sexta-feira, 13 de abril de 2012

PROCURA VÃ


PROCURA VÃ






Apavora!



Alucinação... Ri e chora,

Fantasias...

A ilusão

Gerando no vácuo

Lágrimas de frustração.



Ser só!

É rodar...

Rodar na busca dos ventos

Num mar em calmaria

Vendo as aves paradas no horizonte,

Sem um movimento,

Fixas.

Formação estática.



Fantasia!



Ser só!

É procurar um espelho,

Um retrato...

Uma figura que seja

Que me traga todo enlevo,

Mas que não seja eu mesmo.





Sem data

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A ENCERADEIRA


A ENCERADEIRA.






Ju estava realmente contente, a satisfação era visível. Acabara de colocar uma pia maior na sua pequena casinha. Ela e o marido trabalhavam, e bastante, com empregos assalariados. Três filhos estudando. Pouco restava de poupança para tornar um pouco mais confortável a casa de mutirão. A pia adequada substituía a prestação do computador dos filhos que acabara de ser quitada. Próxima aquisição só daqui a um ano, quando acabar esta nova parcela.

Lembrei-me que em toda infância e juventude em casa havia controle das despesas Na maior parte das vezes incluía a alimentação. Um queijo, um azeite era programado. Quando em casa foi comprada a enceradeira, abri a porta da sala deixando esta visível para a rua e comecei a mover o barulhento objeto para ser visto por todos. O interessante é que, como não tínhamos empregada, minha mãe me obrigava a fazer algum serviço doméstico, o que detestava e me envergonhava:- coisas de mulherzinha, diziam os coleguinhas, mas muitos também ajudavam suas progenitoras escondidos.

A tal enceradeira quebrou meus melindres. Era uma novidade. Era caro. Por fim uma demonstração social.

Pior foi o rádio comprado anteriormente, tocou a todo volume por uns dias, até o vizinho reclamar com minha mãe e eu receber o devido pito.

O tempo passou. Hoje pouco me lembro de minhas aquisições posteriores. Estão ali como que sempre estivessem presentes. Estes dias o computador de minha esposa teve um problema. O técnico demoraria alguns dias. Não emprestei meu notebook, fui as Casas Bahia e comprei um de estepe, quebraria o galho e ficaria para visitas. Os tempos mudaram?

Sim. Além da mudança os valores se perderam, é um mundo descartável para a classe média. Não há vibração. A pia da Ju tem valor, a enceradeira de minha mãe valia muito, mas, hoje objetos e por contigüidade pessoas tornaram-se descartáveis. Nunca se teve tão pouco sentimento de posse, perdeu-se o sentimento de perda também e a sociedade passou a se comportar como robôs comandados, sem sentimentos e sem vínculos esperando que apareça algum objetivo real, sem ser ganhar na loteria. Enquanto isto as pessoas caminham a esmo sem saber aonde ir e despidas de afetos, o suprem nas telas televisivas onde vive uma sociedade completa que passa a ser a do cidadão, com seus amores e sexos vibrantes.

É uma pena.


BUSCANDO SOLIDÃO


BUSCANDO SOLIDÃO




Súbito, sensação estranha me transpassa,

Foi um detalhe apenas, sem poesia.

Um objeto, um sorriso, talvez uma palavra,

Desencadeou um turbilhão em minha mente.

Meu pensar, fora de mim, local estranho!

Confunde o pensar coerente,

Terra ilusória, mundo inexistente.

Que me cobre de lembranças não vividas.



Que mundo é este, paralelo,

De espaços inexistentes,

De amores jamais vividos?

Dimensão ilusória que enlouquece

Com amores sofridos

Angustias sempre presentes...

Louco busco este mundo no espaço.

Ele inexiste.

Busco a musa sem forma que angustia

Mas corredia não ri, nem chora.



Este mundo existe sim

É a angustia de ser só...

De querer se isolar

Num mundo imaginário

Que Minh alma acossa.

13/04/2012

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quinta-feira, 12 de abril de 2012

O AMOR


O AMOR




Amor é busca de compartilhamento

E junção de momentos eternos

Nos afagos ternos dos sentimentos.

Amor é buscar amparo e amparar

É buscar consolo e consolar

É buscar a vida e doá-la

É viver no outro os seus desejos

É despersonalizar e transmitir

Uma força inusitada de viver,

Fazer viver e juntos

Continuar a humanidade.



12/04/2012

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A DESCULPA


A DESCULPA




A aceitação social é luta diária de cada ser. Para pertencer, além de ser reconhecido.  tem que ser também aceito. Esta implica em compartilhar gostos parecidos, atitudes que, dentro de uma variabilidade prevista, comunguem opções que seus pares igualmente tomariam.

Como o viver se compõe de acertos e erros. O errar é sempre aflitivo. A pessoa que sofre um insucesso, eu tem um problema social, dela ou de seus familiares, ou mesmo que apresenta uma ideia que não corresponde ao consenso; por defesa de seu pertencer coloca-se em defensiva. Usa todos os argumentos para não deixar o não pertencer imaginário virar realidade.

Nunca uma frase esteve tão presente na vida das pessoas como:- O que vão pensar disto?

Deste medo começa um processo de esconder a possível transgressão, sua, de seus familiares e pessoas mais chegadas.

Como a desculpa, sempre uma inverdade, não tem suporte; a vergonha acaba aumentando ao invés de diminuir. Um fato leve pode tornar-se um grande boato, aí sim com repercussões sociais desabonadoras.

Diante de um fato negativo real, o ser humano ao invés simplesmente aceita-lo, falar: - Bem, eu [ou fulano] errei ou me confundi; para não abalar a posição social que julga ser sua, inventa uma desculpa, ao busca algum subterfugio. Quase sempre de improviso e sem consistência.

Lógico que fica pior, a outra parte normalmente percebe a tentativa de engodo, mas para não se indispor, finge que aceita. Intimamente, aí  sim, o conceito da relação é arranhado.

Se estas pequenas artimanhas não tem terreno muito propicio em pequenas sociedades de vida mais grupal e próxima, onde a desculpa pouco adianta. A sociedade de consumo onde, apesar de dependermos dos outros,  estes estando distantes; às vezes muito distantes com contato apenas virtual, as desculpas começam a se multiplicar.  

Atualmente a sociedade tornou-se uma sociedade de desculpas. Tanto no contato interpessoal, como comercial. Basta observar um serviço, por exemplo: Caiu a internet. Liga-se na operadora, o serviço eletrônico manda digitar o numero que está no contrato de serviço e a seguir a operadora eletrônica responde:- A área de seu aparelho está em manutenção, deverá ser reestabelecido em duas horas. Lógico que não acontecerá nada disso. Se for um problema técnico, uma chave que caiu na distribuidora, em poucos minutos, ou seja, o tempo de levantar a chave voltará o serviço, se o defeito for mais complexo, nem em duas horas voltará.  Mas, mesmo nos serviços a desculpa foi integrada no cotidiano.

O que se observa é que, se houver honestidade, se usar a verdade, mesmo que cause pequeno mal estar momentâneo; o fato da pessoa não se sentir enganada tem um retorno positivo e, o autor da falha recebe muito mais credibilidade do que a escondendo.



Apesar da generalização da mentira, como estamos vendo, a verdade é a única que dá sustentabilidade, desde que o agente da ação a explique e assuma.

Não podemos viver numa sociedade onde se busca a mentira.



12/04/2012

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QUADRA: VIDA


QUADRA: VIDA




Passando neste mundo

Qualquer casa apetece.

Basta que tenha paz

Que o amor aparece.



12/04/2012

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

portal da separação

PORTAL DA SEPARAÇÃO


Em nuvens, borrões e cores desfalecidas
Abre-se o portal.
Passagem para o futuro?
Hora de jogar no quarto de despejos
Dentro da lata de descartes
As recordações, que já foram boas
E que serão passado.

Estranho portal
Onde o futuro não leva
Nem apaga o passado.
Apenas revela o que não é mais
Está encrustado,
Debilitado
Onde gestos deformam=se
Em caricaturas.
De movimentos artrosados
Com seus passos lentos
Que não levam.
Passagem inútil
Titubeia...
Chora... Chora...
Frente ao portal
Que ostenta uma placa
Cujo nome é
JAMAIS.

11/04/2012
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terça-feira, 10 de abril de 2012

VOCÊ, O MOUSE E EU.


VOCÊ, O MOUSE E EU.



Vermelho, o ícone apontou:

Chegou uma mensagem

Era tua imagem

Que corria pelo mundo

Num filme distante

Dizendo: - Eu te amo!



Se no filme, tu corrias,

A minha mente fugia

Nas plagas da solidão

Teu retrato na tela

Sem corpo e sem perfume

Só trazia ciúme

Mesmo dizendo amores

Mandando belas flores

Que não sei onde floresceu.



Amor virtual. Fantasia

Deste mundo de poesia

Entre você e eu.

Prefiro teclar nos sonhos,

Onde sinto teu perfume

Percorro tuas formas

Falo: sou teu

E me acaricias

Em gestos e poesias.



Esta tecla de material duro

Não fala de passado, nem futuro.

Apenas mostra; a tela de plasma,

Plasma mumificado e frio

Que não corre em cascatas

Que não inflama as veias

E avermelha o rosto,

Eriça os pelos e solta odores

Que formam amores.



Não... Não quero o mouse

Quero ti, como sereia

Cantando em minhas orelhas

O canto que dissolve o ser

E o integra no amor.



Quando na tela falas:

Boa noite, te amo, vou dormir.

Podes crer nesta hora,

Vou sair

Para o mundo da fantasia

Só para te procurar.



10/04/2012

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segunda-feira, 9 de abril de 2012

ESTAREI VIAJANDO POR UMA SEMANA


ESTAREI VIAJANDO POR UMA SEMANA







Estou arrumando a mala e correndo as mensagens. Engraçado, apesar da viagem se esperada, não mais me animo a fazer.

Vou rever e bater papo com velhos amigos, contar causos, recordar. Isto é muito bom.  Mas seiscentos quilômetros de estrada é muito chão. Mas vamos lá. Apenas lembrei-me das pescarias da juventude.

Era programado com detalhes, todos viveres, bebida, gelo, traia, caixa de isopor, panelas, pratos, barracas e cobertas.

Arrumava-se uma carreta para levar todo material. Dia anterior com cervejas todos se reuniam fazendo a arrumação. Depois era andar mil quilômetros, com estradas de terra abertas não se sabe como, quase uma picada e chegar ao lugar que fulano nos indicou.

Após uma semana embalavam-se os peixes no isopor. Se não pescasse nada, comprava-se do pescador da vizinhança. Não se podia voltar sem peixes. O que diriam?

Mas só o isopor era arrumado. O restante jogado na carreta.

- Que se arrumasse com o balanço da estradinha! A viagem daria um jeito. Cansados chegava-se com os peixes.

Pensando bem, a viagem de nossa vida é mais ou menos assim. O rebento chega com tudo arrumado. Quarto azul ou rosa. Enxoval completo. Alimentação programada. Tudo em perfeita organização. Quando adulto já está tudo jogado, apenas embala poucas fantasias e deixa o restante acontecer. Estamos com a idade entrando na carreta de retorno.

É a vida.

Já que é assim, vou arrumar minhas malas de ida.

À volta... Será que dá para despachar?





09/04/12

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A Senhora da Serra de Botucatu


A senhora da Serra de Botucatu.







-Moço não tem perigo de o ônibus cair na serra? Lembrei-me desta senhora hoje, pois amanhã vou a Marília passar uma semana.

A Serra de Botucatu faz parte de Mata Atlântica e pelo terreno montanhoso, alto e acidentado ainda guarda a vegetação nativa [felizmente]. A viagem para Marília na época; inicio dos anos setenta, era por lá que se fazia. Posteriormente a Rodovia Castelo Branco, a contornou, passando por lugares menos íngremes e com menor número de curvas. Mas era por ali que fazia minhas viagens mensais para reabastecimento monetário com minha família.

Quando viajava no período noturno, normalmente dormia. O Expresso de Prata fornecia cobertor e travesseiro [bons tempos!]. Nas viagens diurnas, apesar da dificuldade de se ler em um ônibus em movimento, a vista ajudava, não usava óculos, e conseguia ler as matérias da faculdade por quase toda viagem. Não costumava conversar com o passageiro ao lado.

- Moço, falta muito para chegar a Serra?

Era uma senhora de perto de cinqüenta anos, bem vestida, com um vestido que se notava ter sido comprado em loja de grife, apesar de não entender nada de moda; sapato alto com salto fino de uns sete centímetros e uma pintura na face discreta e bem distribuída. Era realmente uma senhora elegante e provavelmente de boa família, como se dizia na época. Apenas um detalhe chamava atenção. Portava uma embalagem de bolso, típica de filmes americanos, onde os mocinhos levavam seu uísque.

- Está quase chegando, respondi, ainda estamos em Itu. Itu é caracterizada por possuir muitas pedras ao redor da estrada, pedras muito grandes, com formações diversas onde minha imaginação sempre viajou com sua beleza. Dizem que tudo é grande por lá, deve ser devido às formações rochosas.

- Estamos na Serra? Poucos minutos depois repetiu à senhora.

- Mais um pouquinho, e estamos lá. Repeti.

- Meus filhos me falaram que a serra é perigosa. Estou com medo. Por isso trouxe este uísque, acho que me acalma.

-Não tem perigo nenhum. Reforcei.

Estava começando a Serra. Sempre a olhei com admiração e como fonte de inspiração. A Mata é linda. Olhar os precipícios cobertos de verde, intocados é realmente alguma coisa fotográfica para a memória.

- Estou com medo, me desconcentrou a senhora. Além de estar na poltrona do corredor, sempre gostei da janela, onde fica mais difícil admirar a paisagem, tinha uma fina senhora tomando uísque e repetindo a mesma coisa. Achei melhor tranqüilizá-la:

- Não tem perigo nenhum. O motorista é experiente e vivo fazendo esta viagem, nunca aconteceu nada.

- Meus filhos falaram que era muito perigoso e, tomou mais um gole.

Nestas alturas estava achando a mesma mal educada. Já que ia encher meu saco, pelo menos dividisse o uísque, coisa que ela não fazia a menor menção de fazer.

Hoje vejo como menti. Algum tempo depois, minha mãe foi visitar-me. Levou consigo o Toninho, um rapaz de dezenove anos que trabalhava para a firma da família, para não viajar só.  Não encontraram passagem de volta no domingo. Tinham que estar em São Paulo na segunda. Emprestou meu carro, o meu fusquinha alemão de teto solar. Capotaram no final da descida. Nada grave, era apenas um desnível da estrada para o acostamento. Ninguém se machucou, os caminhoneiros ajudaram a desvirar o carro que estava de rodas para cima. Foram a Capital. Vazou todo óleo, não repuseram. Fundiu o motor e, fiquei um bom tempo andando de carona. Mas atenuando a mentira, na época não tinha ocorrido o fato.

Não adiantou. Cada curva da serra a senhora dava um gritinho Não consegui ler, nem ver a paisagem.

Finalmente a senhora fechou a janela com aquela cortininha do ônibus. Não deu mais para ler, nem ver a paisagem.

Ela roncava bastante...





09/04/12

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HIPNOTIZADO


HIPNOTIZADO





Fiquei hipnotizado.

O coração parou no ar

Pelo capricho

De teu olhar.



Meu coração parou!

Foi num estalo...

Perdeu-se no mundo.



Ficou inter galáctico,

Pior de tudo:

Não sei qual mundo.

Projetado no espaço

Outra dimensão,

Dimensão infinita,

Que tem teu olhar

Quando me fita.



Viajei!

Embora parado.

Teu olha me domina.

Obriga-me a amar.





19/09/1995

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domingo, 8 de abril de 2012

`ZÉ DO PITO


ZÉ DO PITO






Todo mundo que passava em Zé do Pito reclamava da sujeira. Afinal de contas, quatro ou cinco quarteirões asfaltados da cidadezinha não eram para ficar sujos. -Antes estava tão limpo. Comiam seu lanche com lingüiça, compravam uns quilos, para levar e iam embora. – A lingüiça valia à pena, diziam eles.

Na verdade a história da sujeira da Cidade de Zé do Pito tem muitos episódios.

A cidade de Nossa Senhora do Rosário da Cabeceira do Rio Feio, nome dada pela avó de Zé do Pito, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário de quem era ardorosa devota. A cabeceira era homenagem a escrava Lina que a havia criado e Rio Feio era o nome do rio. Como seu neto começou, além de cuidar da criação e lavoura, a vender lingüiça no posto de gasolina onde paravam os viajantes; começaram associar a Zé do Pito, apelido dado por sempre trazer um cigarro de palha nos lábios. E ficou a lingüiça de Zé do Pito. Por fim referiam-se ao lugarejo como Zé do Pito.

Hoje na placa além de Bem-vindo a Nossa Senhora do Rosário da Cabeceira do Rio Feio, escrito em letras bem pequenas para caber em uma linha, em letras grandes temos Zé do Pito.

O Coronel Fagundes Lucena, avô de Zé, era proprietário daquelas terras, vivia fazendo política, junto com os Cunha Dias da fazenda acima. Na propriedade de baixo o Gomes Abreu não se metia em nada. A estrada, na época de terra, cortava a fazenda dele e dos Abreu e o Cunha tinha uma estrada de acesso apenas.  

Quando estava para passar o asfalto, já tinha até sido aprovado o projeto, Dona Raquel, esposa do Zé do Pito estava esperando seu primeiro filho, e não queria o barulho de máquinas para perturbar a gravidez. A estrada passava em sua porta. Cunha Dias, deputado na época tentava junto ao governador passar a estrada em sua propriedade, mas o desvio ficaria caro, e o Gomes Abreu nem tomava conhecimento. Aproveitando o novo aliado foram falar com o governador.

Este chamou atenção que se tirasse a estrada de Nossa Senhora do Rosário não teria nenhum voto na região. Chamaram o engenheiro.

O Gustavo olhou a reivindicação, pensou e após dois dias chegou a uma conclusão.

A estrada passaria na divisa dos dois Coronéis, se faria um desvio para a Rosário, o Coronel Fagundes doaria cinco quadras para dizer que era cidade, faria um barracão para escola, outro para o centro de saúde. O Governador asfaltaria as ruas e se votaria na criação do Município.

Os coronéis ficariam com a estrada e o Coronel Gomes, que não aparecia mesmo ficaria sem nada, só sobraria o velho túnel que cortava sua fazenda.

Assim a cidade passou a Município e o Coronel Gomes ficou a ver navios.

Feita as exigências de praxe, fizeram uma captação de água do Rio Feio, dois tanques para clorar a água, um tanque para recolher esgoto e despejar no mesmo rio só que abaixo e longe da cidade. Foi feita a iluminação e asfaltada. Era uma cidade. O Coronel Fagundes morreu de doença e a sua propriedade foi dividida entra os quinze filhos. O Zé do Pito ficou com alguma terra e o posto de gasolina. Começou a vender lingüiça, uma especialidade que toda a família cultivava.

Esta ficou famosa e os carros de pessoal que viajava na região começaram a pegar o desvio para comer o seu lanche e levar o famoso produto para casa.  Logo as famílias dos irmãos, vendo que dava lucro, um por vez acabou montando uma lanchonete com venda de lingüiça. Como muitos tinham vendido partes da terra, os novos proprietários, ou montaram um pequeno comércio para os filhos, ou foram se empregar na atividade florescente. Formou-se realmente a cidadezinha.

Os Gomes também deram sorte. Um Japonês, isto é, um descendente, veio à região pensando investir. Todo mundo de olho puxado era chamado japonês. Como não quisesse vender a propriedade o Yoshi, este era seu nome, vendo o túnel úmido da velha estrada propôs parceria para plantar cogumelos. João, filho do coronel se interessou. Plantaram e produzia tipo exportação. Conseguiu então melhorar o acesso a estrada principal, via consulado, e; para ajudar no negocio veio o Freitas, um bom administrador, de confiança dos investidores. Por andar sempre com os investidores, o filho do Coronel Gomes passou a se chamar João Japonês pela população.

Os Fagundes governaram o município desde a criação do mesmo. Inicialmente foi Zé do Pito, depois seu irmão, a seguir seu sobrinho e por fim os dois genros, ele teve duas filhas. Mas na armação de criar a cidade não se pensou no lixo. Não era preocupação da época.

Não havia local para tratamento. A cidade por sua vez não tinha varredura. Quando fundada deixaram para que cada um cuidasse de sua porta. Com o aumento de carros comprando as lingüiças e aumento da população, mais as árvores que plantaram para não afetar a rede de esgotos, que soltava folhinhas miúdas o ano todo. Deste modo o local ficou sujo, com um amontoado de folhas, papel, sacos plásticos e dejetos.

I


O PREFEITO DA OPOSIÇÃO






Foi devido ao lixo que João Japonês, que sempre se candidatou a prefeito e nada conseguia se elegeu.

De inicio contratou o lixão da cidade vizinha, onde mandava com caminhões da prefeitura com o lixo local. Deu algum falatório. Mas o pior foi com as ruas, esta sim deu falatório.

João Japonês, devido à plantação de cogumelos tinha horror à sujeira. Se o cogumelo contaminasse, o que era possível, além de perder o negócio poderia ser processado, caso alguém ficasse doente pelo seu consumo. Isto fez com que ficasse excessivamente rigoroso com a higiene. Ora, a sujeira logo em frente o prédio da Prefeitura foi o estopim para medidas rigorosas.

Inicialmente consertou uma velha Van que se encontrava encostada, caindo os pedaços.

Depois, resolvendo também o problema de seu eleitorado, contratou catorze moças que moravam no Grotão para o serviço. O objetivo tinha duas motivações. A primeira era política, quase todo mundo ali, naquele lugar retirado, de terra ruim, quase miserável, e de difícil acesso, votara nele. Tinha que retribuir e cativar. A segunda era sentimental. Ao visitar o Grotão teve pena das moças que lá moravam. A oportunidade de conhecer um futuro marido era quase zero. Inclusive a mãe de uma delas tinha chamado atenção para o problema. Se fossem trabalhar na cidade, poderiam conhecer, por estar passando o dia todo nas ruas, algum rapaz decente e até dar casamento. Seria a boa ação para compensar o interesse do voto. Era muito penitente e devoto. Logo mandou que viessem todas moças solteiras, em idade de arrumar marido.

Mesmo assim continuavam jogando tudo que era lixo no chão. O Freitas sugeriu:

-Porque não educar a população.

 Ao invés de proibir e ameaçar, eu treino as moças para varrerem o lixo e, gentilmente falarem: Sem lixo fica mais bonito. Basta falar sorrindo.

João Japonês adorou a idéia. Limparia a cidade e daria as suas afilhadas condições de falarem com as pessoas, tinha percebido que ninguém olhava para varredores, era a tal população invisível.

Imediatamente treinaram e foi posto em prática. Resultado excepcional.

Em poucos meses a cidade estava totalmente limpa, ninguém mais jogava lixo. Até o Zé do Pito levava um saquinho para colocar as cinzas e bitucas. Dizia: - Não quero nenhuma mulher do Grotão me chamando atenção por ordem do prefeito.

II


AS ELEIÇÕES SEGUINTES




 Estava chegando às eleições, João Japonês tinha tudo para ser reeleito. A família de Zé do Pito começou a armar a estratégia para retomar a prefeitura. Pensaram muito. Chegaram à conclusão que o ideal era trazer o Rodrigo.

Rodrigo era o neto do Zé do Pito. Crescera na cidade e tinha o apelido de Pitinho. Posteriormente foi estudar na capital. Formou-se em administração na melhor e mais cara escola. Casou com uma moça de boa família e algum dinheiro chamada Laís.

O grande problema era que a esposa não queria morar no mato, como o marido mesmo falava e, , como saira há muito tempo, muita gente não o conhecia.

- Vamos começar pela casa, falou o Coronel, temos tempo. Com a casa bonita a moça vem. Pegue a casa de Balbino, um primo que se mudara, chame este tal de decorador, mas quero o dos bom, e faz ficar uma casa que nem as de filme americano. E seu secretario Julio saiu para buscar na capital.

Veio o arquiteto, pegaram os melhores pedreiros e em três meses tinha a casa como o coronel queria.

Faltava o Rodrigo. Chegou, Laís ficou receosa. Mas, o emprego do marido, mesmo numa multinacional, não era lá estas coisas. Podia ser melhor ali, teria mais tempo e mais dinheiro e o marido poderia ser prefeito e até deputado. Esta palavra deputado lhe agradava tanto, que foi principalmente por ela que concordou com a mudança. No fundo pensava: - Depois de eleito, a gente volta para capital no melhor bairro e na melhor casa. Acabou concordando como o Coronel previu.

Rodrigo andou pela rua, correu as quadras da cidade e, só duas ou três pessoas o reconheceram. Tinham esquecido o Pitinho.

O coronel, ao saber da sondagem do filho falou:

- Isto não é problema. A gente chama uma agencia de propaganda. Trás a mesma do Abreu Cunha que já era deputado. Eles dão um jeito. Tem que ser gente boa, pois o desgraçado do Japonês tem fama de honesto.

Veio a tal da agencia. Fez uma pesquisa, o que era fácil, e traçou o plano para as eleições.

Numa segunda feira, Estênio, o dono da agencia apresentou o plano. Era o seguinte:

Como ninguém lembrava mais do Rodrigo, a campanha teria uma primeira fase. O slogan seria O PITINHO AGORA É PITÃO.

O coronel falou: - Mas vão maliciar.

Estênio respondeu: - É exatamente isso. Além da malicia, vão ver que o Rodrigo cresceu. Agora é quem manda. O nome Rodrigo vai ficar para segundo plano. Daqui para diante vamos chamar de Pitão, reforçou.

Depois a gente vem com o que é mais moderno em propaganda, sem sujar as ruas e dá para ganhar.





Chegou à campanha. Pitão teve outdoor luminoso que contava a trajetória dele e de seu pai.  Contrataram todos os cabos eleitorais da cidade. Apurada as urnas Pitão era o novo prefeito, por dez votos de diferença. O Coronel ficou radiante. Tinham recuperado a cidade.











 


III


 


A ADMINISTRAÇÃO E AS NOVAS ELEIÇÕES








Assim que assumiu Pitão começou a mandar gente embora. Tinha aprendido na Faculdade que o segredo da administração é enxugar a máquina. Olhou toda relação de funcionários.

Começou pela varrição. –É um absurdo tanta mulher pra tão pouco serviço, e ainda gastando um carro e gasolina. Mandou todas embora. No lugar contratou três moças indicadas pelo Tonho, Chico e Zuza que o tinham apoiado. Ainda gozou: - Vão embora e sem namorado, são incompetentes.

A coleta de lixo: arrumou um sitio abandonado e mandou fazer lá o despejo de dejetos.

O tratamento de esgotos foi interrompido: Fica para depois, ninguém vê, falou Pitão.

Com pouca varrição, as folhas das árvores começaram a sujar a cidade. As novas funcionárias, de má vontade varriam uma vez, ao invés de três como era antes, de modo que quando acabava a última rua, a primeira já estava suja.

Para complicar o aterro sanitário, por não ter condições, foi interditado pelo Estado e, o aterro anterior já tinha sido alugado a outro município. Começou a se recolher o lixo irregularmente, por não ter onde despejá-lo.

Em um ano, todo mundo jogava papel e outros objetos na rua, como era antes. Com as chuvas o lixo acumulado entupiu as bocas de lobo. Começou a flutuar sujeira pela cidade.

Os corneteiros do prefeito começaram a jogar a culpa nos turistas que iam comprar lingüiça e, depois começaram a culpar a própria população.

O rio por sua vez começou a não ter peixes, nem um misero lambari para pescar.

Quando se preparava a campanha da reeleição, tinham este problema. O plano era Pitão se reelegeria; o vice, a ser escolhido, assumiria. No segundo ano renunciaria e sairia para deputado Estadual em dobradinha com o Abreu para Federal.

Preparando a campanha foi feita uma reunião. Nela convidaram todas as pessoas importantes da cidade. Omitiram o plano de renuncia, apesar de todos desconfiarem, dividiram cargos antecipados, prometeram todas as vantagens possíveis e impossíveis.

Um comerciante se atreveu a perguntar:

- E a sujeira da cidade.

O Coronel Zé do Pito imediatamente retrucou:

- É o povo que é porco.

Todos concordaram.

Após dois anos, o Município de Zé do Pito tinha seu primeiro Deputado Estadual.








a una rosa holderlin


A UMA ROSA

FRIEDRICH HOLDERLIN

TRADUÇÃO AO ESPANHOL-MANUEL DE MONTOLIU



Uma feliz pascoa



Naturaleza, fuente de la vida,

Oh, reina na los campos,

A ti y a mi nos lleva eternamente

Em su Dulce regazo maternal.



Rosa, nuestro atavío se marchita

A los dos la borrasca nos deshoja;

Mas pronto estala la semilla eterna

Em nueva floración primaveral.