AMBIVALÊNCIA E AMOR
Um ex-preso
politico, em um artigo que lia no final de semana, demonstrava não ter raiva de
seus torturadores; os torturadores, por sua vez, demonstravam afeição pelos
torturados. Hanna Arendt considera Eichmann um cidadão pacato e pai de família.
Estas declarações causam espanto e tratados sociológicos e filosóficos foram
escritos tentando analisa-los.
Não li os tratados. Procurei no Vocabulário de
Psicanalise o que tinha a me oferecer: Em resumo deixava claro, a coexistência
de amor e ódio na mesma pessoa, como mecanismo de formação de neuroses.
Alertava que Freud no final da vida deu um valor maior à ambivalência, sem
escrever um artigo justificando suas observações.
Não me
pareceu em nenhum dos artigos citados, se tratarem a pessoas submetidas a
franca neurose, ao contrário, as ponderações faziam acreditar em pessoas
compatíveis com a vida que julgamos padrão, sem distorções.
Imaginei
então ao contrario: como seria uma pessoa não ambivalente diante de uma perda?
A
conclusão foi a seguinte:
Caso só
houvesse ódio, [reparem que não reconhecer como igual não é ódio, o ódio só
existe onde pode haver uma identificação.] a tendência seria a destruição
completa da pessoa, cortando-a aos pedaços e dilacerando-a. {o canibalismo
implica em admiração associada e, não existiria}. Portanto o ódio exclusivo
provocaria destruição total do oponente, incluindo seu corpo. [Vemos este
episódio em algumas guerras, por exemplo, Kadaffi na Líbia].
Em se
tratando só de amor, sem nenhum ódio; a separação do ente amado, por qualquer
motivo, sendo definitiva, levaria a pessoa a uma melancolia irreversível. O excesso
de amor sem contraponto geraria uma perda irreparável [narcísica], sem
resolução para o sujeito levando-o a morte por inanição. [o suicídio tem que
ter um pouco de culpa, senão não seria realizado] A melancolia, conforme Freud
tem seu modelo no luto e a pessoa fica como não vivente no mundo, dedicando-se
totalmente ao ente perdido, tentando exclui-lo em sua vida mental.
Portanto,
o amor sem uma dose de ódio seria também doentio e incompatível com a vida.
Concluindo:
Somos obrigatoriamente ambivalentes. Se esta situação vai evoluir ou não para
uma neurose depende apenas ao peso de amor e ódio que damos a determinada
pessoa. Na vida normal, obrigatoriamente amamos e odiamos.
Vamos
aproveitar o amor.
Tony-poeta.
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