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COTIDIANO: UMA SEGUNDA FEIRA
Dia cinco de maio. A rinite está atacada,
perturbou todo o domingo. É o que mais atendemos atualmente em clinica,
provavelmente devido à poluição. No meu caso, tratando-se de uma enfermidade
crônica o mal fica é acentuado. Hesitei, por fim tomei um comprimido para a
congestão nasal com vasoconstritor. Teria que dormir bem, além da segunda ser
puxada, no final do expediente tinha marcado dentista, uma ponte estava solta
dificultando a mastigação. Os dentes me perturbam desde que nasceram os
permanentes. Herança familiar.
O sono, como o previsto foi agitado devido
ao remédio, mas melhor do que com a obstrução nasal. Levantei no horário,
indisposto.
Peguei a estrada Guarujá-Bertioga via
balsa, mais calma e segura apesar dos motoristas de final de semana transitar
por ela fazendo tudo que o não deve. Cheguei no horário ao Centro de Saúde.
A recepção estava agitada, uma senhora
idosa, uns setenta anos, desacompanhada, com sua bengala fazia escândalo. É
velha conhecida nossa. Com muita malandragem e um pouco de idade acredita que
fazendo escândalo terá o atendimento como acha que pode lhe favorecer,
ignorando os demais pacientes. É costume no ser humano ver os direitos e
esquecer os deveres; o que é reforçado pelos meios de imprensa que noticiam um
só lado.
Esta senhora, como de costume deixava
acabar a medicação de seu uso e, sem hora marcada ia ao ambulatório que segue
um agendamento querendo ser atendida. Sempre atendemos pessoas não agendadas,
apenas esta tem que aguardar. Facilitando para não haver injustiças, seria
atendida, como todos não marcados que necessitassem medicação, seguindo apenas
a hora de chegada, mas a paciente queria ser atendida na hora.
E bramia a bengala ameaçando as
funcionárias; os demais doentes, uns por não conhecê-la iam a seu favor e
outros contra. O ambiente ficou tumultuado. Há alguns meses anteriores esta
senhora já havia dado uma bengalada na funcionária e, ficou por isso mesmo. Não
há segurança no ambiente. Por fim a chefe de posto falou firme com ela, foi
quando esta se sentou e ficou resmungando esperando o médico que a acompanha.
O espetáculo de agressividade perturbar
todo o ambiente e realmente prejudica o atendimento no geral, uma vez que a
medicina é feita de raciocínio e empatia, atitudes como esta prejudicam tanto o
médico que ouve, como o doente que vai expor suas queixa.
Sem incidentes chegou a hora do almoço.
Ainda teria outro período de atendimento a tarde. Fui almoçar.
Pelo problema dentário, não conseguiria
mastigar coisas muito sólidas. Pedi um croissant e um refrigerante pensando em
jantar com mais substância. Após alimentação fui comprar uma caneta, que para
completar havia acabado a tinta de minha esferográfica. A quantidade de papéis
manuscritos chega a ser de tal grandeza que pode ocupar mais tempo do que a
atenção dada ao paciente. Certamente foi um burocrata que nunca prestou atenção
no atendimento médico que fez o protocolo de atendimento. Pelo que tenho lido
este procedimento é padronizado até na Europa.
Andei cem metros após a leve alimentação
para comprar a caneta. Ao entrar na papelaria escutei a sola do sapato fazer
barulho. Tinha se soltado. O sapato realmente era idoso, tanto que na semana
anterior havia comprado um para repor. Um bonito sapatênis branco com detalhes
em azul e vermelho, com se está usando. Usei por um dia durante a semana,
estava justo e passou a incomodar com um leve aperto. A vendedora havia
explicado que o couro laceia. No final do dia estava com câimbra no primeiro
dedo do pé. Coisa inédita. Como não tenho mordomo para lacear o sapato como vi
num filme, onde este usava o sapato até ficar adequado para o patrão. Voltei
para o velho pensando numa solução.
Nunca comprei sapatos em Bertioga. Lembrei
que na Avenida existia uma loja tipo popular, de uma só porta, tipo feirão.
Poderia ter um quebra galho. Peguei o carro e me dirigi a mesma. Realmente a
apresentação não era das melhores, perguntei se vendiam sapatos masculinos. A
resposta foi afirmativa. Imediatamente indaguei se aceitavam cartão de crédito.
Uma vez confirmado fui verificar as
alternativas. Pelo menos a vendedora era atenciosa. Nas prateleiras do lado
direito havia pouco mais de uma dúzia de calçados para homens. Procurando o
mais claro, estava vestindo roupa branca, achei um bege bem clarinho. Pedi o
numero quarenta e um. Pensava no outro, o da câimbra, que era quarenta. Não
iria arriscar novo desconforto. Ficou um pouquinho largo. Tudo bem. Fui pagar,
não tinha visto o preço, nem me ocorrera esta ideia.
A gentil vendedora falou: Sessenta e oito
reais. O anterior passara de duzentos. Era uma pechincha. Mandei acionar o
débito, me foi dado então, sem pedir três reais de desconto. Joguei o velho
fora na loja mesmo e fui para o turno seguinte.
Cheguei exatamente no horário no dentista.
Este olhou a peça, era nova e ele mesmo havia feito.
-Não foi a peça, falou ele, rachou a raiz
do dente, pode ser alguma mordida em coisa dura. Não dá para fazer nada agora.
Tenho que pedir uma panorâmica da face e daí me orientar no que vou fazer.
Pensei que o tratamento anterior já havia
custado uma nota, tanto é que o Imposto de Renda me mandou para malha fina e
estava pedindo para levar os recibos para comprovar. Quando se trata de
despesas de saúde, sempre acham que há irregularidades. O Laboratório já havia
fechado, passava das dezoito horas. Ficaria para o dia seguinte.
Pelo menos o sapato estava tão confortável
como o velho. Liguei para casa e pedi que preparassem uma sopa.
Tony-poeta
13/05/13
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