SOCIEDADE: QUEM SERÁ O
NOVO
AVALISTA?
Toda a
vida, de todos os humanos é baseada em contratos que se iniciam ao nascer e
seguem até o final da existência de cada um.
Ao nascer estamos fazendo o primeiro contrato. Explico:
A criança
que nasce, um ser individual, recebe um lugar dentro de um núcleo familiar onde
é esperada. [estou me referindo a uma família padrão de nosso País, onde o neném
é esperado]. Esta criança, em simbiose com a mãe forma um contrato com a mesma.
A mãe perde parte de sua liberdade para cuidar do jovem que concebeu e este,
por sua vez, perde parte da individualidade para desfrutar de um lugar na família
onde recebe cuidados e alimentação. Como
todo contrato há perdas e ganhos pelos dois lados.
O contrato
entre duas pessoas é inconsistente, uma pode burlá-lo sem conseqüências, o que
sempre implica em um aval. Na nossa sociedade, este aval é dado pelo Ministro
Religioso que proporciona o valor simbólico do contrato, batizando o recém
nato.
Trata-se,
portanto de um aval simbólico, onde uma entidade superior, no caso Deus é
chamado para selar a união entre a criança que nasce e a mãe que representa o
pequeno núcleo familiar onde este ser se estabelece.
Com o
aumento do circulo de relacionamento, será realizado a crisma, as comunhões ou
os rituais da religião da família. Sempre em termos de contrato do individuo
com a sociedade e o núcleo onde vive avalizado pelo ser supremo,
simbolicamente.
Em todas
as fases seguintes, sempre haverá um ritual social e religioso acompanhando
cada fase. Todas as fases implicam em direitos e perdas e o simbólico
obrigatoriamente presente. Não há vida social sem algum tipo de simbólico,
somos seres simbólicos, seres da fala.
Atualmente
a religião enfraqueceu. Não é um processo de agora, vem após séculos de domínio
da Igreja Católica perdendo força, que se acentuou com o Cisma Protestante e já
na Revolução Francesa, no final de 1.700 a Igreja chegou a ser perseguida e
destruída; o que não se efetivou por não existir uma força simbólica que avalizasse
o contrato do humano com a sociedade.
Em 1900
Nietzsche decretou que Deus estava morto. O que ele quis dizer é que toda a regência do
simbólico estava enfraquecida e perdera potencia. Na visão do filosofo, entre outras
conseqüências a perda desta instancia avalizadora era grave, o enfraquecimento
do simbólico é seguido de desorganização social; o que aconteceu em duas
Guerras Mundiais e seguidos conflitos isolados.
Esta desestruturação
foi acompanhada de uma desordem na constituição familiar, onde a família tradicional:
pai, mãe, filhos e avós, perderam a estrutura com formação das mais diversas
situações familiares, famílias lideradas pela mãe, pela avó, famílias homo
afetivas, famílias com o pai fazendo as duas funções. A estrutura foi perdida e
a apresentação do recém-nato à sociedade perdeu o padrão adotado. O acesso ao
simbólico ficou prejudicado e dependente, muitas vezes do desempenho pessoal
dos pais e da sociedade ao redor da família.
Nos
anos 40 do século passado o filósofo Benjamin apontou que o Capitalismo se
tornara religião, coerente com o que estou expondo. A religião composta pela
Igreja e seus sacerdotes é a encarregada de celebrar o contrato social entre os
humanos e a divindade. O Capital neste caso assumia a força simbólica do intermediário
e o Deus dividiu o em muitos casos sua força com o Poder.
Com o
avanço da tecnologia pós Guerra, um importante avanço, os capitalistas tentam
substituir o Divino por máquinas. Existem Universidades fazendo pesquisas pagas
pelos Governos, principalmente nos Estados Unidos da América e na Rússia, onde a
criação de robôs substituiria todo o trabalho humano, numa complicada teoria de
copiar o intimo do sujeito humano para os robôs. Recebemos visita no Brasil de Anders
Sandberg, filosofo da Universidade de Oxford que trabalha com verbas estatais
neste sentido e recentemente noticias de pesquisas semelhantes de Rússia.
Esta Utopia,
a meu ver absurda, provocaria caos na humanidade, é inimaginável sete bilhões
de humanos convivendo com ócio eterno e tendo como simbólico um exercito de
máquinas, suprindo todas as suas necessidades.
O que
creio que possa se desenvolver, um palpite apenas, é a formação de nova
constelação familiar padrão, tanto como casal ou com família grupal, vários
homens e mulheres vivendo juntos e cuidando dos filhos como pertencentes a uma
comunidade.
No
campo religioso o simbólico tomando obrigatoriamente uma nova forma, imprevisível.
Aliás, previsto por Nietzsche quando afirma que cada povo faz sua religião, ou
seja, seu simbólico.
O que
não dá para saber no momento é: Quem está de avalista dos contratos.
23/03/14
Tony-poeta