sexta-feira, 13 de novembro de 2015

PRESA E PREDADOR

PRESA E PREDADOR


Meditava no terraço de meu apartamento, fica no quarto andar e dá visão as avenidas, a mata Atlântica ao longe, uma série de edifícios e alguns telhados baixando o olhar. Súbito duas aves apareceram na cobertura de telhas. Uma cinza e uma branca. Por um momento acreditei que se tratasse de uma copula. Olhei com mais atenção diante do fato inusitado, dada a agitação e o barulho.
 Vi tratar-se de um gavião cinza e uma linda pomba, muito branca. Era uma luta de vida e morte. Pensei gritar para espantar o agressor, por certo, como era muito próximo, o espantaria e daria oportunidade de fuga para a pobre presa. Não o fiz. Pela minha cabeça passaram memórias do porco que gritou por longo tempo em casa de meu tio na comemoração de Natal; da galinha que eu olhava com tenra idade e, o vizinho, dono da mesma, destroncou o pescoço deixando-a estrebuchando no chão até a morte. O predador tinha fome como nós, era a regra natural.
Continuei, com desagrado e curiosidade, a observar o telhado e as duas aves. Os pés do gavião sufocavam o pescoço da pobre criatura que tentava respirar, e com a cabeça ereta ora olhava ao redor, certamente para se assegurar que não seria atacado por outra ave maior, a seguir olhava a ave que se debatia. Assim o fez até que esta silenciou e, calmamente usando os pés confirmou o abate.
Lembrei então de Viveiros de Castro em seu livro Metafisica Canibais que havia acabado de ler há poucos dias. Citando os Tupinambás, porém estendendo a todos Povos das Américas, explica que as relações entre humanos é de presa predador. O objetivo da vida é o roubo, inclusive da existência. Não há outra opção.
O predador não tem amor nem raiva, apenas objetivo como meu tio e o leitão de Natal onde vi a morte em minha infância. O desejo final é o que move o ato, sem nenhum afeto.
Já a presa submetida tem apenas duas opções: fugir, se der tempo, ou se submeter a morte asfixiada. A Regra Tupinambá, numa filosofia séculos, anterior a Hegel e sua dialética Senhor e Escravo já estava anotada nas Américas com a observação da Natureza e suas metáforas ao ser humano.
Viver é tentar o equilíbrio, caso contrário a regra do Planeta, esta que não entendemos e achamos injusta, prevalecerá. Seremos presa ou predador, conforme o rumo que tomarmos.

13/11/15
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