sábado, 2 de junho de 2012

RIMEIRO AMOR

PRIMEIRO AMOR


Falsifiquei sonhos para ser feliz,
Foi só por momentos, foi sem pensar,
Iludi-me com o ditado que diz:
Viver toda a vida, eternamente amar.

Jovem aguerrido, ainda um aprendiz,
Fiz lindos versos, só para te falar:
Tudo me desfaço, pois até me desfiz,
De eu criança que trouxe a me acompanhar.

 O mundo correndo em sua força motriz
Do viver, sofrer, perder até apanhar,
Se até da loucura escapei, foi um triz,
Outras vezes tive momentos de amar.

 Todos os amores já foram embora
Nos meus sonhos sei: és só tu que me adoras.

03//06/2012
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COMO CAMINHAR


COMO CAMINHAR




Anderson recusou uma promoção. Ganharia mais 20 por cento ao mês. O comentário geral é que era “folgado” e não queria fazer nada.

Na verdade era um rapaz calmo, não fazia nada correndo. Trabalhava em um pequeno Hospital onde se executavam procedimentos simples. No estabelecimento estavam empregados apenas sete funcionários administrativos, fora os da área médica.

Era Office boy, quase não tinha serviço; poucas correspondências e uma ida apenas aos bancos, sempre de rápida execução. A promoção oferecida era trabalhar interno, preenchendo guias e fazendo a somatória das cobranças; a partir daí encaminharia a outra pessoa que completaria a tarefa. Era um serviço simples, de pouca responsabilidade, já que havia uma conferencia posterior. Pouco alteraria no seu tempo de atuação. Mas não aceitou resoluto.

Dizer que era incapacitado para o trabalho seria inverdade. Estava no momento careca, tendo passado numa Faculdade de Ensino Profissionalizante e, utilizava com conhecimento a computação; na época esta estava em fase de implantação e expansão. O Hospital estava ainda iniciando esta área.

Também não era acomodado: como torcedor fanático do Corinthians, ficara retido em Porto Alegre por um dia, onde fora assistir um jogo, devido a uma briga. A viagem foi de ônibus e a empolgação e agressividade das torcidas de futebol é sobejamente conhecida.

Não necessitar de dinheiro, mesmo pouco, também não era o caso; vinha de família de poucas posses e lutava com sacrifício.

Apesar da acusação geral de louco, preguiçoso e outros atributos endereçados, tentei entender. Creio que ele estava certo.

Todo ser humano nasce potencialmente capaz de se tornar líder e se adaptar a situações de grandes adversidades. Creio que Liderança e Adaptação são condições básicas para a vida e sobrevivência das espécies.  Sem este atributo a espécie teria desaparecido da face do planeta. Enfrentou as mudanças climáticas com dizimação gigantesca; se refizeram as populações severamente castigadas por pestes, outros animais predadores e, com mais gravidade ainda por outros homens, nas guerras de brutalidade total.

Se não houvesse adaptabilidade e, se entre os elementos remanescentes das tragédias não houvesse elementos capazes de liderar, estas comunidades teriam desaparecido. Com a repetição de eventos, a espécie também desapareceria.  

Voltando ao jovem Anderson, este se encontrava num momento de decisão e adaptação. Com a maior idade pode acompanhar seu time de futebol, viajar, torcer, passar frio; ou seja, tornar-se realmente um torcedor e não apenas acompanhar pela televisão. Fazia parte de sua adaptação social, a formação de um grupo próprio.

O fato de entrar numa faculdade estava direcionando seu objetivo de liderança, em três anos teria que iniciar uma nova profissão, e traçar um objetivo de destaque social, que possivelmente sua família não possuía.

Aceitar uma nova função, mesmo simples era abrir novo campo de ação. Este desvio de objetivo, que proporcionaria um ganho material de cento e cinquenta reais por mês, o que não era nenhuma fortuna, daria apenas para satisfazer pequenos gostos, sobrecarregaria seu dia e poderia atrapalhar uma rota já definida.

Este:- Não! Ou intuído ou orientado por alguém mais experiente, mostrou maturidade. A promoção com certeza atrapalharia a etapa já definida, por ser paralela; outro foco, portanto.

É bom lembrar que não nascemos andando. Primeiro engatinhamos, damos passos cambaleantes a seguir. Depois andamos inseguros com muitos tombos, para só depois andar firme. Correr só como diversão ou fuga, Não se exige que se corra no dia a dia, e quem o faz está cometendo um erro. A vida tem suas propriedades, mas todas tem um tempo correto para se desenvolverem.

Creio que pelo bom senso, Anderson deve ter tido sucesso no seu objetivo.



02/06/12


A CAIXA


A CAIXA





Quero comprar

Uma caixa de eco

Para falar comigo mesmo.

E, num peteleco,

Mandar para o passado

A solidão...



Quero comprar

Uma caixa de ressonância

E uma chave.

E quando gritar:- Solidão!

No vácuo, quando esta retornar.

Fechar a porta da caixa.



Quero comprar

Um dispositivo

Que isole eu de mim,

Para que a solidão

Tenha fim.





22/01/1992

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sexta-feira, 1 de junho de 2012

A CASA DE TIA TILA


A CASA DE TIA TILA






Tia Tila comprara uma casa. Ao invés de alegria demonstrava preocupação. Era casada com Tio Eugenio, um espanhol. Casara tarde em época que não mais podia ter filhos. Era a irmã mais velha de minha mãe. Mais de vinte anos de diferença, minha mãe nasceu com minha avó em idade de menopausa.  

Tinha vindo de Araraquara, quando da aposentadoria de meu avô José da Costa Navega, um português, ferroviário da Araraquarense. Veio ela, meu tio Nelson e minha tia Alice, juntamente com o Vô José. Como os três irmãos casaram e tiveram filhos, ela e tio Eugenio ficaram com o pai.

A aposentadoria ajudava muito, e meu tio trabalhava há anos na São Paulo Alpargatas. Eram muito econômicos. Foi o único lugar que vi guardar dinheiro no pote de açúcar como nos filmes. Foi num dia que a visitávamos e, pegando o dinheiro para compara pão, foi até o pote de açúcar e pegou um saquinho de dinheiro. Era o dinheiro da despesa diária, o salário praticamente ia para a poupança.

A preocupação da tia Tila era com o peso dos parentes. Como gostasse de comer bastante e era gorda, media a beleza dos irmãos e sobrinhos pela quantidade de gordura. Quanto mais cheinho, mais bonito ela achava; magro era feio e dizia direto:- Tão magrinho:- você está feio!

Quanto a casa, morava de aluguel no Bairro do Tatuapé, na Rua Francisco Marengo. Era começa dos anos 50, a rua estava abrindo e era habitada pela classe operária. A casa ficava numa vilinha, costume da época, onde existiam casas a direita e a esquerda formando uma ruela e a dela era a última, frontal a rua. Casas de dois quartos, sala, uma pequena cozinha e um mínimo banheiro, já interno. Único problema é que ao invés de uma grande área de circulação, a viela era estreita e uma porta quase se encostava à do outro lado, mas ela não estava nem um pouco preocupada com isso.

Sabendo da poupança e preocupado com as chuvas tio Nelson insistiu para parar de pagar aluguel e comprar num lugar mais urbanizado. A casa não inundava, mas a região era muito rica em córregos que desembocavam no Rio Aricanduva. Na época de chuvas estes córregos formavam grandes enxurradas e era comum pessoa morrerem carregadas por ela.

Muitas das ligações de um lugar a outro era feita por pequenas pontes de madeira rente ao solo.

Localizada a casa apropriada, a muito contra gosto meus dois tios a compraram. Após vinte dias, sem obtermos informações fomos até tia Alice que morava próximo, morava na Vila Carrão, saber da mudança e da necessidade do vô e do casal.

Tia Alice falou:

- Estão na mesma casa.

- Como? Mas não compraram uma nova? Indagou minha mãe.

- Compraram e depois dês compraram.

- Devolveram?

- Sim! Quando o Eugenio foi à Caixa e, não tinha quase mais nada, ficou nervoso e a Tila também. Não dormiram uma semana pensando que não tinham dinheiro na poupança. Desfizeram o negócio.

- Mas tinham dado o dinheiro?

- Deu sim, o vendedor devolveu menos, segurou uma parte de multa, eles não falam quanto, mas aceitaram e colocaram o dinheiro de novo na poupança.

- E como eles estão? Arrematou preocupada minha mãe.

- Falaram que estão muito bem e, agora conseguem dormir a noite.

Encerrando, moraram na casa até a morte de meu avô, dez anos depois e, quando da aposentadoria do meu tio mudaram-se para Araraquara.



01/06/12

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O VELHO E A VIDA


O VELHO E A VIDA


Balsa de Bertioga




Seus passos cambaleantes pouco se elevam do chão. As pernas são tortas e muito magras. O calção sobra pano, pois as coxas emagrecidas não o preenche. Denota muita idade; o que se confirma no queixo com seu osso saliente, coberto de barba branca não cuidada, da mesma cor dos cabelos e, realça o óculo caído que não se acomoda ao nariz.

Ele caminha resoluto, pronto a resolver seus problemas. Às vezes, alguma pedra ou irregularidade do caminho causa um leve desequilíbrio. Caminha resoluto. Caminha o velho para onde?

A garoa vai caindo, é época de chuvas. A garça isolada voa no tempo, quem sabe para alimentar sua cria? Os quero-queros sempre andando em trio estão estáticos olhando o ambiente. Uma isolada gaivota, perdida de seu bando, desajeitada mergulha para pegar seu peixe e some na mata.

O velho caiçara olha. Olha e anda. Resoluto ainda descobre a vida. A vida não tem idade para descobertas. Ele olha e com ar que denota inteligência, apesar da rigidez facial da idade. Analisa e compara.

Por certo, coisas novas lhe suscitam os amigos que já partiram; os amores que voaram para o infinito, as tristezas e alegrias passageiras. Mas certamente coisas novas vislumbram seu olhar, e novo objetivo o faz caminhar confiante. O humano se adapta a todas as fases e todos os percalços que forem impostos; o caminhar mostra que ainda descortina um mundo, onde novos objetos e novas paisagens ou, novos objetos em velhas paisagens se apresentam. Os objetos mudam e se transformam conforme cada necessidade, nunca o conhecerá por inteiro, sempre há algo novo a ser realçado. Nunca é completo. O objeto muda como a vida.

A idade não acaba o mundo, apenas enrijece a pele, encurta a visão e diminui o caminhar, mas o velho vê a vida. Vê os objetos com suas novas utilidades e, nova poesia já liricamente atualizada. O sentimento de viver e a necessidade de descobrir o mundo continuam inteiros, pois ninguém consegue imaginar a própria morte. Para ele a morte é sempre um acontecimento certo, mas de caráter imprevisível, jamais com data determinada.

O velho caminha para seu objetivo. Caminha firme, pois seu viver é este e está correto. O mundo está adequado para ele.



01/06/12

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O ANDARILHO


O ANDARILHO



Eram dias nebulosos

De borrasca,

Neblina,

Escaramuças.



Eram dias odiosos

De guerra,

Torpor,

Angústia.



Eram dias pavorosos

Sem cadência,

Ritmo,

Música.



Saiu então o desespero

Buscando as plagas da alegria,

Sisudo,

Desconfiado

De mochila e bengala.



Foi do equador aos trópicos

Sentiu o sol do meio-dia

As moscas,

A chuva,

O calor,

As feras.

-Que mundo problemático este

Onde em todo canto há angústia!



Subiu pelo globo:

Este lhe era íngreme

Penoso,

Aterrador,

Belicoso:

A mata amazônica [ escura ]

A jângal africana    [ atroz ]

Os diamantes mineiros  [vidros bobos ]

A mulher taitiana  [ indígena ]

O homem britânico  [ afeminado ]

Os Beatles suecos [ selvagens ]

Os hippies nova-iorquinos  [ bobos ]

Os prédios de São Paulo  [tijolos ]

As praias de Copacabana  [ areia ]

A terra dos Incas  [ deserto ]

Os Grandes Lagos [água ]

O rio Amazonas  [ monótono ]

As aves canoras  [ sem graça]

No fim da jornada,

No circulo polar

No ártico,

Bem no marco

Descobriu que o gelo era gelado

E, era problema.

A vida, alias, era um problema.

E, na imagem distorcida do gelo,

Gelado.

O desespero,

Desesperado

Na formação de sua própria imagem,

Viu em cada fração de si mesmo,

Nas cores esquisitas da refração solar,

Que ele era o problema.





12/10/1970

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quinta-feira, 31 de maio de 2012

AFETOS


AFETOS




Afetos,

Não são palavras [Podem ser distorcidas]

Não é o olhar [Pode ser reprovador]

Não são gestos [Podem ser agressivos]

Afetos são minúsculas partículas

Parecem até borboletas

Que penetram no lugar secreto do ser

Onde se colore o viver.



31/05//2012

UMA POESIA


UMA POESIA






Vazio...

Eu andava no nada

Procurando vida no vácuo.

Do espaço...

Aquele espaço desconhecido,

Que existe no Universo,

Veio uma luz!

Brilhante, formou tua imagem.

Percebi que esta era a poesia

Que nos unia.



31/05/12


MANHÃ CHUVOSA NA BALSA


MANHÃ CHUVOSA NA BALSA.




As garças em bando se encolhem no telhado do galpão da peixaria. Os urubus estáticos nas palmeiras são estátuas, não tentam voar. Sumiram os mergulhões juntamente com as gaivotas.

O céu cinza faz sobre-Tom com as águas escuras do dia chuvoso.

Se o tempo normalmente para no Canal de Bertioga, agora tudo está parado.

Sentada, imóvel como o que a circunda, uma bela moça tem as mãos cruzadas no cabo do guarda-chuva, que se apoia ao chão. Os cabelos lhes cobrem parcialmente o rosto e os olhos semicerrados completam a expressão facial do sonhar.

O que sonha a moça bonita na manhã cinzenta?

Está em busca de sonhos ou deixou-os em casa, na longa caminhada a pé na terra molhada até a balsa?

Por que buscamos e abandonamos os sonhos e fantasias?

A vida é buscar. Mas temos que agarrar com toda força o pouco que conseguimos, para que não virem apenas sonhos, nublados e tristes.

Sonha a bela moça. Os cabelos caindo encobrindo parcialmente a face, juntamente com o cabo do guarda chuva, se uniu para ocultar o amor abandonado no cinza e, não pode este caminhar no mundo parado. Está estático como as garças no telhado.

Para a balsa. Dou partida no carro e agrido a paisagem.



31/05/12

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quarta-feira, 30 de maio de 2012

O CONTRA RELATÓRIO


O CONTRA RELATÓRIO




Estou me aposentando aos poucos. Atualmente só trabalho três dias por semana.

Resolvi, já que tenho tempo: colocar um relógio em cada cômodo para que possa olha-lo em meu tempo vago.

Sim! Um relógio em cada cômodo, repetindo. A casa tem sete cômodos e o relógio está chegando barato da China.

Não dá para aposentar os sete dias de uma vez. Faltará dinheiro. Mas aos poucos cumpro meu objetivo. Vou fazer um relatório.

Todo trabalho tem um relatório. Quantas consultas têm de fazer por hora, quantos minutos tem uma consulta. Quantos minutos são toleráveis chegar atrasado. Como sabem sou médico, mas, todas as profissões têm exigências parecidas. Na Medicina atualmente as imposições vem da OMS, sim um Órgão da ONU.

Quero ainda avaliar quanto tempo passei resolvendo problemas de contas, fornecedores, artigos com defeitos, bancos. Ah! Estes são terríveis.

Meu ante relatório cientifico é para avaliar quanto à sociedade me roubou de amor, paz e poesia com suas imposições.

Será tão cientifico quanto ao dos burocratas apontadores.

Agora são vinte e três horas e vinte e cinco minutos e passei o dia lendo e escrevendo.  Lançarei na coluna Paz de Espírito.

Boa Noite.

30/05/2012

A RELIGIOSA


A RELIGIOSA




Isabel estava preocupada com Giseli, desconfiava que estivesse dando em cima de Gustavo, seu marido. Ele sempre teve fama de mulherengo e Giseli era flor que não se cheire, sempre arrumando encrencas e dando barracos.

Pensava ela: - mais seis meses, limpando o nome saímos deste cortiço, afinal foram dois anos vivendo de bicos e favores. Mas agora Eu e Guga, empregados vamos, se Deus quiser mudar realmente para uma casa e sair deste muquifo.

A casa que Isabel morava era na verdade um quarto. Genésio, um agiota da região fez um longo barracão num terreno estreito, e o dividiu em quartos que mal cabia uma mesa, uma cama e um armário. A cozinha e o banheiro ficaram para fora economizando encanamento. As divisões eram em meio tijolo, de modo que tudo que se falava era ouvido pelos vizinhos. Cada quarto tinha uma história e uma família e, sem privacidade.

Fim de semana era um horror, sempre tinha um casal brigando feio, a molecada fazendo estardalhaço e tinha gente que ainda conseguia ter uns vira-latas que latiam e avançavam; mas como estavam refazendo vida, tinham que aguentar. Só a incomodava a tal de Giseli.

Dona Gení era religiosa, mãe de Giseli da qual não parecia dar conta, a filha era estúpida com a mesma; mas era muito querida pelos moradores. Sempre se apressava para apaziguar um casal, participava dos atendimentos aos favelados da comunidade que ficava no final do quarteirão. Isabel até falou com ela de sua preocupação de Gustavo e sua filha, mas foi tranquilizada:

- Eu nunca vi nada entre os dois.

Gustavo saia duas horas antes e chegava também antes em casa. Isabel entrava e saia mais tarde da tecelagem onde trabalhava. O marido duas horas solto, como ela dizia: a preocupava.

Certo dia queimou o transformador da indústria. Saiu antes. Passou como de costume na padaria no ponto final do ônibus, para comprar pão e leite.

 Não se comia em casa durante a semana, a firma de ambos fornecia as refeições. Lembrou-se de olhar nos dois botecos do caminho, para ver se o marido não estava batendo papo. Foi para casa com um pressentimento ruim. Lá chegando o marido não estava, mas mochila estava em cima da mesa. Tinha ido a algum lugar. Pensou:

- Vou até a Izilda ver se vieram os cremes que encomendei. Esta moça vivia de vender a domicilio, vendia cremes, perfumes, roupa intima, enfim o que fosse possível. Morava três casas acima da dona Gení. Para lá se dirigiu.

Passando em frente à casa de Dona Gení, ouviu um risinho de Giseli e a seguir uma voz de homem, parecia de Gustavo. Aproximou-se da parede, era dele mesmo. Nervosa deu um tranco na porta e, esta se abriu.

Lá estavam seu marido e a Gisele nus na cama. Atordoada olhou em volta para ver o que fazia, quando se deparou com Dona Gení imóvel entre o guarda-roupa e a parede onde encostava a cabeça, realmente não vendo nada.



30/05/2012






CLARÃO DA MEIA NOITE


CLARÃO DA MEIA NOITE.



No clarão da meia noite

Meia vida se jogou.

Passou por todos os tormentos

Do dia que se findou,

Chegou ao firmamento

No dia que não raiou.



No clarão da meia noite

Meia vida se formou,

Sozinha, sem forma, isolada,

Num espaço perdida, sem nada,

Ela ainda não vingou.



No clarão da meia noite

Súbito novo traço se formou,

E outra vida vingou.



15/01/1994

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terça-feira, 29 de maio de 2012

CURTO CIRCUITO


CURTO CIRCUITO




Nosso amor é um curto circuito,

Um efeito visual

Na camada de basalto.



Ondas que se cruzam.

Estouram gerando ondas

Que dizemos material.



Somos apenas o virtual

Eu e tu

Com tempo certo.



Findo o magnetismo

Dizemos fim.



Sendo assim

Que tenha cores, às ondas,

No curto circuito

Eu e tu.

Antes do fim!



29/05/12

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INCERTEZA


Incerteza





Não foi preciso dizer nada.

Você veio,

Eu sorri.

Tudo se fez bonito.

Nada foi dito,

Tudo foi sentido:

Certeza do amor,

Espera do constante.



A espera.

Novamente você veio.

Nada foi dito,

Tudo foi sentido.

No inicio a esperança,

No final a certeza.

A certeza do final,

Certeza do impossível.





Sem data

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GATO QUE LAMBE


GATO QUE LAMBE




Hoje estava na Agencia do Correio; manhã de terça feira. Apenas três pessoas a minha frente, pensei comigo: - Vai ser rápido!

Sempre é um problema ir ao correio pela manhã num dia de semana. Se tiver motoqueiros é uma quantidade enorme de correspondências, quando se trata de pessoas comuns, sempre há algum detalhe a completar. Não foi diferente.

A senhora que estava sendo atendida, após a emissão de todos comprovantes, abandonou o caixa e foi ao carro, estacionado no Pet Shop que faz vizinhança com a Agencia para pegar a carteira e efetuar o pagamento. O fez contando moedas.

A cliente seguinte, postando uma carta registrada, recebeu a informação que o CEP não conferia. Saiu com a seguinte conclusão:

- Coloquei o CEP da cidade, lá eles se viram!

A balconista, com um sorriso, [fiquei pensando: como podia sorrir trabalhando ali?] consultou o computador e após notar que o nome de rua que estava com grafia errada, passou o branquinho corretor e calmamente fez a alteração devida.

A moça que estava a minha frente, com duas caixas grandes corretamente embaladas, começou a ser atendida. Pediu para pesar e calcular cada uma, para ver se o dinheiro daria para mandar uma, as duas ou não mandar. Eu reparava que a caixa ainda sorria.

Nesta hora senti uma lambida no calcanhar. Não tinha ouvido nenhum barulho ou aproximação, antes de olhar para trás me conscientizei onde estava. Olhei, era uma gata amarela estática atrás de mim.

Por hábito olhei para as mãos e bolsos, meu cachorro me pede guloseimas assim. [Tem espírito de gordo, minha esposa é que diz].

 Só tinha o envelope que postaria. Sem saber como agir, me dirigi ao felino, era uma gata, tinha uma coleirinha feminina e falei:

- Não tenho nada para te dar. Pensei: Lacan, meu cãozinho entende.

A moça do correio, ainda sorrindo falou:

- Tem sim! Ele quer carinho, vem direto aqui.

Desajeitado voltei-me para ver o que fazia, mas uma senhora que estava atrás na fila, já estava providenciando a satisfação do desejo da felinazinha. A seguir, a gatinha que lambia fez um alongamento na parede, para demonstrar satisfação e foi sentar-se a mureta que faz divisa com o Pet Shop.

Quem será que mudou: o humano ou os animais? Fiz-me esta pergunta enquanto era atendido pela sorridente balconista.

29/05/12






segunda-feira, 28 de maio de 2012

O HOMEM ESTÁTUA


O HOMEM ESTÁTUA




Tinha um homem estátua no meio do jardim vazio. Apenas um senhor de cabelos brancos e um rapaz com cabelo moicano, imitando o jogador de futebol Neimar olhavam, sem entender nada. Era quatro horas da tarde, o sol estava quente e, lá estava embaixo do sol, todo pintado de prateado um provável homem, sem nenhum movimento. Realmente estático.

Estamos fora de temporada de férias, o movimento é muito pequeno. Naquele horário passam no máximo vinte pessoas entre o embarque e o desembarque. Achei estranho.

A balsa, só tem uma para a travessia com capacidade de doze carros, acabara de sair. Tinha um carro a minha frente e mais ninguém. Não coubemos naquela viagem. Não ligo. A espera olhando o mar, a mata ao fundo e as aves aquáticas me é relaxante.

Não estava lá nem a vendedora de bilhetes, que nunca conseguiu me vender nenhum; acredito que nossa vida tem equilíbrio e se ganhar a Mega Sena o desequilíbrio será automático, prefiro ficar como sou. Ela me cumprimenta sorrindo quando esta trabalhando, chama-me de amigo e, não mais força a venda, Também a pedinte com evidente retardo mental, a quem sempre dou uma moeda, percebeu que àquela hora não era apropriada e, não está andando de carro em carro.

E o homem estátua: era homem, não tinha seios e tinha postura masculina, permanecia imóvel, com o idoso e o sósia do Neimar olhando.

A balsa em Bertioga tem dois acessos, o de automóveis, isolado por alambrados, em direção ao atracadouro; à direita, atrás da contenção tem dois quiosques, e a seguir segue a rua com as bancas de peixe.  Já ao lado esquerdo temos um imenso jardim que segue arborizado até o Forte São João. É uma distancia de perto de um quilometro. A estátua estava parada exatamente no lugar sem arvores, onde fica o acesso de pedestres.

O movimento é do seguinte modo: quem vai embarcar fica esperando perto do portão, e entra após os carros; já o desembarque as pessoas saem antes, os carros esperam até estas chegarem ao Jardim, para seguir viagem. Ele se posicionou no meio do caminho dos pedestres com a face virada para a rua. Sua visão se limitava a uma garagem, um posto de gasolina e uma loja.

Duas senhoras e quatro crianças passaram pelo local. Pararam ao lado dos dois observadores. A mãe mandou uma criança colocar uma moeda no pote, também prateado que foi colocado ao lado do banquinho prateado onde ficava.  Ele não se moveu.

 Para ver se mover, a mãe mandou a menina colocar mais uma moedinha. Bom resultado. Em movimentos de estatua, com ranger de metal com metal, não sei de onde vinha, agradeceu, estendeu a mão para a menina, pediu sua mão e a beijou carinhosamente. Todos foram embora e ficou só.

Foi ai que desceu, sentou e, tirou o celular do bolso olhando o visor. Creio que recebeu uma mensagem. A seguir ligou e começou a conversar até chegar à balsa.

Subiu no banquinho e se imobilizou em posição quase igual a anterior.

Vinte minutos após desceu muito pouca gente da embarcação. Todos olharam e passaram direto, a não ser uma moça que foi cutucar o tênis prateado, creio que para ver se era de metal.

O carro da frente entrou na balsa e o segui pensando:

- O que faz o amor!



28/05/12




DESAFIO


DESAFIO





No desfiladeiro da emboscada

Vão os dias caminhando.

As pedras desafiam os dias.

As rochas em posição de bote

Perscrutam a vida em posição de guerra.



Um...

Dois...

Um...

Dois...

Vento sopra.

Nuvens correm.

Cai poeira.

Poeira das pedras.

Levanta poeira

Dos pés que andam.



Um...

Dois...

Um...

Dois...

Vai!

Vem!

Continuam os dias andando,

E o desfiladeiro da emboscada

Tremendo em ininterrupto desafio.





27/09/1970

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