domingo, 4 de março de 2012

A SAUNA DA AVENIDA SANTO ANTONIO

 
A SAUNA DA AVENIDA SANTO ANTONIO.



Fui convidado a conhecer uma sauna, partiu do Osvaldo Sigolo, amigo com quem batia papo freqüentemente no Marcassa.

Osvaldo era fiscal do ICMS, obeso, bonachão, muito culto e falador, gostava de pescaria. Era bastante culto e realista. Como nunca tivesse ido a saunas tentou me convencer. Falou que na quinta feira, a referida casa de banho ficava restrita a um grupo. Era saudável e ele a usava para desintoxicar das cervejas e desinchar a gota que acometia seus pés. Ele realmente vivia de chinelos com os pés inchados. Meio desconfiado, acabei convencido.

A sauna ficava na Santo Antonio próximo a Jose de Anchieta, era uma casa não muito velha, térrea, que foi adaptada para tal fim. Cheguei com meu sabonete e minha toalha de rosto. A sauna fornecia o toalhão branco e um sabonete descartável, mas me alertaram que era melhor levar meu sabonete e uma toalha de rosto para sentar, já que é um ambiente de nudismo. Percebi depois que não era assim, todo mundo andava com a toalha como saia, à romana.

Entrei, passando a porta de entrada havia uma segunda porta, onde ficavam os armários. Lá nos despíamos e nos enrolávamos na toalha branca. Pegávamos o sabonete da casa, isto os que não o levaram, [não era realmente dos melhores], ou nosso próprio sabonete; alguns levavam xampu.

Adentrávamos a sala de distribuição de aproximadamente seis por quatro metros. Com alguns sofás de couro, que poderiam ficar úmidos. À esquerda havia uma sala de massagens, que nunca vi ser usada, logo mais perceberão o motivo. A frente já se vislumbrava uma piscina de dois por um e meio metros para o banho gelado.

O que me horrorizou, pois provoca um pico hipertensivo que pode chegar a 300. Pode provocar um infarto ou AVC fulminante Após minha explicação, algumas semanas depois, concordaram que não era aconselhável e pararam de utilizá-lo. A esquerda da sala saia um corredor onde ficavam os banheiros, os chuveiros e uma sauna seca e outra úmida.

Da sala de descanso saindo à direita, ficava, o que vim a descobrir, a vida da sauna. Ao lado tinha uma cozinha, com um excelente operador; que também era o responsável por tudo, se não me engano chamava-se Luiz. E uma porta dava acesso a um corredor amplo que lateralizando o prédio e acessava um galpão. Lá ficavam as mesas de Truco.

A rotina consistia. Após adentrar fazia-se o banho, alguns faziam no tempo recomendado, outros o faziam bem rápido. Após o chuveiro o trajeto era direto para as mesas de truco. Na verdade eram poucos que faziam o ritual completo. A mesa era o objetivo.

Interessante notar que, nas quintas feiras, todos eram entendidos em sauna. Os próprios freqüentadores ajustavam as temperaturas, levavam a essência de eucaliptos, que diziam as mais cheirosas; enfim realmente faziam um banho a contento, pena que para alguns muito rápidos.

Após o banho todos iam para o quintal. Lá jogávamos truco, normalmente três contra três e o grupo perdedor pagava a conta. Bebíamos cerveja, e Luiz preparava o peixe. Era sempre peixe. Além de ser a especialidade do cozinheiro, quase todos eram pescadores, até eu tirei uma careirinha de pesca. Iam ao Paranazão ou o Rio Verde e, reservavam os maiores peixes para serem saboreados nas quintas. Poucas vezes tivemos que comprar. Por volta das nove horas terminava nosso tratamento de desintoxicação.

Ali conheci Dr. Francisco Trentine. Pioneiro na radiologia, na época diminuindo atividade, Dr. Porto e Dr. Osvaldo Vicente estavam começando. Não faltava em nossas reuniões. Uma pessoa adorável, culta. Tinha, com toda certeza, em sua casa a melhor aparelhagem de som da cidade e, comprava tido que saia. Adorava um bom samba, era um excelente e exigente garfo; tanto é que fazia o cardápio das quintas com o Luiz. Era mais fanático ainda por um bom vinho.

Estivera ele e esposa, e outro casal há pouco tempo na Itália, sem compromisso com excursão. Alugaram um carro e foram andar pela região produtora de vinho.  Esta região tem os próprios produtores, com embalagem limitada e não chega aos centros de consumo. Conta ele que, num pequeno vilarejo, e lá são realmente pequenos, experimentou o Vinho dos Deuses. Com o casal de amigos conseguiram uma hospedagem sem nenhum conforto, e por lá ficaram três dias degustando o licor celeste.

Descobrimos o dia de aniversário do médico companheiro. Caia numa quinta. Certificamos-nos se passaria na sauna. Afirmou que iria e receberia os parabéns mais a noite. Preparamos uma surpresa.

Osvaldo Sigolo, que conhecia o gerente do Pastorinho iria arrumar um bom vinho branco Frances, outros ficaram encarregados de um bom peixe e Luiz determinou o que deveria ser comprado. Tudo certo. No dia Dr. Trentine veio, sem saber de nada, como de costume.

Na hora que a comida estava pronta, íamos cantar os Parabéns, quando Sigolo trouxe um presente, em nome de todos. Entregou ao aniversariante. Percebia-se que era uma garrafa. Dr. Trentine abriu avidamente. Era um vinho Sangue de Boi.

Nunca vi ninguém ficar bravo daquele jeito. Xingou, disse que ninguém nunca lhe ofendera de tal modo em toda sua vida, que não precisava disso depois de velho e não parava de blasfemar.

Luiz trouxe rapidamente o peixe, e o vinho que há três dias estava descansando, na temperatura adequada, como é praxe para um conhecedor. Só depois de experimentar o vinho Frances, que realmente era de ótima procedência, se acalmou e começou a brincar novamente.

A sauna depois de algum tempo foi fechada por seu dono, freqüentei-a por cerca de dois anos; após o grupo se dispersou. Uma pena!





04/03/12

tony-poeta pensamentos






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