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RITUAL.
Nos anos
cinquenta todas as pessoas se tratavam por senhor e senhora. Compadres também
assim se tratavam. Ora quando se dá uma criança em batismo, segundo a tradição,
estamos fazendo um acordo com os padrinhos que, em caso de morte dos progenitores
estes assumam os cuidados e educação do afilhado. Normalmente o escolhido para
apadrinhar uma criança era uma pessoa próxima e com amizade com o pai da mesma.
Mesmo assim, o tratamento respeitoso era mantido. As pessoas frequentavam as
casas, saiam juntas e sempre senhor e senhora.
Nas
grandes cidades, São Paulo, onde cresci ainda se mantinha esta formalidade, indo
para o interior, região de São Roque, São João Novo e Araçariguama este
comportamento era mais acentuado e, não se passava por outra pessoa sem o
cumprimento de Bom Dia ou Boa tarde, geralmente se retirando o chapéu, que os
homens usavam na época.
Ao
conversar com alguém graduado, um padre, um professor, um médico a formalidade
se acentuava, com toda a deferência e respeito pelo cargo ou titulo que o
interlocutor era portador.
A
tecnologia, chamada de progresso era incipiente; estava começando a venda de
geladeiras e televisões, onerosas e de difícil acesso as classes mais pobres.
A
criminalidade era mínima e os crimes da época eram de batedores de carteira e estelionatos.
Crimes mais graves, além de raros era motivo de comentários acalorados na
comunidade.
A sociedade
tinha sua estruturação muito bem definida nesta época, mesmo com as pessoas já
vivendo um regime que permitia a mobilidade social, onde os mais aptos conseguiam
destaque e melhor posicionamento. Todo este funcionamento era ritualístico.
Cada um sendo respeitado pelo que é junto ao restante da sociedade e, honrando
em atitudes o status a que estava inserido.
A
palavra ritual foi com o tempo, relegada a um segundo plano e atualmente fica
reservada a cerimonias publicas e religiosas. Falar de ritual social atualmente
toma ares pejorativos.
A violência
e a marginalidade aumentou nas mesmas proporções que o ritual de convívio social
foi enfraquecendo. Hoje chamamos uma
pessoa por você ou pelo seu primeiro nome, não damos atenção, na maioria das
vezes a importância e necessidade social da posição que o interlocutor ocupa, diríamos
falta-se ao respeito.
O ritual
não se refere a submissão, muito ao contrario, ele preserva a função de cada
elemento na sociedade; um governante é respeitado pelo cargo de governar, mas
ao mesmo tempo esta posição exige uma contrapartida, as vezes desgastante, de governar
bem, tomar mediadas para a coletividade correta e ter uma postura condigna com
a posição que ocupa. O ritual é o que orienta o comportamento de toda a
sociedade, unindo o mais desprotegido ao mais poderoso numa cadeia, onde os
elos se entrelaçam e a quebra de um dele afetará todo a corrente.
Ritual se
refere ao respeito que temos de ter a cada um, tanto a quem está mais bem situado,
como a quem está em posição não tão privilegiada.
O
ritual inclui o tratamento, ao tratar a pessoa ao lado de uma forma cortes, por
exemplo, senhor ou senhora estamos fazendo um posicionamento, ou seja, estamos
mantendo a cadeia em harmonia.
Há
2.600 anos Confúcio já pregava o ritual como condição básica de manter a
harmonia social.
Pensem nisto.
23/05/13
Tony-poeta
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