LOURDES E O SININHO
Estávamos
de doméstica nova, a Lourdes. Uma moça mineira, de razoável apresentação. Era costume na época buscar nas Gerais moças
pobres e transformá-las em semiescravas com nome de Doméstica.
Não sei
como foi indicada nem contratada, mas já estava há bom tempo na Capital. Veio
trabalhar em casa e, como hábito dormir no emprego, no minúsculo quarto de
empregada na área de serviço.
No
mesmo dia que Lourdes começou, minha mãe havia comprado um sininho de Prata,
destes de colocar na mesa para chamar o mordomo. Como não havia tal serviçal o
referido sino estreou junto com Lourdes.
Era o
tempo todo:- Lourdes me faz um suco, após dar as badaladas.
- Me traz a
água, e tocava o sininho.
O
entusiasmo com o barulhento sininho enchia o saco de todos nós, moradores, mas
empolgada não admitia recriminações. Assim foi por quinze dias.
No
decimo quinto dia Lourdes acordou com febre, a seguir vomitou sangue. Meu pai
ficou preocupado com a moça, sempre foi muito responsável com quem estava sob
seu teto. Buscou um Médico que tinha consultório nas proximidades.
O mesmo
examinou, deu uma receita e pediu um RX de tórax.
Comprado
os remédios e feita a chapa, o Doutor retornou;
- É
tuberculose, foi o diagnóstico.
Foi aí
que se descobriu que Lourdes não tinha ninguém na Capital. A família toda
morava em um Sitio em Minas e, a Patroa anterior não havia pagado o combinado;
a mesma estava sem dinheiro. Queria voltar para sua cidade, já que o tratamento
levava meses.
Sr.
Carlos, mau pai, mais uma vez colocou a mão no bolso, pagou a passagem e levou
a moça a Rodoviária.
À tarde
minha mãe procurou o sininho. Nada! Lourdes o havia levado.
Minha
progenitora esbravejou: - Depois de tudo que fizemos, ela levou o sino. E saiu
batendo a porta, toda raivosa.
Até que
gostamos da má atitude da moça, o sino realmente estava incomodando.
Quinze
minutos depois, eis que a Da. Deia, minha progenitora, volta da rua toda
entusiasmada:
- Achei
outro sininho igual na loja. E começou a badalar entusiasmada.
29/03/13
www.tony-poeta.blogspot.com
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