DONA LINDA
Irmão John foi chamado às pressas. Havia se formado um
tumulto a porta do Paraiso, chegara Dona Linda. Ele juntamente com o pequeno
grupo de empresários, tinha conseguido chegar ao céu e terceirizado o serviço
de portaria, nunca imaginara que haveria tumulto a sua porta; afinal: todos se
alegram de ir ao premio maior de uma vida virtuosa.
- Onde estão as senhas?
- Porque não se formam filas?
- Como sei que não vai passar ninguém na minha frente?
- Este negócio parece a fila do Convenio.
Todas as indagações eram feitas por Dona Linda, que
reclamava sem parar. John pediu a retrospectiva de vida da nova escolhida.
Deolinda Silva Silva, a Reclamona. Também chamada de Linda.
Uma pessoa de índole boa com o defeito de reclamar de tudo. Fora reclamar, nunca prejudicou ninguém, João
seu marido, apesar de pouco conversar, a esposa o inibia, teve todo o cuidado e
carinho nos seus dois anos de câncer. Reclamava, sim. Mas não deixava faltar
nada.
Seus filhos, mesmo morando longe e não telefonando, todo dia
10 vinham pedir um auxilio e, Linda tirava da aposentadoria e ajudava a família.
Os vizinhos só lembravam-se dela quando precisavam de alguma coisa e ela sempre
atendia. Tinha suas falhas, mas as virtudes suplantavam. Tirou a nota mínima.
John que já foi recebido com criticas a sua demora. Pensou
bem, olhou a nota mínima. Olhou o Manual de admissão, que ele mesmo fizera: “Todo
novo interno que potencialmente prejudicar o repouso dos justos não deverá ser
admitido.”.
Mandou Dona Linda para o Inferno.
O Inferno era infernal. Todos tentavam retardar a entrada e permanecer
na porta para não receber os castigos, que, aliás, não eram tão pavorosos. Iam
para o fim da fila, argumentavam e saiam da ordem. O responsável gritava; ninguém
ouvia. A Senhora, tentou reclamar e não conseguiu. Foi direto ao Porteiro:
- Quero falar com o responsável.
- O Diabo, que olhava ao lado com caras de poucos amigos,
respondeu:- o que é?
- é um absurdo! Um órgão que se propõe a ser eterno tão
desorganizado. Falta qualquer senso de ordem, nem o Inferno pode se manter com
tanta bagunça e, começou a falar sem parar de cada um dos defeitos encontrados.
O diabo olhava com espanto. Pediu a
ficha da nova interna com ele ainda falando, viu a nota. Pegou-a pela mão e a
levou de volta ao Céu.
- Não é minha. Falou ao empresário.
- Temos um trato, lembra? Respondeu este. Todos aqueles que
potencialmente perturbarem o sossego pela eternidade são teus.
- Mas combinamos um limite. O admitido não pode piorar a
pena de meus internos e uma reclamona certamente vai o fazer.
Um olhou para o outro, havia um impasse. O que fazer com
Dona Linda.
Um anjo que passava arriscou:
- Porque não o Purgatório.
- Temos um trato, respondeu o empresário do Céu, abrandamos
o purgatório, pois o Inferno, com tanta gente na Terra, está em excesso de
lotação e não é justo.
Dona Linda olhou a porta do purgatório. A bagunça era pior
que a do Céu e do Inferno.
- E naquela desorganização que querem me levar, não vejo
ninguém arrumando a fila.
- Não tem porteiro, respondeu o Diabo.
- Que absurdo, se quiserem fico de porteiro e dou o sermão
de entrada em todos aqueles mal educados da porta.
O Administrador do céu olhou para o diabo. Deram um sorriso
e Dona Linda ficou em definitivo admitindo e dando o sermão inicial do Purgatório
reclamando dos erros de cada um que chegava.
29/10/2012
Tony-poeta
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