PARA
BAIXO DO TAPETE.
Um rapaz de dezenove anos furtou três livros em uma Grande
livraria na cidade de Salvador. Fato por si só inusitado. Foi preso e virou
noticia com direito a televisionamento ao vivo e comentários de um repórter criminal
ávido por manchetes negativas. A cobertura sensacionalista durou até que o
camburão partisse rumo ao Presídio. O jovem escondeu o rosto e não falou
durante todo tempo.
O mesmo não foi acompanhado pelo nosso jornalista criminal até a
cadeia para demonstrar a reação de criminosos com crimes mais graves. Certamente
o rapaz seria motivo de chacota ao falar que roubou três livros. Por fim
informaram que foi paga fiança e o mesmo foi liberado.
Este fato inédito lembra um romance: ”a menina que roubava
livros” que se tornou Best Seller, demonstra que o nosso lidar com transgressões
só apresenta uma opção: Cadeia.
Não creio que um ladrão de livros venha a ser um elemento de
alta periculosidade a ponto de ser preso, nem para se tornar noticia policial; quanto
muito, se não houver nada mais importante, uma citação curiosa pelo ineditismo
do fato.
O exemplo acima é uma Discriminação Negativa, já condenada como
inadequada no primeiro mundo desde os anos sessenta, onde para não se agravar
um problema de possível origem social, nosso modo de agir não deve ser pelo
castigo puro e simples e sim pela orientação adequada a cada caso.
A cadeia é exatamente um depósito onde, não sabendo como agir
frente aos problemas de uma sociedade, o escondemos sem dar solução e,
esperamos que o tempo passando desse uma solução: ou recupera ou novamente excluímos.
É cômodo para nós, evita que pensemos e enfrentemos realmente o fato.
No rapaz acima muito poderia ser tentado:
Primeiro, a Grande livraria tem pessoal que conhece e inclusive
leu as principais obras sobre o assunto, no nosso caso a Discriminação Positiva,
ou seja, agir de modo que o infrator se reintegre rapidamente na sociedade.
Este tipo atuação está registrado em vários livros inclusive no de Robert
Castel: “A discriminação Negativa” que recentemente deu palestras em Porto
Alegre. [não assisti]. Pelo que podemos concluir com a leitura, após uma
avaliação psicológica do rapaz e verificando que não há problema de ordem psiquiátrica,
poderia ser indicada uma biblioteca Pública ou aberto um espaço para que o
mesmo lesse na loja. Este tipo de Livraria tem espaços para leitura.
A passagem pela delegacia teria neste e em outros casos de menor
gravidade deve ser atendida e acompanhada por pessoal devidamente treinado. Não
podemos exigir que um delegado que enfrenta o crime organizado diariamente, subitamente
mude sua postura para uma atitude mais compreensiva e com carga moderada de
cobrança como estes tipos de situações exigem.
Na mesma delegacia, o psicólogo e o Assistente Social deveriam
estar presentes e verificarem onde podem colaborar para que o delito em questão
não se repita e o jovem possa exercer sua cidadania plena.
A única certeza é que quem rouba livros não é recuperado em
cadeias. O que foi feito é, como falei, jogar o problema para debaixo do
tapete, fazer que nada aconteceu, e deixar o repórter fazer sensacionalismo,
mostrando que o camburão esta pronto para defender a sociedade, o que é uma
grande mentira.
09/02/14
Tony-poeta