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O HOMEM QUE FALAVA
ERRADO.
Aristóteles
Carneiro de Oliveira, o Professor Carneiro era considerado um dos maiores
eruditos em língua Pátria de seu tempo. Falava um Português impecável, sem
erros. Era convidado frequente para mostrar seus conhecimentos e, divulgar seus
livros na Televisão. Acabara de escrever
o discurso de posse do novo Governador. Enfim, era respeitado e admirado. Era
opinião geral que era imbatível em oratória.
No seu
passeio matinal, por orientação médica, foi abordado por um senhor humilde. O
fato de este falar errado provocou certa aversão e vontade de se desvencilhar
do inoportuno acompanhante.
Mas o
humilde senhor falava macio e convincente, foi falando... Falando... Por fim
Professor Carneiro chegou à conclusão, que vez ou outra era bom ouvir o falar
de gente do povo, poderia usar os exemplos em aulas ou, quem sabe num novo
livro.
Severino
da Silva, este era o nome do acompanhante, começou a contar sua vida. No seu linguajar
popular contou que morava com a mãe demente, a esposa inválida, que sofria da
coluna e do coração.
Contou
ainda que a situação havia piorado com a prisão do genro, marido da filha e,
esta foi morar no pequeno barraco com três filhos. Ele faxineiro, ficou tão
preocupado, que não conseguia limpar o pátio da empresa como devia e, foi
mandado embora. Estava sem dinheiro para comer e os netos passando fome, fora
os remédios que não conseguia comprar.
O professor
além de observar os erros de concordância, se comoveu com a situação:
- E
como o senhor irá agir, Seu Severino?
O homem
mostrou dois papeis que trazia embrulhado em um saquinho plástico de Supermercado.
- Vou
vender o terreno que meu pai me deixou. Ele me dizia que era para o futuro, mas
não dá para esperar.
-
Deixa-me ver.
Eram
dois documentos de Cartório, devidamente selados e carimbados: uma escritura e
uma transferência de posse. O professor leu-os atentamente. Nenhum erro de
acentuação, nenhum erro de Português ou de concordância. Um documento perfeito,
portanto válido.
-
Quanto o senhor quer pelo terreno, Seu Severino?
- Vale
muito, mas diante da dificuldade por dois mil reais eu entrego.
O Banco
ficava em frente, atravessaram a rua e fecharam o negócio.
Seu
Severino saiu apressado contando o dinheiro, ia comprar leite para os netos,
dia ele.
O
Professor Aristóteles Carneiro de Oliveira foi para casa muito alegre, com a
escritura de seu terreno na Lua.
01/01/13
Tony-poeta