CONTEMPORIZAR
É normal na vida diária, nós mesmos ou alguém próximo com
liberdade e ascendência, diante de um pequeno problema falar: - “Deixa pra lá”,
ou “Vamos por Panos quentes”; em outras palavras, contemporizar e, dar o
assunto com encerrado. Por ser uma coisa sem importância e corriqueira, a parte
que se sentia prejudicada ficar quieta. Resolveu o problema?
A resposta é Não! O problema foi adiado e será potencializado
assim que houver outra situação, às vezes menor que o anterior. O desgaste será
muito maior; e pequenas situações desencadearão guerras, como vemos todos os
dias nas relações familiares, de amizade ou de trabalho.
Mas, porque permanece este probleminha, aparentemente sem
importância e, que foi deixado de lado?
Tudo se resume a uma questão de espaço. Cada um busca seu
espaço e determina seus limites. Numa relação de casal ou num grupo de amigos
estes também tem precisão e exigem respeito. Vamos ilustrar com um casal.
João e Maria casaram. Montaram apartamento, ganharam presentes.
Passou a lua-de-mel. João acostumou tomar cerveja numa caneca única que
ganhara. Maria chega um dia antes dele e, pega a caneca para tomar chá.
Ele ao entrar percebe, fala:
- uso esta caneca.
- É ideal para o chá, vou pegá-la para mim. Fala ela e,
continua com a caneca.
Dias depois, ao chegar, pega o copo de cerveja e não acha o
pratinho que fazia jogo com a caneca que fora confiscada. Ia por, como sempre a
azeitona que habitualmente acompanhava sua bebida. Estava com as bolachinhas de
Maria, para acompanhar o chá.
- Usar a caneca sem o pires desfaz o jogo, alegou Maria. Ele
contemporizou.
Uma semana depois Maria vai comprar determinado produto e
junto com este compra uma carteirinha de R$ 30,00 com o cartão da casa. A
quantia é insignificante para a renda do casal, mas começa a maior briga.
O que aconteceu é que: a invasão de espaço da caneca e do
pires não foi assimilada. Tinha que ser conversada com calma e diplomaticamente
estabelecer os limites. A briga é inicio de uma guerra que pode se prolongar,
com desfecho ruim para ambos. Maria é consciente que invadiu espaço e João
certamente, pela sua reação sabe que seu espaço foi invadido. O deixa pra lá acabou
em guerra, ou seja, não foi deixado.
Vamos supor que Maria chegou com a carteira e João continuou
a por panos quentes, falou; - Você não está precisando de carteira. Ela
respondeu em monossílabo ou em defensiva, o que é o mais comum e, o assunto foi
enterrado.
Neste caso a abertura de espaços por João, inconscientemente
em Maria vai ser interpretada como sinal de fraqueza. As invasões vão
prosseguir. Ele na verdade não é fraco e nem inconsciente do que está
acontecendo. Provavelmente é seu modo de ver a vida, aprendido em sua casa que
tem um dos membros, mãe ou pai totalitário e ele então optou pela paz.
Com o tempo vamos ter um casal que, um fala e o outro se
cala. Saem para passear e só um conversa e o outro fica quieto [neste exemplo o
João, poderia se Maria em outro caso]. Os amigos vão dizer:” João é um bundão”. Este relacionamento ao invés de
brigas vai a uma falta de diálogos. Pode se perpetuar, e é comum encontrarmos
casais idosos onde um manda e outro obedece. Bastante comum também é que o calado, sem
prévio aviso abandone o relacionamento e, vai viver com o amante que arrumou há
algum tempo. As comadres vão dizer:- “Era uma brasa encoberta.” E realmente era
uma brasa sufocada.
Neste caso também faltou o estabelecimento de limites e
conhecimento mutuo dos parceiros.
Devemos discutir pequenas coisas também, não é solução contemporizar.
Deve ser levado em conta que o invasor sempre vai estar na defensiva, por menor
que seja esta invasão. É prudente, portanto esperar um momento de descontração
e, se possível iniciar o diálogo em tom de brincadeira para não virar uma
guerra. Os dois sabem que não é brincadeira, mas aceitam. A guerra uma vez iniciada, sempre se prolonga.
As relações entre amigos, menos intimas, portanto, devem
seguir o mesmo padrão, senão a amizade acaba. Amigo quieto é mau sinal.
As invasões sempre acontecem, são instintivas, mas o bom
senso entre os participantes e um diálogo em hora adequada, mantem o
relacionamento no nível necessário.
Tony-poeta
20/09/12