sentavam no topo; à maioria eram garças e gaivotas, mas
também vinham os urubus que dividiam espaço. Ficou chateado e não deu maior importância.
Algum
tempo depois, Severino seu amigo e conterrâneo o alertou, o José está namorando
a Miriam, cuidado, esta menina é perigosa. Ficou desconfiado, mesmo sabendo que
o filho neto era um rapaz direito.
A noite
falou com Marieta e, esta acreditando que o marido tinha trabalhado o bastante
na vida, que tinham sete casinhas de aluguel no fundo do terreno que foram
construindo durante a vida, mais a aposentadoria e a poupança, achava que este
não precisava mais trabalhar.
- Está
me chamando de velho, o povo compra batatinha, refrigerante e água. O churrasco
é o que chama o pessoal, só eu faço e gosto de fazer. Vou trabalhar até morrer.
E foi deitar.
Dia seguinte
cada urubu que pousava ia lá espantar, logo descobriu que o abridor de
garrafas, metálico, batendo no poste fazia vibrar e com o barulho espantava a
ave.
O
namoro do neto ficava cada dia mais sério e ele desconfiado. Josefa, mesmo com
o ciúme normal da vó, começou a gostar da menina e a colocava para dentro de
casa.
Cada vez
mais nervoso, descarregava nos urubus. Espantava o tempo todo do poste ao lado,
até que descobriu que eles iam a um poste vinte metros adiante.
Não deu
outra, servia os fregueses, corria aos dois postes e retornava ao quiosque, até
que os urubus fossem dormir.
José
engravidou a moça. Ele mesmo contou para o vô na praia.
- Ela
deu o golpe da barriga, bem que o Severino me falou, falou ele ao neto.
- Eu
gosto dela e vou casar. Retrucou o rapaz.
- Como?
Você não trabalha. Vai morar e comer aonde?
- Já
arrumei uma barraca no fim da praia, vou fazer a mesma coisa que o Senhor e se
me alugar a casa que está vazia vou lá morar.
Severino
saiu de perto enfurecido. À noite Marieta concordou com o garoto.
- Vai
morar sim! E vamos ajudar.
Bezerra
não dormiu. Pela manhã começou a perseguir os urubus antes de os mesmo
pousarem, mal deu atenção a barraca.
Os
amigos o levaram ao psiquiatra e o neto ficou tomando conta do negócio.
O bisneto
nasceu. José continuou com a barraca do Bezerra e este, a conselho da
psiquiatra foi fazer seu churrasquinho na barraca retirada que o neto comprara,
já que lá não havia postes com urubus.
04/11/13
Tony-poeta