terça-feira, 21 de abril de 2015

VIVER !


  VIVER!

 

Viver é caminhar

Rumo a areia

Para casar com o mar.

Nas noites de lua

A voz sorrateira

Das ondas escuras

Repetem o refrão:

Amar

Amar

Amar...

 

21/04/15

Tony-poeta

domingo, 19 de abril de 2015

DONA IOLANDA E O LEXOTAN - crônica -


 

 

DONA IOLANDA E O LEXOTAN


 

Terminado seu almoço Dona Iolanda, professora aposentada após trinta anos de magistério, se dirigiu a farmácia próxima à sua casa, onde costumava comprar as medicações receitadas nas consultas que fazia no Centro de Saúde. Iria comprar uma caixinha de Lexotan.

Tomava esta medicação há vinte anos, desde a morte de seu marido. Na época, com três filhos adolescentes estudando, com o baixo salário de professora, viu-se com a morte súbita do mesmo, diante de uma queda substancial de renda que veio agravar sua vida familiar. Foi parar no psiquiatra, completamente descompensada.

A medicação ajudou muito, foi progressivamente diminuída e o referido remédio ficou para ser usado em momentos de crise de angústia, apenas meio comprimido se necessário.

Os filhos se formaram, cada um tomou seu rumo, e a medicação ficou mais como efeito psicológico na caixinha de remédios, onde nas crises de solidão da casa vazia, quando ocasionalmente batia a insônia, tomava meio comprimido, sabendo que era mais um efeito psicológico do que uma ação efetiva e, ia dormir.  Cada embalagem de 30 comprimidos durava no mínimo seis meses, mas a ausência dos mesmos provocava insegurança.

Ao entrar na farmácia, de uma grande rede local, percebeu no balcão um funcionário e uma funcionária que nunca havia visto antes, certamente novos no emprego, já que havia visitado o estabelecimento para comprar perfumarias há uma semana. Os demais deviam estar fazendo suas refeições.

Foi atendida pela moça. Esta apesar de uniformizada, pelo corte de cabelos, penteados e postura lembrava-lhe os frequentadores de uma comunidade religiosa barulhenta das redondezas. Entregou-lhe a receita azul do calmante.

Os olhos da balconista saltaram e certa agitação tornou-se visível. Esta se dirigiu ao outro funcionário que confirmou a receita. Nestas alturas Dona Iolanda percebeu claramente a confusão diante da medicação pedida. Perguntou qual o problema da receita

- Não entendi a letra, falou a moça.

Dona Iolanda deu um sorriso e nada falou. Dra. Karen, que lhe havia receitado, tinha uma letra invejável diferentemente dos garranchos de muitos médicos. O nome da medicação parecia que estava escrita num caderno de caligrafia.

Eis que a balconista perguntou:

- Há quanto tempo a pessoa toma este remédio.

Diante da pergunta inusitada, já atenta as reações da atendente, respondeu calmamente:

- Há vinte anos.

Os olhos da moça quase saltaram de órbita, mesmo estando diante de um computador, na farmácia haviam cinco computadores em série, todos aptos a executar a mesma função, dirigiu-se ao computador há três metros à sua direita, parou, pensou, voltou pulando o computador onde atendia e foi a outro computador a esquerda, onde com ar desolado olhava a tela.

A professora imediatamente lembrou de Francisca, a moça que a ajudava, onde tudo para ela era obra do demônio e a apavorava.

- Devia frequentar a mesma igreja, pensou consigo.

- Um ou duas caixas perguntou a atendente, com certo ar de aflição.

- Só uma, como está escrito em letras e números, respondeu a professora, já impressionada como descontrole da moça.

A mesma dirigiu-se ao atendente, pegou a chave do cofre onde ficam tais medicações e foi resoluta para os fundos do estabelecimento.

Em um tempo muito breve, insuficiente para abrir o cofre, a mesma voltou, e tremula falou:

- Não vou poder vender, não tem o remédio, nem genéricos, devolveu a receita e sumiu para os fundos da farmácia.

A professora foi comprar na outra farmácia há cinquenta metros, inconformada de como pode se admitir uma pessoa incapacitada para um serviço tão sério.

Comprou o remédio sem nenhum problema no outro estabelecimento.

 

20/04/15

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