GIVANILDO E O FACEBOOK
Sábado à
noite. Givanildo passava seu primeiro final de semana na quitinete no Bairro da
Liberdade em São Paulo. Tinha se mudado de Alvinlândia, alugara por meio de um
amigo, que já estava na capital há anos, aquele cantinho e começara a trabalhar
num escritório.
O ganho
não era lá estas coisas, mas estava empregado. Melhor do que ficar trabalhando
com seu pai. Ali poderia completar seus estudos, fazer uma pós e arrumar a
vida. No interior não tinha mais nada a fazer.
O apartamento
estava a ser mobiliado. Tinha olhado alguma coisa, porém precisava que viesse
alguém da família para realizar a compra. Não tinha cartão de crédito, nunca
comprara a prestação e o registro da carteira era daquela semana; de modo que a
moradia tinha apenas uma cama, uma cadeira e uma mesa, o que havia conseguido
comprar com o dinheiro que possuía. As roupas ainda estavam na mala e em cima
da mesa apenas um laptop, que trouxera do Interior.
Não
conhecia ninguém e a cidade o assustava. Desceu, achou o ambiente estranho e
mal encarado, comeu um lanche rapidamente na padaria ao lado do apartamento e
voltou para seu aposento.
- Ah! Se
tivesse em casa estava no bar do Biro tomando minha cerveja, jogando conversa
fora. Tá certo que o papo é furado: falar mal dos outros e criticar as meninas,
mas é melhor do que ficar aqui sem conhecer ninguém.
Pegou o
livro de Administração Financeira, a única coisa que trouxe para ler, leu um
capitulo, não prestou atenção em nenhuma palavra.
- Será
que fiz bem, pensou ele. Acho que sim. Não vou passar a vida inteira no
barzinho de meu pai, mal dá para um. Sem condições. Com este negocio de viajar
toda a noite para fazer faculdade roubaram minha namorada. Maldita Beatriz! Mas
não servia mesmo. Muito fútil e pobre; mais pobre que eu. Não tenho o que fazer
lá. Logo acho meu pessoal aqui. Resolveu ir dormir.
Duas
horas depois, após se virar na cama sem parar levantou de novo, já xingando.
Maldito lugar:- sem carro, indo e voltando a pé para o trabalho e comendo no
quilo ao lado, vai ser duro fazer amizade. Porra de cidade! Dá trabalho até
atravessar a rua, parece que vou ser atropelado cada vez que saio. Mas vou
ficar nesta porra! Olhou o computador e automaticamente o ligou.
Givanildo
não era habituado a usar o computador, a não ser para trabalhos escolares e
controle da contabilidade do estabelecimento da família. Tinha um facebook com
alguns amigos da faculdade, com os quais nunca tinha se comunicado, alguns
amigos da sua cidade que também pouco aparecia e alguns amigos novos do
serviço. Destes tinha o seu chefe imediato que passava teclando o dia todo,
enquanto ele roía o osso; mandava bastantes mensagens de piadinhas de sacanagem
e mulheres peladas, ele achava de um grande mau gosto, mas por falta de que
fazer entrou na sua pagina. Ninguém disponível no momento.
Correu
a linha do tempo, com poucos amigos tinha muito pouca coisa para se ver. Correu todas as postagens, nada de
interessante, alguns recadinhos entre os amigos, as mulheres peladas e
piadinhas do novo chefe e mais nada.
Não
tinha sono, pensou: - Se curtir tudo que está aqui, talvez alguém oculto se
manifeste e posso trocar um papo. Voltou para o início e foi curtindo um por um.
Após teclar nos últimos dez dias sem resultado foi até a torneira, pegou o
copinho descartável de agua mineral, que já havia acabado, encheu na torneira. Não
tinha filtro; tomou vagorosamente esperando alguém se manifestar.
Não deu
resultado. Não apareceu ninguém. Desligou e voltou para a cama.
Uma hora
depois, sem conseguir dormir voltou ao computador. –Se descurtir todos, alguém pode
notar e aparecer, este negócio de passar o final de semana sem falar com ninguém
é um saco, coisa de louco! Voltou à página, desfez a curtição uma por uma,
tomou outro copo de agua da torneira e nada. Mandou tudo à merda, deligou o laptop
e voltou para cama.
Mais
uma hora e levantou decidido, ainda sem dormir. Ligou novamente o aparelho,
certificou-se que não tinha nenhum contato no momento, conferiu e não havia
postagens novas, ninguém percebeu que ele apagou as curtidas. Resoluto foi até
seu perfil e se excluiu em definitivo do facebook xingando: - Este troço não
serve para nada!
19/05/13
Tony-poeta
Lindo texto (engraçado também) rsrsrs
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