O PEDINTE.
A Av. Dom Pedro no Guarujá tem três pistas em cada sentido. No
farol fechado, um senhor bem idoso, completamente desajeitado, não
familiarizado com a situação, pedia esmolas na pista central. Separei uma moeda
de um real: sempre que acho razoável, colaboro, inclusive levo moedas no carro,
acredito que o Estado é lento por demais em seu socorro e até decidir se dá o
peixe ou a vara e ensina a pescar; se cobra ou não esta vara e a seguir se
cobra ou não a isca, o necessitado morre de fome sem começar a pescar.
O farol abriu; os carros apressados, coisa desnecessária em um
final de semana em cidade balnearia, mas eles sempre pensando estar atrasado,
hábito de vida atual, entraram em movimento. Deu para perceber a expressão de medo do pobre
senhor, que correu ao canteiro central, bastante assustado.
A cena ficou em minha mente, por profissão me condoo com a falta
de apoio a velhice, segui meu caminho sem dar a moeda.
Hoje, alguns meses depois, ao passar pela mesma avenida; lá
estava o mesmo senhor, agora com um pires de plástico na mão esperando o farol
fechar. Foi o que aconteceu. Pensei: -
agora dou a moedinha.
O senhor, lentamente como lhe permitia a idade, começou a pedir
para os carros estacionados junto ao canteiro, não se aventurou na pista
central onde eu me encontrava, pediu para quatro pessoas uma ajuda, somente
quatro foi o que lhe permitiram seus passos. O farol abriu e não dei novamente
a moedinha a este senhor.
O que me chamou mais atenção, que mesmo vendo uma pessoa
debilitada, tentando mesmo mendigando manter uma dignidade social, a de
conseguir comprar e morar de modo precário sem reivindicar um asilo.
Aliás, até o Carandiru com toda sua violência tinha uma ala para
asilados; portanto, um depósito de seres indesejáveis socialmente.
Este senhor, num dia frio e chuvoso, tentando sobreviver e
repito: mesmo mendigando de um modo digno, não sensibilizava quase ninguém.
É muito estranha esta sociedade de competição, os derrotados são
condenados à morte por inanição.
25/05/13
Tony-poeta
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