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O ROUBO – EU VI
Uma senhora de trinta e poucos anos roubava grama num
carrinho. Eu vi. Estavam fazendo uma praça, a grama acomodada em trouxas
enrolados iria ser plantada. Ela roubava duas trouxas. Quando amanheceu notei
que faltavam trouxas, e lá se iam mais duas. A senhora estava bem vestida, e
empurrava um carrinho de pedreiro. Iria completar o gramado.
O vigia, um pobre homem, mal vestido morava num prédio semi
acabado, e sem conforto nenhum, estava empregado para vigiar. Eu sabia. Correu
gesticulando que não podia roubar, tinha dono.
A senhora bem vestida xingava-o de vagabundo e tentava
continuar a roubar. Eu vi, até que abandonou as trouxas e, o homem as levou
para o lugar devido.
Pouco depois, eu vi de minha janela chegar a policia. A
policia falava com o pobre vigia que não se intimidando buscou a carteira de
trabalho. Desci revoltado.
O vigia já havia se retirado quando cheguei. Lá estavam dois
policiais, mais um homem bem vestido; um outro já se retirava com uma cara
bicicleta de alumínio. Só olhei. O policial perguntou da faca. O porteiro que
via a cena indignado falou está aqui. Falavam mal do vigia. Eu olhava e ouvia.
O policial pediu o documento para o homem da faca. Ia
colocar no relatório. Este falou que não portava.
O policial perguntou se sabia o numero do RG. Este falou. O
policial anotou, sem acesso ao documento. Eu vi. Falaram novamente mal do
vigia. Intervi:
- A mulher estava roubando. Eu vi. Ela é ladra.
- Não, falou o homem bem vestido, é minha irmã. Ela é doente
mental.
Pensei comigo, doente mental empurrando carrinho, roubando
grama.
- O vagabundo cuspiu nela, reforçou o homem.
O guarda concordou com a cabeça.
Como ninguém viu, pois só vi os dois, reforcei:
- Mas estava
roubando, eu vi.
- O guarda falou:
- Estamos resolvendo com um acordo,
O homem saiu de fininho diante do meu testemunho.
- Não vai prejudicar o vigia. Anote meu documento, falei.
Outra viatura que passava parou para dar apoio.
- Precisa de alguma coisa: perguntou o guarda que chegava ao
que atendia.
- Não! Só um individuo dando problemas, falou.
- Foi à mulher que roubou, eu vi. A quem vocês se referem
está trabalhando.
- Vamos resolver numa boa, entrou na viatura e saiu e a
outra também.
Só então reparei que eu estava com um calção de marca que
ganhei no Natal.
Quem manda o vigia ser pobre. Rico pode roubar, pois o
ladrão é o outro. Se outro rico, de calção de marca, acusar a ordem é ir
embora.
Prisão, só para mal vestido, vagabundo é o mal vestido. Será que é a ordem?
Eu vi ontem.
13/11/12
Tony-poeta