sábado, 29 de outubro de 2011

DOIS TEMPOS.







Na juventude antes presente,

As belas moças

Inquietude!

A desejar...

Projetar anseios

Em orgias loucas...

Para o futuro

Poder criar.



Agora o anseio

Que ainda guardo,

Tentando forçar,

Me atormenta

Na forma frustra,

Ainda efêmera,

De no passado

Querer voltar.





30/10/2011






sexta-feira, 28 de outubro de 2011

TELEVISIONITE.





 Atendi há seis meses Dona Esmeralda, como segurada de um pequeno convênio. Esta senhora, de quase setenta anos tivera um acidente vascular cerebral e estava com o lado direito do corpo semi paralisado; o que a obrigava a fazer uso de uma bengala.  Estava feliz por não ter perdido a fala, como acontece na maioria dos doentes dessa enfermidade.

Além da medicação necessitava de fisioterapia continuada. Era uma pessoa de formação adequada; fez um convênio que, embora o mais barato, lhe facilitaria o tratamento.

Feita a consulta: a medicação era correta e devia ser continuada, restando apenas controlar os exames e prescrever as fisioterapias necessárias. Aí residia o problema. Todos os procedimentos necessitavam de autorização do convênio, o que demandava tempo e deslocamento. Como não possuía carro e o transporte público é dificultoso para uma pessoa nestas condições; não havendo nenhum familiar disponível para atendê-la: vinha sempre sozinha.

Após vários sacrifícios impostos a paciente a encaminhei ao Centro de Saúde, onde também atendia e, a burocracia por incrível que possa parecer é bem menor. 

O Centro de Saúde funciona em um prédio antigo, portanto com uma arquitetura bastante ultrapassada para os padrões atuais. Há um novo prédio de especialidades, mas a parte clínica e burocrática permaneceu no edifício antigo, justificado e com razão, por ser um bem público não podendo ser descartado.

A paciente foi bem atendida pela idade e doença. Sempre foi prontamente encaminhada, na condição de preferencial. Parou de pagar o convenio, podendo usar o dispêndio mensal para suas necessidades.

Há alguns dias, após uma consulta rotineira, a mesma me falou que o “Governo” tinha que melhorar a saúde. Realmente fiquei perplexo:

-Mas a senhora não está sendo bem atendida?

-Estou, mas e os outros?

-O padrão de atendimento não muda, o que a Senhora apurou de errado?

-Aqui é bom, mas a televisão falou que esta ruim, tem que melhorar.

Com já atendi em outras cidades no Estado de São Paulo, sei que o atendimento não difere, podendo apenas haver piora em cidades maiores, pela demanda. Expliquei.

Não sei se convenci.

 Lembrei-me do livro de Bauman “O medo liquido” onde o domínio do cidadão é efetuado através do medo. Uma pessoa doente, portanto insegura, está propensa a se aterrorizar com qualquer informação que lhe imponha um possível risco; como no caso de minha paciente, onde as noticias sensacionalistas, não importa se reais ou não, sem a clara colocação da situação apurada e, seus reais motivos, nunca didaticamente explicados na mensagem telegráfica do noticiário, levam a uma generalização, que no doente é transformada em pânico, dada a insegurança presente no mesmo pela doença.

Este tipo de jornalismo é sim um fator prejudicial ao tratamento.

Dona Esmeralda continua me visitando e sendo atendidas suas demandas médicas. Porém, não sei quando deverei iniciar antidepressivos, para tratar a televisionite.






OUTRO SONHAR




Em cada sonho

Existe a tensão da perda.

O coração bate,

Dá uma zonzeira...

Planos...  Mais planos

Começam a girar.

O sonho anda.

Realiza-se...

A tensão aumenta,

Arrebenta!

Por fim desliza...

Incorpora-se ao Eu.

Então:

Começa de novo

Outro sonhar...





24/01/2009


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

AS VARIZES





Tinha mudado de consultório; o senhorio havia pedido a casa. Estava de casa nova, com secretária iniciando, atendendo meus pacientes em Clinica Geral e Geriatria. Era início dos anos oitenta, em Marília. Naquela época existiam poucos especialistas na região.  O médico fazia tudo: operações, partos, consultas e internações; o que unia a categoria, sendo comum um correr em socorro do outro; ora para ajudar num diagnóstico, ora para ajudar em uma cirurgia, ou mesmo operar.

Havia voltado a pouco de um curso internacional de geriatria em São Paulo, ministrado pelo Professor Pietro de Nicola da Universidade de Pavia, era minha oportunidade de ter uma especialidade, além de Clinico Geral. Todos os médicos eram antigos da cidade, e novato com apenas cinco anos de formado, só me sobrava o INPS para atender, com raros particulares.

Naquele dia, como em todos outros cheguei no horário e a sala estava habitualmente cheia. O Instituto liberava cento e trinta e cinco guias mês para cada credenciado, a que se juntavam os retornos; de modo que nunca se acomodavam todos sentados na sala de espera. Fui à mesa da secretária e havia consulta particular. Dei um sorriso. - Estava começando a melhorar, pensei com meus botões, otimista como sempre fui. Notei ainda vários particulares nos dias seguintes. Fiquei eufórico. Estava atingindo a elite da cidade, pensei! Fui a minha sala em meu ritual diário.

Logo entrou a particular, não me recordo o nome pelo tempo passado. Era uma jovem, vaidosa e extrovertida que logo que sentou disse:

-Vim curar as varizes.

Já havia vascular na cidade, aliás, duas equipes. Ambas, companheiras de aperitivos no Tênis Clube. Ainda confuso e por que não decepcionado. Retruquei:

- Varizes é com os vasculares, ia continuar fui interrompido

- Mas o senhor curou a Mônica...

Demorou, mas caiu a ficha. A Monica freqüentava o Tênis e contraiu uma flebite.  Tratei com medicação, como é o recomendado e, jovem com um quadro superficial, em

poucos dias ficou sã. Só me esqueci da vaidade e do imaginário da mesma, enfatizando que não eram varizes, não a convenci.

Monica espalhou no clube que eu tratava varizes sem operar. Eram os particulares da agenda.

Cancelei-os.

FERIADO considerações



Vinte oito de outubro

Feriado.

Ócio autorizado!



Você poderá descansar.

Na véspera tome cuidado:

Não esqueça. Vá a net marcar

Este laser já programado.



Não percas, portanto, a hora

Não terás onde sentar,

Pois a véspera foi feita

Para seu chope tomar.



De manhã vá ao mercado...

Tens a casa pra arrumar...

E a almoço atrasado

Vai te fazer reclamar.



De tarde a sogra visite,

Ouça os sobrinhos gritarem,

Brigue com o teu cunhado,

Não os deixe apanharem,



À noite após o banho,

Vá à TV bisbilhotar

O bandido muito estranho

Que vivia só de roubar,



Faça a briga de seu lar

Como que um complemento.

Nunca se pode evitar,

Na rotina do casamento!



Tome um banho, vá pra cama!

Amanhã já rebobinado

Terás uma nova chama

Pós o ócio programado!





26/10/2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O DVD quase poesia.




Vida monótona

Cheia de desejos

Insatisfeitos.



Uma Maria qualquer...

Ou Mario...

Homem ou mulher,

Um sujeito

Mero mortal...

Sentindo-se

Impotente,

Pequeno

Não pertencente,

Assim introspectivo

Amuado,

Fraco e coitado

Incapaz de pensar...

Na vida sem fantasias

Não conseguia sonhar.



Para resolver:

Encantado

Com uma locadora

Alugou mil DVDs

Na tela de plasma

A vida enganadora,

De outros, pode viver

Recostado no sofá

Com a tela a fornecer,

Uma vida que não há...



Adormeceu de cansado.

Continuou sem sonhar!



26/10/2011

Libia e Troia

                                                                                                          Uma visão social.




Após oito meses, de guerra na Líbia [Revolução só considero quando os contendores são do mesmo país] confesso que fiquei confuso. Uma série de acontecimentos ocorreu muito rápido, não respeitando a evolução normal de um ajuste social, ao que qualquer país está sujeito.

Como o lado revoltoso pertencia à tribo destituída de poder a quase cinqüenta anos, sendo seu rei deposto pelo governante atual, era evidente que esta tribo monarquista, de tendência a direita, fosse simpática ao ocidente capitalista. Até aí tudo bem.

Portanto, o lado que se identificava com os revoltosos resolveu defender seus iguais; propôs um bloqueio aéreo, para não haver um alegado massacre civil. Medida humanitária, mas, já com ares de intervenção em uma nação livre e pertencente a ONU.

O início da zona de exclusão foi o mais selvagem possível. Atacou as força Líbias em suas bases, destruindo todo seu armamento. Não deram a notícia de baixas, como que soldado fosse peça de fuzil. Na verdade as forças nacionais são sempre forças definidas como a de manter a ordem no país e não pertencem a seu governante, podendo inclusive ir contra o mesmo, o que aconteceu em algumas regiões do conflito, e ocorre em todos os conflitos. Por outro lado, a carreira que elas remetem, tem para a população a função de trabalho remunerado; seus componentes têm família e estruturação familiar não sendo peças descartáveis de um país.

Logo a seguir as “forças de paz” bombardearam a residência do governante matando um filho e netos do mesmo. Já se evidenciava uma invasão e execução sumária.

Chamou atenção ainda que o auto intitulado “conselho revolucionária” como primeira medida criou um Banco Central. Inédito em qualquer revolução.

Outro fato divulgado na Imprensa, aliás, tendenciosa aos revolucionários, é que os mesmos cobravam neste inicio de revolta medidas mais eficientes da OTAM

A intervenção do ocidente estava orçada em dois bilhões de Euros, e parece que a excedeu. O pais foi destruído em sua infra estrutura, as casas viraram pó e acabaram os serviços de água, esgoto, comunicações, saúde. Destruíram, no meio do Deserto do Saara, as condições de sobrevivência de um povo.

Os Imigrantes Negros provenientes de países visinhos e legalmente estabelecidos, foram acusados de mercenários, perseguidos e mortos.

A única coisa que permaneceu afetada em menor grau foram os poços de petróleo, já que as forças do antigo governo não tinham condições de bombardeá-las.

A queda do presidente deposto mostra a regressão a que está submetida à atual humanidade.

Na guerra de Tróia, a morte de Heitor mereceu, depois de acerto com Aquiles, que se fizesse uma trégua e o mesmo fosse enterrado nos rituais de seu povo. O que vimos hoje foi o cadáver de pai e filhos expostos a visitação publica, em decomposição, mostrando os sinais de tortura; em elevado grau de putrefação, a ponto dos visitantes terem de usar máscaras.

Quanto ao saque de guerra, este foi igual. Tanto a Líbia como Tróia perderam a condição de estados independente. No segundo os bens eram guardados em espécie e foram levados pelos invasores. No primeiro, os bens estão sob a terra, como petróleo e, será usado para pagar a divida de guerra. Não mais pertencerá a seu povo. Nada é de graça. A reconstrução, também paga com petróleo, será executada onde houver interesse, ou seja, em volta dos poços e refinarias. A população restante, que se dane!

Nada mudou, piorou um pouco.

O afeto e a imagem





A letra aprisiona o afeto

Para o mesmo ser libertado,

Ou no deleite de um verso

Ou para ser direcionado.



Se na poesia o afeto flui

Atingindo o coração

E a letra que o delimita

Permite qualquer emoção.



Mas se nele ponho imagem,

Aumento até a emoção,

Como que numa miragem

Guio a sentimentalização.

Para poder manipulá-la;

No campo do amor diria:

É definir como amá-la.





24/10/2011


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ela é ela?




Uma mulher...

Desejante...

Um samba...

Distante...

Uma janela.

Um espelho.

Ironia!

Melancolia...

Ela é ela?

Um vento...

Uivante.

Berrante!

Querendo cantar.

De boca fechada

A cama me apaga.

Começo a sonhar.

VACILAR - soneto



Vacilar eterno é nossa vida,

Nos becos que vem a nossa frente,

Vamos à busca de uma saída

Que parece fugir de repente.



Vemo-nos sempre num labirinto,

Caminhos que nos levam ao nada

E, nossos olhos buscam famintos

Eternamente esta certa estrada.



Súbito surge uma luz além,

Vem com ela o raio da esperança.

Mas... Chegando lá: nada! Ninguém...



Mirra o sonho enquanto a dor avança,

Até que um dia acaba nossa vida

Sem termos a busca concluída.



1966








segunda-feira, 24 de outubro de 2011

SEI LÁ!



Deu amargo,

Fel na boca.

Corre a noite,

Os fantasmas estão cantando.



Que noite!

Que ironia!

O Exu está solto.

Tristeza...

É noite,

Meia noite...

Ou mais... Sei lá!

É noite

Apenas noite

Buscando...

Buscando...

Sei lá!

É noite,

No entanto

Perfumam damas da noite e jasmins...

Que rosa boemia irá aparecer?

Que noite...

São trevas...

É mente.

São todos.





29/06/1972


domingo, 23 de outubro de 2011

NARCISO.




Sou narciso... rejeito a Eco.

Nasci só, o mundo se desprendeu

No ser, que de mim correu

Falando em repeteco...

Você sou eu! Você sou eu!

E perdido busco

O olho fusco

Igual ao meu.



Você mulher... parte de mim?

Quero ser teu,

Que de mim nasceu, como Eva.

Súbito!

A linda Eco, com minhas palavras

Grita ao vento o que eu pensava,

Preenchendo a frase que me eleva:

Apareceu! Apareceu!

Louco corro, me dispo

Disposto a ser inteiro

Você e eu... Mas então me releva

O espelho que diz: que você é eu...

Pois tua imagem já desapareceu.



À noite sonho...

O sonho que me afaga,

Mas sufoca em solidão,

Se você sou eu e ao não ver-te

Diacho!

Como posso ter-te,

Se você é ilusão

De solitário louco

Que a perdeu quando nasceu?





23/10/2011
















TRANSFERÊNCIA






Investigam o ar

As mentes sequiosas de defeitos,

Na atmosfera circundante

Formas bizarras são construídas:

O telescópio do olhar

Tenta penetrar a nebulosa do ser

E, avoluma o monstro da diferença.

O satélite da dor voa alem das plagas

Do desencanto e da desordem.

O projétil da desigualdade

Perfura o robô.

Num raio o instante se aviva

E se depara ante o espelho.





02/10/1969