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ABANDONO – GENTE E ANIMAIS
Quinta feira véspera de feriado. Olho do apartamento para um terreno baldio,
visível entre uma construção e uma casa não habitada, e vejo no meio do mato um
tanto alto três filhotes de cachorro explorando o terreno. Continuei a observar
e, logo vi que os mesmos entraram no meio de alguns entulhos jogados sem
critério da construção vizinha.
Pensei comigo, alguma femea, tem muitas nas praias próximas,
escolheu aquele lugar para dar a cria; é comum as cadelas se retirarem
procurando um lugar isolado, para a preservação da espécie.
À tarde quando Ana passeava com Lacan, meu cão, observou a
moradia dos animais e viu tratar-se de quatro filhotes de cão e alguns
gatinhos. Alguém havia descartado, por algum motivo as crias no terreno.
Antigamente, costumava-se jogar filhotes indesejáveis dentro de um saco com a
boca amarrada nos lagos, creio que pela escassez de reservatórios resolveram
abandonar.
Não sei avaliar a crueldade maior, matar ou abandonar, a
tristeza da morte se compara a crueldade do abandono. O abandono em nós humanos
dói profundamente, talvez pela nossa condição de nascermos dependentes, jogados:
como diz a filosofia e olhando um mundo hostil já existente, onde nossa única
oportunidade de sobrevivência é a adaptação.
Tinha alguns animais abandonados e teria que fazer alguma
coisa. Um casal se aproximou do local, os filhotes se esconderam, mesmo assim
capturou um, a moça o agradou, deixaram alguma coisa no chão, soltaram o
pequenino e foram embora. Com a rua vazia, todos saíram e se alimentaram e
esconderam-se novamente.
A noite choveu, preocupei-me apesar de saber que numa toca
existe certa proteção e cães e gatos aconchegados se protegem. Não os iria
achar a noite.
Pela manhã, dia de feriado, como já falei, voltei para
observar. Em pouco tempo vi que estavam lá. Não havia nenhum Petshop para
levar, vacinar e preparar a doação. Provavelmente só na segunda feira. Onde
moro não tenho como acomodar tantos animais, resolvi alimentá-los e torcer para
que não fossem atropelados por algum motorista embriagado, que nos feriados
tornam-se abundantes. Torci para que alguma criança que por lá passasse insistisse
com a mãe para a adoção; já que dos adultos não espero tal altruísmo.
Ana levou a ração do Lacan, não tive coragem de enfrentar o
abandono, a mágoa era enorme, fiquei apenas olhando.
A princípio só um filhote marronzinho apareceu, bastou ela
virar a esquina e todos foram comer. Pensei comigo, à tarde busco um saco de
ração e vou alimentando conforme a necessidade até segunda-feira, quando os
levo para vacinação e adoção.
Muitas pessoas passaram no local, o movimento é razoável,
olhavam e iam embora como:- não tenho nada com isso!
Lá pelas tantas, veio uma moça que trabalha catando latas
para reciclagem, pessoa que vemos constantemente na praia e, mora em péssimas
condições, estava acompanhada de uma criança de sete anos, mais dois rapazes e
um cachorro branco e preto que há muito não toma banho, pois a pelagem estava
mais para o cinza. Traziam dois carrinhos descartados de supermercado, destes
que usam em seu trabalho e foram capturar os cãezinhos.
Deram algum trabalho, escondiam-se nas tocas e no meio dos
matos rejeitando os humanos que já os haviam rejeitado. Por fim, com os animais
nas mãos, os acariciaram, olharam o sexo e fizeram o resgate. Os gatinhos lá
continuaram escondidos e não houve interesse. Geralmente estes animais
sobrevivem melhor.
Estes humanos em semiabandono, só eles, eram solidários; ao
contrário de todos os outros que passaram.
Pensando bem, humano abandona humano também, basta olhar
para a Palestina com seu povo retirado de suas casas e jogado em campos de
concentração; A Somália e a Líbia que de importantes entrepostos comerciais na
idade antiga, hoje no total abandono, com seus povos famintos suplicando um
prato de comida e, mesmo os EUA que possuindo as mais caras bases militares,
espelhadas por todo planeta, tem 32 milhões de americanos sem casa e abaixo da
linha da pobreza.
A Bíblia diz que o homem foi criado a imagem e perfeição de
Deus, mas, para que isso aconteça tem que se tornar Humano; coisa que parece
infinitamente longínqua.
02/11/12
www.tony-poeta.blogspot.com