terça-feira, 15 de julho de 2025

GIGI E A BONECA QUE LAMBE

 GIGI E A BONECA QUE LAMBE



GIGI E A BONECA QUE LAMBE.
Dia nublado e fresco, Gigi passa férias conosco. A levamos para passear como sempre no Shopping, onde há o que fazer.
Dirigimo-nos à loja de brinquedos, é a atração de todos que lá se dirigiram com seus netinhos e netinhas. Parecia que todos tiveram a mesma ideia.
Estrategicamente colocada estava a boneca que lambe sorvete. Já a conhecia; tinha sido divulgada em um anuncio na TV paga no canal infantil, Gigi foi direto nela, tem países que este tipo de propaganda é proibido, os olhinhos brilharam,
- É a boneca que mostra a língua Gigi.
- Não vovô, ela lambe, respondeu a menina.
Eu e Ana olhamos as especificações, Gigi está perto dos cinco anos, ainda não lê. Parecia uma boneca simples, muito simples e com um preço não condizente, será que cobravam o mecanismo de chupar o sorvete? Convencemos a menina a olhar melhor, a loja era grande e tinha muita coisa para ver.
Mais para frente havia um Autorama completo, vários carrinhos de corrida. No meu tempo não havia nada disso; quando meus três filhos homens eram pequenos comprei o primeiro Ferrorama que saiu; não deu certo: eles jogavam muito, chegaram a se machucar jogando xadrez, isto é, uma peça no outro, isto quando estavam em desvantagem. O Ferrorama quebrou rapidinho, não deu nem para ampliar. Gigi era meiga e compreensiva,
- Gigi que tal levar este? Mostrando o Autorama.
- Não vovô
- Dá para disputar corridas.
- Não gosto de corridas.
- Olha os carros de corrida.
- Carro é de menino, sou menina.
Voltamos à boneca e levamos ao vendedor.
- O Senhor abre para testar, pedimos.
- Já vem testada de fábrica.
- Queremos confirmar.
- Querem que abra a caixa?
- Sim!
Olhou desconfiado, ficou hesitante, por fim,
- Vão levar a boneca?
- Sim, claro!
Ao abrir a embalagem percebi o motivo da má vontade em demonstrar o produto. Além de simples, como já tinha notado, o mecanismo era o seguinte, na hora que você leva a mamadeira à boca ela mostra a língua. Um mecanismo simples. Bastava um barbantinho. Ele não abria a caixa, pois o comprador desistia. Ana observou a Gigi.
- Não dá para tirar o vestido.
Lembrei-me de Marizilda, minha irmã, só queria bonecas peladas. Morreu sem me explicar o motivo. Quando tinha a idade da Gigi pediu uma boneca negra pelada, deve ter dado muito trabalho a meu pai. Foi conosco e a boneca no almoço de Primeiro de Ano no cliente de meu pai, eram os primeiros anúncios das cantinas de Treze de Maio no Bexiga. Uma casa adaptada, simples iniciando o que viria a ser ponto de referencia da cidade. O Sr. Giglio nos deu uma mesa e ela ficou todo almoço com a boneca pelada no colo.
- A vô faz um agasalho e uma calça comprida para ela, argumentou Gigi, muito rápida em raciocínio.
Agora minha netinha está com meu grampeador, clips, durex e outros materiais de escritório fazendo uma cama com a caixa para a boneca que lambe.
O autorama continua na loja e eu estou de volta ao computador.
Tony-poeta
16/07/13


 Segundos.

Cada segundo
Fico velho
Dou Adeus.
Cada segundo
Descubro o mundo
Faço Rodo a vida
Deixo rastros
Sigo rastros
Sou caminhar
Para o túmulo
Para o altar.
15/07/2013

quando chove

 quando chove




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Quando chove
Assistimos
O ShowVendo
Tony-poeta

homem

 



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celular na orelha
moça
celular na orelha
homem
revolver na orelha
suicídio?
Tony=poeta

segunda-feira, 14 de julho de 2025

a doença e sua cura


A DOENÇA E SUA CURA



A DOENÇA E SUA CURA

Desorientado o ser procura uma razão. Talvez alguma coisa tenha falhado? Cambaleia debilitado, a dor é interna e externa; seus sentidos estão nublados por densa cerração, caminha a esmo, parece voltar aos primeiros instantes de sua vida. A dor de inicio da vida se mescla com a dor da instabilidade atual que pode ser o fim. A situação é drástica, urgente, a vida tem que se reestabelecer.
Nada mais doloroso que o Vir ao Mundo. O ser no mundo vitima de uma expulsão, como um objeto indesejável que ejetado abandona seu útero seguro que lhe abrigava protegido. Ei-lo no desconhecido. A temperatura esfriou, sente frio. Há luz onde era escuridão e mesmo com sua visão incipiente, machuca. Os ruídos antes abafados em sua morada tornam-se exagerados. Há ruídos, luz por todo lado, o ser encontra com o corpo: tem que descobri-lo e controla-lo. Tudo é estranho, tudo apavora. Há medo, muito medo. Chora!
Um objeto pega o pequeno ser, também objeto e o banha em agua morna. Acalma; já sente o ambiente ficar menos turvo, finos panos o agasalham, a temperatura fica amena: sente-se cuidado.
Ancora num corpo que não lhe parece estranho, leva a boca a uma pele macia e um líquido, na temperatura que viveu por nove meses jorra familiar, suga a principio tímido e descoordenado, ouve uma voz macia, um tanto familiar, parece que já tinha escutado este diapasão, fecha os olhos e adormece no corpo estranho-conhecido em seu objeto a descobrir.
Esta volta às origens na doença é apavorante, nem sempre há alguém para aliviar a angústia e acalmar o choro; o ser separou-se de seu objeto, perdeu o contato, o objeto corpo não mais responde as demandas do ser. Há a dor desconhecida da expulsão agressiva do primeiro momento. O choro não mais encontra o alento da mão que firme acolhe, banha as feridas e o agasalha com panos aquecidos e cheirosos. A cama não tem a maciez de corpo que o acolheu e o leite tão farto não mais jorra. Grita, chora e o mundo parece surdo, nada o acalma.
O paciente, apenas o ser afastado do objeto, procura este contato que é a saúde. Saúde é a vontade do ser, que manejando o objeto corpo, traça um destino; independente de bom ou ruim. O que importa é ter um destino e este corpo caminhar com os acertos e erros comandado pela desconhecida força chamada vida.
O gemido externo ou interno, este som gutural que chama atenção, tenta repetir o choro do primeiro dia: o corpo tenta a fala, ora uma fala masoquista tentando contar as dores do desencontro com o comando vida; ora uma fala sádica e agressiva tentando despertar o seu redor pela sua necessidade que põe em risco sua continuidade; talvez geneticamente lembre-se da família reunida e da comunidade rezando o terço, o padre trazendo agua benta ou o xamã fazendo fumaça; até a velha benzedeira com um raminho de arruda passando por suas orelhas e pronunciando palavras mágicas que o ser da vida consegue entender e retornar ao comando. Ou então xingando e suplicando para todo pessoal paramentado, cheio de estranhos aparelhos, tão mágicos como a fumaça de seu curandeiro, para que soltem a palavra que conecta o corpo com o ser. Pede a este pessoal, que como amigo limpe o chão onde irá pisar das impurezas que possam quando ainda trôpego cair novamente; da camareira-enfermeira que acomode este corpo nos brancos lençóis quentes e acolhedores e o médico que injete uma solução conectiva que restabeleça o contato perdido. O show sadomasoquista é apenas o apelo de um corpo que perdeu o contato com o ser e tenta como no nascimento reestabelecer este encontro que é a base do viver.
Curar é entender a linguagem. Não é o aspirador nasal de mecônio que dá o choro; o que dá a vida é este choro que irá acontecer espontaneamente ou com uma palmada. Entender que a vida é luta que começa com a dor e segue com deleite do seio. Este encontro se perdeu com a moléstia. A doença é um hiato ser-corpo que pode ser definitivo se não for acudido, é uma letra muda da existência.
Quem cura não é o maquinário, a fumaça ou a arruda aspergida em água, mas sim esta manifestação holística onde os cuidadores falam com o corpo e seu ser e restauram a harmonia chamada viver.

Tony-poeta.
13/07/2013