CEMITÉRIO DE VILA
FORMOSA
Já é
dia de finados. Busquei pela memória e pouco me recordo de visitas a
cemitérios. Não adquiri este hábito, principalmente porque não havia óbitos na
família. Felizmente meus familiares vieram a falecer em tempos mais recentes. O único episódio, isolado foi com meu avô, o
Sr José da Costa Navega.
O pai
de minha mãe, um português fanático pela Portuguesa dos Esportos, careca e que
usava um terno branco; já de idade avançada era de pouca prosa, não me lembro
de ter trocado qualquer palavra com ele. Morava com minha tia Tila, a quem visitávamos
freqüentemente, mas ele sempre calado e ausente nas visitas.
Eu já trabalhava
naquele tempo, iniciava-se aos catorze anos, quando fui avisado de seu falecimento,
já se encontrava doente. Fui ao velório e não lembro se ao enterro. O corpo foi
levado ao recém inaugurado Cemitério de Vila Formosa.
Dia de
finados seguinte fui conhecer o cemitério. Saímos meu pai, minha mãe, minha
irmã e eu para fazer a função religiosa.
O cemitério
era em uma área grande e já estava bem povoado, até demais. Como era recente
poucos túmulos foram erguidos, ficando a maioria dos habitantes em covas a
serem construídas, com apenas uma cruz à cabeceira e uma placa indicativa de
seu habitante.
Pelo gênio
de minha progenitora, logo tomou a frente; como havia ido ao enterro achou que
ia achar o tumulo. Mera ilusão, andamos, andamos e nada de achar a plaquinha de
endereço.
Voltamos
à administração, bastante precária e incipiente. Foi dado o endereço. Nestas alturas começava a se formar a chuva
que cai todo o ano neste dia em São Paulo. As nuvens negras vinham calmamente
em nossa direção. Apressamo-nos.
Como as
ruas não tivessem nenhuma marcação, continuamos a andar a esmo tentando adivinhar
a quadra e a cova. Por sorte encontramos Tio Nelson, irmão de minha mãe que
tinha localizado o destino e nos levou até lá.
Foi colocar
as flores e começar a tomar chuva. Choveu forte. Não havia nenhum abrigo dentro
do cemitério recém inaugurado, apenas dois botecos de venda de cachaça em
frente tanto do cemitério, como do ponto de ônibus que iríamos pegar. Meus pais
estavam calados, minha irmã, ainda criança, oito anos mais nova, reclamava de
cansaço e os bêbados faziam algazarra.
Tivemos
que esperar três ônibus para poder voltar com certo conforto. Lembro-me bem da observação de meu pai:
- Estes
espertos, fizeram uma birosca na frente da casa, vendem pinga e ganham mais que
a gente, se não tivesse que agüentar pessoas bêbadas, até que eu faria igual.
Depois
disso, continuei não me interessando por cemitérios, é melhor homenagear em
casa mesmo.
02/11/13
Tony-poeta
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