A
CASA ASSOMBRADA E O MODESS
Estou
sem a mínima vontade de fazer qualquer coisa. Está mais fresco e com garoa, só
eu e o Lacan, meu amigo cão, a rádio ligada e o pensamento, felizmente
disperso.
Acontece
que nestas horas lembranças estranhas agitam o departamento de memórias esquecidas,
foi aí que recordei fatos há muito perdidos. Era bem moleque, não lembro ao
certo a idade.
Morava
na Alameda Lorena em Sampa, virando a esquina, na Alameda Campinas bem no meio
do quarteirão tinha a casa assombrada. Na verdade, uma senhora ali havia
morrido após longo sofrimento, as comadres falavam que a mesma não queria
morrer. Foi o que bastou para a pequena molecada achar que o espirito ficou na
casa. Eu evitava passar por ali, por medo mesmo.
Certo
dia minha mãe mandou-me a farmácia com um bilhete, comprar não sei o que. Tinha
de passar em frente à casa assombrada. Dar a volta demoraria e não sabia se era
urgente, era melhor ir logo. Passei
correndo, cheguei ao estabelecimento. Dei o papel e a balconista me entregou um
pacote que já vinha embrulhado, macio, grande, não era um vidro. Fiquei
curioso.
Desci retornando
e na hora que corria defronte a casa, cai e ralei o joelho. Com dor e tudo
entreguei rapidamente a encomenda misteriosa. Perguntei o que era: não obtive
resposta. Minha progenitora apenas passou a água oxigenada e a seguir o mercúrio
cromo, receita de curativo da época.
Conversando
com a molecada, descobri que aquilo era o tal de Modess, para a tal da menstruação;
vocabulário que me era totalmente esquisito. Era tabu falar para as crianças,
por isso vinha embrulhado.
Quanto a
correr em frente à casa mal assombrada, nunca mais o fiz. Passava andando
mesmo, o medo da queda era muito maior.
Não sei
até hoje se a assombração mudou de endereço.
26/01/13
Tony-poeta