sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O PAPAGAIO QUE CHAMOU A POLICIA


O PAPAGAIO QUE CHAMOU A POLICIA




Não sei como apareceu. Estava voltando de meu trabalho e tinha um papagaio com sua gaiola no quintal. Tampouco sei quem o trouxe. O que não me interessou muito. Minha irmã, de aproximadamente nove anos, oito anos mais nova que eu, vivia querendo adotar animais, o que meus pais sempre atendiam. A verdade é que havia um papagaio em casa. Nunca fui partidário de aprisionar animais, nem de cortar as asas. A ave não voava. Descobri que já era adulto e vinha com meia dúzia de palavras aprendidas.

Na época não havia controle de animais silvestres, a comercialização era livre e predatória. Um absurdo!

Ele se adaptou bem ao quintal. Nele havia uma área de serviços, o apartamento onde morava Miguel, o motorista, nosso parente. Meus pais nunca dirigiram. Ele nos fazia este favor. Tinha um arbusto em frente o apartamento. A gaiola foi colocada ao lado da janela do aposento e um sarrafo, colocado por meu pai, ampliou a área de movimento da ave até esta pequena árvore.

Em menos de uma semana começaram os problemas. O papagaio não gostava de mulheres. Com saia ou calça comprida ele as reconhecia e puxava os cabelos ou dava bicadas na cabeça. A gaiola e o sarrafo faziam com que estivesse sempre acima da quem passava. Os elementos femininos pararam de lá passar. Minha irmã perdeu o animal de estimação que acabara de ganhar. Ela resolveu rapidamente arrumando um cachorro. A empregada não conseguia limpar a gaiola e alimentar o louro. Eu, por ser contra, me recusava a participar. Sobrou para meu pai, que já não tinha quase nenhum tempo disponível. Durante a semana ele o alimentava e trocava a água, e no dia de folga lavava a gaiola, que a estas alturas estava sempre imunda.

E o louro ficou por lá. Não sei se não procuraram alguém que o quisesse ou se prometeram cuidar ao antigo dono. Até aí continuava não me inteirando.

Uma segunda-feira. Garoava forte e fazia frio. Pelas duas da manhã o telefone tocou. Era da delegacia. Lá se encontrava o papagaio. Chamavam meu pai.

Levantou, se vestiu, acordou o Miguel. Foram ao Distrito saber como o papagaio foi parar lá.

Na delegacia, Sr. Carlos, meu pai, ficou constrangido. Creio que muito, pelo seu modo de ser. A gaiola que seria lavada no dia seguinte, portanto bem suja, se encontrava em cima da mesa do delegado. O papagaio solto passeava pela mesa descontraidamente. O delegado martelava o indicador na escrivaninha. Dois rapazolas de uns dezoito anos estavam sentados e algemados no corredor ao lado. Tinham “visitado” o quintal em busca de algum objeto, viram à gaiola, fecharam-na e saíram a pé com o produto do furto.

Subiram a Alameda Campinas, bastante íngreme, os dois e a gaiola, sem guarda chuvas na garoa forte. O fusquinha da policia estranhou, fez a verificação e constatou o delito. Foram os dois, junto com a gaiola, colocados no banco traseiro; os dois policiais na frente e deram entrada no plantão.

Esclarecida a situação, Sr. Carlos, que sempre acreditou no ser humano, pediu que dessem um pito nos rapazes e os liberassem depois. Não fez queixa e também não acreditava que a policia lhes daria umas bofetadas.

Chegaram quase amanhecendo. Logo depois eu estava levantando para trabalhar.

Fui ao trabalho. Trabalhava no Centro Velho de São Paulo, onde se localizavam os escritórios na época. Parei na banca de jornal, ao lado do ponto, era habito parar e ver as notícias. Todo Paulistano fazia isto. Corri o alho nos periódicos.

No Noticias Populares, um jornal que dizíamos que espremendo saia sangue, tinha a manchete: PAPAGAIO DA ALARMA E CHAMA A POLÍCIA.

Intrigado. Era muito pouco tempo para editar a matéria. Comprei o jornal. Na página interna estava:- O papagaio do Sr. Carlos Gomes (meu pai) estava sendo roubado e vendo a viatura começou a gritar. –Policia pega ladrão! Pega ladrão!

Na hora do almoço descobri que o autor da matéria era um amigo de meu pai. Passando na delegacia viu de quem se tratava e resolveu fazer uma gozação. Aliás, foi o motivo das piadas pelo resto da semana.

O papagaio continuou em casa.





Tony-poeta pensamentos

20/01/12











  


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