O farmacêutico, a benzedeira e a parteira.
Em 1975,
quando comecei a clinicar, vários colegas médicos resolveram se estabelecer em
cidades próximas de Marília, ou seja, na Alta Paulista e no Paraná. Na época a residência
médica era incipiente e a maioria saiu direto da Faculdade para exercer a
profissão. Felizmente a formação era satisfatória.
Ao chegarem
à cidade em que iriam exercer a medicina se depararam com o seguinte quadro.
Nas cidades maiores já existiam outros colegas, o que não provocou maiores
traumas já que havia uma organização; aos que foram a cidades menores encontraram
um prédio mal equipado, com alguns leitos e Centro Cirúrgico programado para
pequenos procedimentos, pequenas cirurgias: cesáreas e apêndice, por exemplo, e
fraturas. O Hospital com Atendentes de Enfermagem, que eram os profissionais
existentes na época, formados em curso breve de poucos meses, um aparelho de
R.X. de pouca penetração e mais nada.
A medicina
nestas cidades era exercida pelo farmacêutico, benzedor e a parteira, aliás,
pessoas muito bem quistas na cidade, sendo recomendado aos profissionais recém-chegados
manter um bom relacionamento com os mesmos, caso contrario teria dificuldades
com a população local.
A ambulância,
ou a perua Kombi era sempre presente na localidade, na ausência de médico os
doentes que tinham sintomas não resolvidos, eram colocados no veiculo e levado
a cidades maiores onde congestionavam os Prontos Socorros. Não tanto como
atualmente, mas já havia espera e agitação na porta. A condução ficava horas
esperando e os que não foram internados retornavam a cidade local.
O numero
de cidadãos queixosos era escasso; muito destes profissionais que substituíam os
médicos tem atualmente seus nomes homenageados como nome de rua.
Com a
evolução técnica, começou a se exigir cada vez mais exames especializados. Não
que estes sejam absolutos, o que é uma falsa impressão; a maioria dos exames
repete o exame clínico que é estudado em qualquer faculdade de medicina. O Ultrassom
foi uma grande melhoria da percussão onde o médico batendo com o dedo indicador
pelo som identificava os órgãos. A
tomografia é uma melhoria do R.X. onde fazendo penetração de imagens a cada centímetro
com ajuda do computador se consegue uma imagem tridimensional das estruturas, e
assim por diante. Houve grande melhoria de diagnóstico em tempo e precisão,
sempre baseado na medicina de base que é ensinada.
A sofisticação
em diagnóstico e aparelhagem é cara e, na maioria dos casos dispensável. Um
profissional treinado pode perfeitamente fazer a triagem dos doentes que
necessitam de um exame mais detalhado e os que podem ser tratados pelo exame clínico, afinal os exames imitam o homem e não ao contrário.
Como o
preço é alto e nos casos de exame de laboratório o reagente uma vez aberto tem
que realizar um numero X de exames, caso contrario vence e tem que ser
desprezado, as pequenas cidades ficaram mais uma vez na mesma situação de 1975,
sem médicos, com o agravante que os “farmacêuticos” que na verdade eram práticos
desapareceram junto com as parteiras e benzedores. A situação piorou. Sem
ninguém para atender a quem necessitava, os veículos se multiplicaram
juntamente com as viagens aos centros maiores, com congestão em ambulatórios e
Prontos Socorros.
A ideia
do Governo de trazer profissionais de outros Países para realizar este
atendimento básico, evitando encaminhar toda a população doente a centros
maiores me parece válida, já funcionou com profissionais não médicos. Como
estes profissionais vem com contrato por tempo determinado é plenamente
possível que os médicos do País se organizem e no final do contrato digam se
estes ficam ou se serão substituídos por médicos aqui formados.
A meu
ver, o que não pode é a população ficar sem nenhum atendimento.
Tony-poeta
23/06/13
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