imagem google |
OUTONO
Quando passo pela estrada de Bertioga, as folhas grandes das
árvores da Mata Atlântica passeiam pela estrada, levadas pelo vento. De longe
não dá para definir se são vegetais ou pequenos mamíferos: é comum na madrugada
carros em disparada atropelarem pequenos roedores. Não dá para definir até se
aproximar.
Chegando perto, vejo que se trata de folhas mortas, caídas das
árvores. Dançam com o vento contando histórias do verão e da primavera. Como
dói este primeiro vento fresco do outono, presentifica o passado e dá-lhe
mobilidade, fria e sem direção, ora me atropelando, ora fugindo de mim.
Triste passado que tromba e foge em nossas vidas. A minha,
já próxima do ocaso, tenta não chegar ao inverno, se apavora no outono. Que
adianta a folha seca lembrar os pássaros que gorjearam e os ninhos ali
presentes?
A transição do outono é apenas preparação, aliás, sempre existe
preparação em todas as estações; mas, talvez a do outono seja a mais dolorida,
identifica nossa incerteza, tanto com o ontem, mesmo o anteontem e também o
amanhã. Mostra que a vida é apenas amores caídos à beira da estrada, dançando
com o vento e tristemente lembrando como fantasmas o que se foi e jamais
voltará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário