A T.P.M.
Ju caminhava falando sozinha. Tinha este hábito.
- Vou falar... Não posso esquecer! Dá cólicas, dói muito, a urina prende e o intestino também, dá uma dor de cabeça desgraçada. Incha o peito, que não cabe o sutiã. Incham os pés. Daí eu fico nervosa.
- Coitado do Pingo. Foi por isso que acabou comigo. Que galinha a Patrícia, ele saiu e ela passou a mão. Filha da puta, dizia ser minha amiga. Galinhona! Mas arrumo outro, bonito. O Pingo não é lá estas coisas é pobre. Não sou feia. Ela vai ver.
- Não posso esquecer, tem mês que dá até febre.
Continuou falando:- A mãe mandou lembrar que fui ao Posto. Passei no Ginecologista, fez até cultura e não deu nada. Não Posso esquecer.
Entrou na Clinica. Um prédio novo, com arquitetura moderna. Muito bem decorada. Entrou firme e altiva, mas foi se inibindo quase repentinamente. Não imaginava que era chique assim. Deu a carteirinha na recepção. Assinou e mandaram aguardar. Dr. Rafael a atenderia.
Sentou e observou. As mulheres bem vestidas e perfumadas. Os homens quietos e acomodados. As mais velhas falavam de doença, como no SUS, mas baixinho, sem chamarem a atenção. O celular de um senhor tocou e este saiu da sala de espera para atender. Nestas alturas Ju não sabia onde colocava as mãos; se dobrava as pernas ou as cruzava. Começou a xingar para dentro:- Maldita Cintia do Recursos Humanos. Tinha que me avisar que era chique assim. Eu teria vestido a roupa do casamento do Marcinho. Mas ainda arrumo um homem com grana, e frequento todos estes lugares chiques. No ano que vem tô na faculdade. Vou arrumar um partidão rico e bonito.
- Dona Jussara Cavalcante queira entrar. Era Dr. Rafael na porta chamando.
Estava de costas, virou e ficou branca. Pensou:- Eta homem bonito! O médico formado há pouco era jovem, bonito, bem vestido. Dirigiu-se a sala, deu a mão para cumprimentar e sentiu o cheiro de perfume: - Nossa que perfume bom, pensou.
- Dona Jussara, sente-se. O que te traz aqui?
- Uma dor na barriga. Nestas alturas pensava: Se falar que é TPM ele vaia achar que sou chata. Não tem aliança... Não deve ser casado...
- Dói sempre?
- É um partidão, como é cheiroso. Puta Homem!
- Onde dói Dona Jussara?
- Ahnnn... Ah dó i a barriga toda. Pensando:- O quê que eu faço?
- Perto ou longe da menstruação?
- Tanto faz. Pensava: - O que falo agora. Não vou perder este cara cheiroso.
- Vamos examinar, falou o médico com certo ar de enfado por não conseguir nenhuma informação. Tire a roupa, fique de calcinha e sutiã e deite no sofá.
A imaginação de Ju foi a mil. Vários curtos-circuitos aconteceram simultaneamente:- O que ele vai fazer? Nunca mandaram tirar a roupa. Mas sou gostosa, ele vai ver...
- Estou pronta.
O médico a examinou aferiu a pressão. Quando colocou o estetoscópio no coração, este quase saiu pela boca. A seguir colocou as mãos no abdome. Ju arrepiou. –Que gostoso, pensou.
- O que foi?
- Só coceguinhas disse sorrindo. Pensava:- Quase me traí.
Enquanto o medico examinava o abdome, a cabeça pensava de tudo, menos numa consulta médica.
- Pode se vestir.
- Ahnnn
- Já examinei.
-Obrigado.
Já sentados, o doutor explicou que não achou nada anormal e que pediria uns exames, que seriam apresentados no retorno.
Saiu falando sozinha:- Nunca que eu ia contar da minha TPM. Assim, não fisgo este peixão. Continuo tomando os remédios do Posto e pronto! Hunnnn! Mas o exame não vai dar nada. Acabei de fazer e estava normal. Tenho que achar uma doença, senão não vejo mais o Rafael. Ele é lindo!
-A Joana vai toda semana ver a coluna. Diz que o médico passa a mão na bunda e nas coxas. Que tesão.
- Não, é muita doença, ele não vai me dar bola. O quê é que eu arrumo?
- Sabe vou procurar no Google. E voltou para casa.
13/09/12
Tony-poeta
Nenhum comentário:
Postar um comentário