O FOGÃO E O PECADO.
O fogão desabou na cozinha, caíram os pés e a chapa de
suporte também, foi a maresia que provocou ferrugem. Era um fogão relativamente novo, uns sete anos
de uso, estando o forno e os queimadores em perfeito estado.
A solução foi comprar outro novo e, descartar o velho que já
não parava em pé. Um funcionário do edifício pediu para aproveitar as peças e
foi concedido, obviamente.
Algumas horas depois este perguntou onde estava um pé que
faltava. Olhei no lixo onde havia jogado as embalagens do fogão novo e lá
estava o pé velho. Entreguei, foi quando me falou que o Marquinhos ficaria com
o fogão descartado. Vidal, assim se chama o funcionário, muito jeitoso soldou
uma folha de alumínio e refez o eletrodoméstico. Com uma pintura ficaria em
condições de usar, mesmo que a pintura ficasse com discreta mancha na cor.
Chamou-me atenção, o fato de funcionários de condomínio ter
ganhos compatíveis com a classe C no mercado de consumo. Oras mesmo sendo eles
do nível baixo desta classe, é a mesma classificação que tenho, com nível alto.
Eles enquadram-se na Classe C baixa e eu na alta. Pareceu-me contraditório duas
famílias da mesma classe, ter uma que descarta e outra que aproveita os objetos
quebrados. Esta é a rotina que vem acontecendo regularmente. Fui pesquisar:
A classe A e B no país representam 15,5% da população. Tem
hábito de consumo exagerado, isto fazendo uma generalização. A Classe D e E tem
32,5% da tabela e estão praticamente alijadas do mercado de consumo. Restam 52%
onde pequena parcela a que pertenço tem hábitos próximos da classe B
responsável pelo exagero, com não
aproveitamento de quase nada. Portanto aproximando um quinto da população. Realmente
uma pequena parcela que consome em exagero.
A classe C media e baixa também tem excesso de consumo, mas
se restringe mais a apresentação pessoal e pequena parcela em eletroeletrônicos,
carros [aqui andam de bicicleta pela topografia] e mobília. O que move tudo é a
propaganda estimulando o desejo e a competição social.
Este estimulo ao desejo sempre foi combatido na história da
humanidade. No Velho testamento temos o Bezerro de ouro, onde Moisés matou os
adoradores e também como exemplo o Rei Midas que teve que negociar e devolver a
graça que ele indevidamente pediu, senão morreria a mingua.
Aristóteles combateu o desejo e, Sidarta Gautama, o Buda fez
do controle do desejo todos seus ensinamentos. Na era Cristã, seguindo a
filosofia grega, o desejo excessivo foi considerado pecado pela igreja. Santo Agostinho dedicou-lhe especial
atenção. Este controle foi mantido até
recentemente quando principalmente o Neoliberalismo de forma abusiva o
transgrediu e os Sete Pecados Capitais ficaram esquecidos num canto. Mas o que
são estes pecados?
O primeiro é a Gula, [demônio Belzebu] é o excesso de
alimentação. Facilmente visível com o estatus dado ao modo de comer, onde
receitas modernas, com ingredientes importados e muitas vezes desconhecidos substituíram
o caderno de receitas da família com aproveitamento da melhor forma dos
produtos locais. Sofisticou-se a alimentação.
A avareza, ou o desequilíbrio de ter, demônio Mammon, tem
tudo a ver com que estamos observando. A seguir a Luxuriam demônio Asmodeu
condena o excesso de prazer sexual e material, atitudes frequentes
atualmente. Depois temos a Inveja, demônio
Leviatã que além do desejo, faz parte da baixa estima e da depressão, doença
muito atual e epidêmica. E por fim a Vaidade, cujo demônio é Lúcifer que Santo
Agostinho considerava a mais importante, separando-a da Soberba. Talvez seja a
mais estimulada pelos meios de comunicação no mundo atual.
As que faltam a Ira, demônio Azozzel e Preguiça, demônio Belphegor
não se enquadram na discussão.
Como vemos o mercado, através do controle da Imprensa, o que
é evidente, já que o controle de verbas da publicidade vem dele, inverteu o
mecanismo religioso de controle que predominou durante toda idade média, como
herdeiro da mitologia e das religiões anteriores ao Cristianismo.
No Brasil como todos podem notar, ao tentar sintonizar uma
rádio FM determinada, teremos grande dificuldade dado o grande numero de rádios
Evangélicas ocupando a maioria do espaço. Todos os canais de televisão, se exceção
apresentam programas relacionados às novas igrejas. Na Câmara dos Deputados, a
bancada dos ditos Crente é uma das mais fortes e mais unida. Como ocorre isto e
por quê?
A religiosidade milenar não desaparece simplesmente do dia
para a noite, ela permanece na população. Como o novo sistema é muito recente,
as novas seitas, aproveitando-se do estimulo ao consumo e provavelmente
estimulado pela classe produtora, lembrar que nada em politica acontece por
acaso, usou um artificio para se firmar e ajudar o mercado. Como?
Na Idade Média acreditava-se, seguindo a tradição
greco-romana que: Tudo que existe na terra é cópia de objetos perfeitos que
existem no céu. São apenas representações. Ou seja, tudo que tenho é apenas
cópia. Assim sendo, usando o imaginário que ainda está impregnado na população,
esta cópia foi transformada em propriedade. Basta ao adquirir um carro, por
exemplo, colocar um adesivo dizendo: Pertence a Jesus. Feita a substituição,
paramos de consumir e o consumo passa para responsabilidade divina. Deste modo
podemos comprar sem culpa, já que não somos nós os responsáveis.
O grande problema é que em breve estaremos consumindo três vezes
mais que o planeta pode nos oferecer, o que logicamente provocará mais fome e
miséria nas populações marginais e menos privilegiadas. Atualmente a miséria
atinge a casa de bilhão e deverá aumentar.
Por outro lado, nações com menor território ficarão cada vez
mais dependentes de nações produtoras e se repetirão crises como a atual crise
da Europa e EUA.
A previsão de futuro não é boa se este sistema continuar. A
devastação deverá ser muito grande, acompanhada de miséria de grande parte da
população. Como sabemos que a história não volta, urge encontrar novos rumos.
11/11/12
Tony-poeta