sábado, 3 de dezembro de 2011

CHUVA FRIA






Da janela olho a rua.

Noite muito escura,

Chuva fria... Um ventinho...

Sob o poste: casal se aventura

Abraçado, unido...  Juntinhos

Estão andando na noite sem lua.



Ao vento, um guarda chuva,

Uníssonos caminham

Na cadência, em harmonia

Na noite fria. Amores os alinham

Não importando a chuva fria

Nem o ricochetear das brumas.

                                                              

Aonde vão? Certamente amar!

Exala paixão. A chuva fria

A pé, na era dos automóveis,

Reluzem doçura e alegria

No frio, na chuva. Os seres móveis

Da noite, vão ao amor se abrigar.



04/12/2011










SÓ [ladainha]





Só,

Esperando,

Esperando alguém,

Alguém que não vem.

Mas continuo a esperar,

Esperar,

Esperando...

Por quê?

Se foi tudo promessa vã.

Se não existe você.

Esperando o quê?

Por quê?

Você!





1968




PROBLEMA.


Se ando a noite esperando o alvorecer,

Se corro ao dia alguma coisa buscando,

Não me culpes, pois busco conhecer

Esta paixão que em nós esta brilhando.



Aprendi na escola escrever e ler

E foi nos problemas equacionados,

Que triunfante, sem nunca esmorecer,

Achei sempre o número procurado.



Mas este que ora se apresenta, intriga,

Pois nos livros não está catalogado.

Nem A de amor ou R de rapariga...



Sabe! A noite penso onde está marcado.

Pois este problema tão fascinante

Deveria se matéria de estudante.





28?01/1969








sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

UM INSTANTE.





Vontade

De andar a cavalo

Rumo ao poente

Em galope ligeiro

Para não ver o sol morrer.

Sem saber

Se amanhã haverá novo sol

Segurarei o dia presente,

Não importando as incertezas,

Não importando as indecisões,

Terei sempre o sol

Acalentando o meu ser

No meu agora

Que me dá prazer.

OS PORQUÊS.





Por que ela

Se poderia ser outra?

Por que outra

Se poderia ser ela?



Por que tenho muito

Se sou vazio?

Por que sou vazio

Se tenho muito?



Por que sorrir

Se posso chorar?

Pó que chorar

Se posso sorrir?



Por que calo

Se posso falar?

Por que falo

Se posso calar?



Sim...

Não...

Talvez...

Quem sabe?

Eu, dono de mim

Mesmo não sei...

Quem saberá?

Deus?

Você?

Mas quem és?

Também não sei...

Quem sabe?

Por que sabe

Se eu não sei?





03/1970




quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

pensamento - sociedade -








PENSAMENTO sociedade





O modelo que a sociedade impõe,

Ilude o homem.

Foi feito para dominá-lo,

Mas ele é que se julga dominador.


OLHANDO O BELO!










Se todos os predicados

Que enchem teu ser de graça

Fosse um dia acumulados

Deslumbraria a quem passa

Por ele buscando o belo.



Se a cor de teu sorriso

Fosse no céu emoldurada

Transferiria o paraíso

E os anjos de forma encantada

Lá iriam cultuar o belo.



Quando eu, ébrio de amor

Olho em ti o tom musicado

Na dança de vida e flor.

Meu ser sorve encantado

A luz de chegar ao belo.



02/09/1968
















quarta-feira, 30 de novembro de 2011

individualismo






Todos somos mestres e atores

Atores únicos de uma vida,

Loucos, corremos os arredores

Da busca frenética, perdida.



Dirigindo a si mesmo. Sabores

De alegria não correspondida.

Sentimo-nos perdidos. São dores

Destes frios desencontros da vida.



Como posso eu, não ser errante

Se cada ator participante

Fala apenas sua própria voz.



E o enredo então desfigurante

Destoa o ato, sempre gritante,

Só falando Eu. Nunca o Nós.





30/11/2011










cafona.- pensamentos









Fazer aeróbica e ficar com cara de bobo.

Usar Mondaeine submarino para morar no interior.

Fazer festa caipira em fazenda retirada.

Montar uma lareira no sertão do Ceará.


Dizer: EU TE AMO.


-Sou cafona do interior.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

PENSAMENTO: O SINTOMA.





Nunca sorria de um sintoma

Sempre é de alguém.

Não o desdenhe,

Tem dono,

Seu mundo é seu sintoma.

É tão íntimo

Que qualquer menos-prezo

O machucara.

Lembre-se:

O ser ama seu sintoma.




pensar o universo.









Estou tomando ar

Na sombra meditativa

Da noite.



Quantos sonhos pode haver

Por detrás da escuridão

Das trevas?



Quantos trenós correm

Cantando os planos azuis

Das estrelas?



Quantas luzes existem

Por entre as tonalidades

Do firmamento?



Haja o céu

Com suas estrelas

E haverá sonhos.



Cada vez que fitar

O negro

Com aquele quê sutil de azulado

Descansar-se-ão nossas vistas,

No infinito das estrelas.



Cada vez que sorrir o universo

Será um sorriso de mulher

Cantando belezas.





20/04/1971




segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ÚLTIMOS CANTOS DA ADOLESCÊNCIA.





Caminha...

Fátuo caminha,

Caminha nas ondas

No verde,

No azul...



Fátuo

Fácil

Folga

Firme

Fortalecido.



Tudo é obvio,

O mundo lhe é uma caixa

Completamente oca

Onde os sonhos são acumulados.

Fátuo põe sonhos

Em camadas

Eles são poeiras

Sonhos poeirentos

Em arestas de sol...

Eloqüentes!

Inventos comoventes!



E é sonho

Sobre sonho

Superpostos

Sobrepostos

Dispostos...



Sobre o chão

Cor de ouro,

Feito em ouro

Adubado em prata

Levanta-se de platina

O pomar com folhas de ônix,

Frutos de madrepérolas...

E o chão é viçoso!



E plantas

Principiam plantas

Principescas

Grotescas...



E a estrada é pop,

Nunca leva...

Para que levar?

Seu fim se alterna

Seu pop se move

Ora indo a castelos de biscoitos,

Ora a prostíbulos puros...

Os locais alternados

Fátuos fins

Do jovem Fátuo.



No portal prostibular

Permanece prostituta exemplar.

Fátuo ama a prostituta.



O castelo

Cravado na rocha

Cravejado no vale

Que é de cristal

É sonho e vida.



O pomar

Perfeito

Perfumado

Florido

Tem frutos doces...



A caixa poeirenta é reino mutável.



Cai poeira

Capoeira agitada

Confronto gigante

A caixa aumenta...



Há uma sinhá

Pega as mãos de Fátuo

Entre poeiras

No meio da caixa

O encaminha...



A prostituta é amor

Compra colorida

Dentro da caixa

Orienta

É outra aresta

Outra cor...



O mini reino

De fátuo sonhante

Começa a crescer...

Muito cresce...

As mãos da sinhá

Os beijos da meretriz

Se embaçam na poeira.

Fátuo corre muito

O dia todo

Não percorre

Toda caixa...



O reino é grande

Grande ilha

Cercado de mar,

O mar é vermelho.

Vermelho!

É fogo!

O vermelho do mar

Num dia vermelho

Fogo

Fogueira

Falsa

Feiticeira...



Sinhá queima a mão

Cai a marionete.

Fátuo é no fogo!

As chamas o cercam

Os gritos correm

Ninguém os escuta

As chamas avançam

O fogo se alastra

Consome.



Os beijos da prostituta

Feitos de álcool

O fogo atinge.

Eles não mais existem.



Prostituta e sinhá

Viram poeira

O vento as leva.



Nadando nas chamas

Surgem escorpiões                        



Fátuo corre

Escorpiões correm

A carne de Fátuo

Que era azul

Recebe mordida.



Castelo,

Árvores

Pássaros

Sonhos viram aranhas

Mordem o menino azul

Necrosam em cada mordida

Caem pedaços

Viram poeira

Que o vento leva.



Fátuo chora...

As lágrimas viram poeira

O vento leva...

Fátuo chora

Chora poeira

Ele é poeira

Que o vento leva.





21/10/1970     Apresentada no GETAM